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Qualidade de café, em diferentes estádios de maturação, em função da aplicação de Cladosporium cladosporioides
Nativa, Sinop, v. 10, n. 3, p. 351-355, 2022.
4. DISCUSSÃO
Não foi identificado no exocarpo dos frutos o fungo
Aspergillus sp. em nenhum dos tratamento (Tabela 1),
observando apenas a ocorrência de Cladosporium sp. e
Fusarium sp.. Christensen; Kaufmann (1960) relataram que os
fungos dos gêneros Fusarium e Cladosporium apresentam maior
ocorrência na casca e mucilagem dos frutos de café, enquanto
as espécies Penicillium sp., A. ochraceus e A. niger apresentam
maior infecção em grãos armazenados.
A alta incidência de Fusarium em todos os tratamentos
ocorreu em virtude do atraso na colheita que foi realizada
tardiamente com 40% de frutos passa/seco. Segundo
Iamanaka et al. (2014) quando os cafés estão em contato com
o solo ou permanecem na planta até o estádio de maturação
seco, aumenta a infecção fúngica com maior ação dos fungos
Fusarium sp., Aspergillus section Nigri. e A. westerdijikiae.
Infere-se que o Cladosporium não variou sua ocorrência em
função dos diferentes estádios no qual foi pulverizado,
mesmo na ausência de aplicação, indicando que este já
ocorria de maneira natural na lavoura, conferindo efeito
antagonista aos fungos toxigênicos (ANGÉLICO et al.,
2017).
Observou se que em nenhum dos tratamentos houve
diferença estatística para a qualidade da bebida e os teores das
análises físico-químicas com a aplicação do Cladosporium.
Sunarharum et al., (2014) enfatizaram que estas propriedades
sofrem maior influência pelos diferentes estádios de
maturação que ocorre a colheita do café e pelas distintas
modalidades de processamento pós-colheita.
A falta de diferença para a análise sensorial
provavelmente está relacionada ao grande número de frutos
verdes no qual o café foi colhido (12%). Mesmo com esta
alta quantidade de frutos verdes a pontuação na análise
sensorial foi classificada com bebida especial (SCA, 2015).
Angélico et al. (2011) fazendo estudo com cafés em
diferentes estádios de maturação e tempo de ensacamento,
encontraram que os estádios de maturação verde, cereja,
passa, seco e mistura de frutos, as análises sensoriais
obtiveram em sua maioria bebida dura, apresentando
característica de adstringência para os frutos colhidos verdes.
Silva Neto et al. (2018) verificaram que frutos de café
colhidos verdes resultaram em pior qualidade de bebida,
quando comparado a outros estádios de maturação, fato que
pode estar associado a adstringência. Esses resultados
contraditórios na literatura para a análise sensorial de frutos
de cafés, ocorre devido as diferenças entre as cultivares,
condições edafoclimáticas, colheita e processamentos pós-
colheita no qual resulta em cafés com distintas qualidades.
Outro fator importante na ausência de diferença
estatística para a qualidade de bebida é que não houve a
presença do fungo Aspergillus sp. que é altamente prejudicial a
qualidade do café. Contudo foi identificado o fungo Fusarium
sp. nas amostras deste estudo (Tabela 2), sendo que as médias
de todos os tratamentos foram estatisticamente iguais, não
refletindo, portanto, na melhora ou no efeito depreciativo da
qualidade, independente do estádio de maturação do café no
qual foi aplicado o Cladosporium.
Iamanaka et al. (2014) realizando uma pesquisa com
frutos de café de diferentes etapas do processamento pós-
colheita, identificaram que 45% das amostras foram
encontradas infecção fúngica superior a 70%, no qual
resultou em 50% das amostras com análise sensorial negativa
decorrente da infecção por Fusarium lateritium, Aspergillus
section Nigri, A. westerdijkiae, Penicillium sp. e P. brevicompactum.
O efeito nocivo dos fungos sobre a qualidade do café está
associado também a localização da lavoura. A distância entre
lavoura e a represa mais próxima é de 750 metros com uma
diferença de altitude de 80 metros. Devido a grande distância
da lavoura ao corpo hídrico, o baixa volume de chuva e a
temperatura amena registrada para o período, fizeram que
essas condições fossem mais favoráveis a um ambiente seco
não contribuindo para a proliferação dos fungos que podem
comprometer a qualidade dos cafés, com o é o caso do
Aspergillus sp.. Gil-Serna et al. (2014) trabalhando com os
fungos A. steynii e A. westerdijkiae em diferentes temperaturas
e atividade de água, verificaram que este fungo cresce e
produz a ocratoxina A em temperatura quente variando de
28 a 32°C com altos níveis de atividade de água e umidade do
ambiente
Chalfoun (2010) relatou que regiões cafeeiras localizadas
próximas a grandes corpos d'água (rios, reservatórios) ou em
condições de alta umidade relativa, mesmo distante, são
consideradas as mais afetadas por fungos, bactérias e
leveduras e apresentam problemas constantes de perda de
qualidade do produto final.
Dessa forma, partindo do pressuposto que o fungo
Cladosporium cladosporioides exerce a bioproteção da qualidade
do café em função da inibição dos fungos maléficos e que
estes por sua vez não encontraram condições favoráveis para
deterioração da qualidade, explica-se a indiferença entre os
tratamentos que receberam ou não a aplicação de
Cladosporium, independente do momento de aplicação.
Para os constituintes químicos do café foi demonstrado a
interferência do teor de cinzas como aspecto negativo na
qualidade de bebida. Portanto cultivares de café ou
processamento que contribuam para reduzir o teor de cinzas
podem apresentar melhorias no produto final “café”.
Segundo Domingues et al. (2020) cafés com maiores teores
de cinzas não são recomendados para consumo. Ismail et al.
(2013) descreveram que os teores de cinza mais elevados não
contribuem para a qualidade dos cafés.
5. CONCLUSÕES
O uso do fungo Cladosporium cladosporioides para
bioproteção da qualidade do café não se justifica em lavouras
onde as condições não são favoráveis à ocorrência de fungos
deletérios à qualidade do café, como baixos índices
pluviométricos e temperatura amena, independente do
estádio de maturação no qual foi aplicado o fungo
Cladosporium.
6. AGRADECIMENTOS
Ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
do Sul de Minas Gerais – IFSULDEMINAS e ao Campus
Inconfidentes.
7. REFERÊNCIAS
ANGÉLICO, C. L.; CHALFOUN, S. M.; REZENDE, M.
L. V. Hiperparasitism on mycotoxigenic fungus
Aspregillus ochraceus G. Wilh. by Cladosporium clados
porioides(Fresen) de Vries. International Journal of
Environmental & Agriculture Research, v. 3, p. 14,
2017.
ANGÉLICO, C. L.; PIMENTA, C. J.; CHAGAS, S.J.R.;
CHALFOUN, S.M.; PEREIRA, M. C.; CHALFOUN, Y.
Diferentes estádios de maturação e tempos de
ensacamento sobre a qualidade do café. Coffee Science,
v. 6, n. 1, p. 8-19, 2011.