
Soluções baseadas na natureza na formação de corredor ecológico em Pindamonhangaba, São Paulo, Brasil
Nativa, Sinop, v. 10, n. 2, p. 250-258, 2022.
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que visem reeducar a população e mitigar os efeitos das
mudanças do clima na paisagem urbana (SILVA et al., 2011).
Além disso, a arborização urbana planejada reduz os danos
dos ventos fortes e traz o conforto térmico, reduz a poluição
do ar e a poluição sonora (ZANLORENZI; SILVA FILHO,
2018) e melhora a conservação da biodiversidade (DUARTE
et al., 2017).
A formação do corredor ecológico no bairro Residencial
Lessa também pode contribuir para melhorar a qualificação
de Pindamonhangaba no Programa Município VerdeAzul
(PMVA). Lançado em 2007, pelo Governo do Estado de São
Paulo, por intermédio da Secretaria de Estado do Meio
Ambiente, o PMVA tem o propósito de medir e apoiar a
eficiência da gestão ambiental (SIMA, 2021). No quesito
arborização urbana o município obteve nota 5.07 (a nota
máxima é 100), ocupando o 64º dentre as cidades que se
destacaram por preservar o meio ambiente urbano. Porém,
com nota zero para este quesito e nota 10.56 para situação
geral em 2020, Pindamonhangaba passou a ocupar o 320º
lugar dentre os municípios paulistas que participam deste
Programa (SIMA, 2021). Com isso, deixou de receber
importantes subsídios que são destinados como prêmios,
como melhorias em infraestrutura e materiais. A participação
dos municípios é voluntária e ocorre por meio de um termo
de adesão. O principal objetivo do PMVA é estimular e
auxiliar as prefeituras paulistas na elaboração e execução de
políticas públicas estratégicas para o desenvolvimento
sustentável do Estado de São Paulo (SIMA, 2021).
4.1. A palmeira juçara em quintais agroflorestais
Ocupar as áreas verdes ao redor das moradias com o
cultivo de plantas nativas pode resultar em arranjos
paisagísticos funcionais, que combinam espécies
ornamentais, alimentícias, condimentares e medicinais, quer
sejam elas herbáceas, arbustivas, arbóreas, palmeiras e lianas.
Isso fortalece a proposta dos quintais agroflorestais (QA),
que visa produzir alimentos, trazer o conforto ambiental e
servir ao lazer das famílias (SIVIEIRO et al., 2011; VIEIRA
et al, 2012).
A agricultura urbana e os sistemas agroecológicos de
produção são SbN e a agroecologia apresenta os princípios
metodológicos para projetar e gerenciar sistemas agrícolas
biodiversos, adaptados aos pequenos espaços, que são mais
resilientes por suportar os surtos de pragas, mudanças
climáticas, desafios de pandemias e colapsos financeiros
(ALTIERI; NICHOLLS, 2020). Além disso, os quintais são
espaços no ambiente urbano que garantem a interação
humana com elementos do mundo natural. As plantas
alimentícias cultivadas e coletadas em quintais urbanos são
importantes na complementação da dieta dos moradores
(SIVIERO et al., 2011).
No Residencial Lessa, a área média de quintal levantada
foi similar aos registros de Siviero et al. (2011), que estudaram
três bairros urbanos de Rio Branco, no Acre, obtendo-se uma
área média de 217 m² de QA com expressiva riqueza de
espécies frutíferas e arbóreas cultivadas, com destaque para a
palmeira açaí (Euterpe oleracea) (SIVIERO et al., 2011). Essas
áreas quase sempre são manejadas com baixo nível
tecnológico e compostas, principalmente, por frutíferas que
fazem parte do hábito alimentar da população (VIEIRA et
al., 2012). O cultivo das plantas alimentícias não
convencionais (PANC) em QA e na arborização urbana,
como as frutas nativas, promove a conservação da
agrobiodiversidade de espécies alimentícias negligenciadas
(FRISON, 2016). Além do bem-estar aos moradores,
possibilita uma alimentação mais saudável que auxilia no
tratamento de diversas doenças, melhora a paisagem, a
ambiência e o microclima (SIVIERO et al., 2011).
Vieira et al. (2012) verificaram que o incentivo ao cultivo
de palmeiras na Amazônia, por meio de programas
governamentais, aumentou a ocorrência da família Arecaceae
em QA, com destaque para o açaí, cujo fruto processado
produz o “vinho do açaí”, muito apreciado na região Norte,
disseminado no território brasileiro e atualmente é um
valioso produto de exportação (TROIAN; CORBELLINI,
2014).
Para o plantio de juçara no presente estudo são
necessárias 1.435 mudas. Conforme Souza (2015), o
potencial produtivo por QA é de 5,7 kg de infrutescência
com 11,7 kg de frutos, 8.934 frutos que rendem 6,87 litros de
polpa. Ao todo, o potencial produtivo é de 6.527 kg de
infrutescência, 4.967 mi de frutos e 3.819 litros de polpa. O
consumo da polpa extraída dos frutos da juçara cultivada em
QA pode fortalecer a segurança alimentar e nutricional e
representar uma alternativa econômica inovadora ao
considerarmos a escala de produção do Residencial Lessa.
Essa iniciativa pode ser estendida para outros bairros do
município com populações praticantes de agricultura urbana.
Também, há outras espécies nativas estratégicas e
negligenciadas, tais como a palmeira jerivá (Syagrus
romanzoffiana) e o cambuci (Campomanesia phaea).
A polpa dos frutos da palmeira juçara é um alimento
funcional que auxilia no combate de diversas doenças e
previne o envelhecimento. Apresenta 61,85 mg do pigmento
antocianina para cada 100 ml de polpa, valor que supera 3,5
vezes os teores encontrados na polpa do açaí, com excelente
valor nutricional em valores energéticos, carboidratos totais,
lipídios, fibra alimentar, teores de potássio, cálcio, magnésio,
ferro, boro e cobalto, que também supera o açaí (TROIAN;
CORBELLINI, 2014).
Diante do padrão de consumo de alimentos
ultraprocessados advindos da globalização, é um desafio
reintroduzir as PANC na alimentação popular, tal como o
caso da polpa da juçara. Entretanto, o consumo do açaí já
está consolidado no Centro Sul do Brasil e desenvolvem-se
no município de Pindamonhangaba projetos de SAN que
atendem aos profissionais de saúde e à população em geral, e
podem facilitar a introdução do consumo das frutas nativas.
Estudos sobre corredores ecológicos ainda estão pouco
desenvolvidos em ecossistemas tropicais, carecendo de bases
científicas para apoiar a sua utilidade. No entanto, os efeitos
da fragmentação florestal são tão severos que o planejamento
e a execução de medidas que busquem atenuá-las são
justificáveis, apesar de não estarem disponíveis resultados de
pesquisas que demonstrem a eficácia ou mesmo o acerto
destas medidas (SEOANE et al., 2010).
Considerando a proximidade do bairro Residencial Lessa
com a planície fluvial do Rio Paraíba do Sul, a formação de
corredor ecológico, conectando áreas privadas e públicas a
partir da franja da expansão urbana, como meio de fortalecer
a cobertura de matas ciliares até a APP do Rio Paraíba do Sul,
justifica o incentivo governamental ao plantio da palmeira
juçara que pode vir a ser disseminada pela fauna, passando a
colonizar áreas intensamente exploradas por mineração de
areia e agricultura convencional, que ocasionaram,
praticamente, o total desflorestamento de terras baixas e a
extinção da juçara nessa região.