Nativa, Sinop, v. 9, n. 5, p. 600-604, 2021.
Pesquisas Agrárias e Ambientais
DOI: https://doi.org/10.31413/nativa.v9i5.12553 ISSN: 2318-7670
Adubação foliar de boro em dois híbridos de canola
Anderson Bergamasco HRYCZYNA1, Tiago Roque Benetoli da SILVA1*,
Lucas AMBROSANO1, Gesmila Karoline ZAMPRONIO1
1Programa de pós-graduação em Agronomia, Universidade Estadual de Maringá, Maringá, PR, Brasil.
*E-mail: trbsilva@uem.br
(ORCID: 0000-0001-7010-1868; 0000-0002-2015-2103; 0000-0001-6657-9156; 0000-0003-4116-8961)
Recebido em 10/06/2021; Aceito em 21/12/2021; Publicado em 23/12/2021.
RESUMO: A canola (Brassica napus L. var oleífera) é uma oleaginosa, pertencente à família Brassicaceae, resultado do
cruzamento interespecífico entre repolho silvestre (Brassica oleracea L.) e mostarda (Brassica rapa L., syn. campestris). O
boro é considerado um micronutriente, que atua na translocação de açúcares, formação de proteínas, crescimento do
tubo polínico, germinação dos grãos de pólen, desenvolvimento das sementes e das paredes celulares. O objetivo desta
pesquisa foi estudar as interferências nos componentes produtivos de dois híbridos de canola com a aplicação de
adubação com boro por via foliar. Para tanto, instalou-se um experimento em condições de campo num delineamento
experimental de blocos ao acaso em arranjo fatorial 2 x 3. Utilizou-se os híbridos Hyola 433 e Hyola 575 CL e três
doses de boro foliar (0;100; 200) g ha-1 de B. As seguintes características foram avaliadas: número de plantas, número
de síliquas por planta, massa de parte aérea, massa de 100 grãos e produtividade. Com a aplicação de boro houve
aumento da massa de grãos independente do híbrido. Para produtividade houve aumento somente para o híbrido
Hyola 433, sendo a maior produtividade alcançada na dose de 200 g ha-1. O híbrido Hyola 575 CL não teve sua
produtividade alterada com a aplicação de boro.
Palavras-chave: ácido bórico; Brassica napus L. var. oleífera; colza; massa de 100 grãos; oleaginosa.
Leaf boron fertilization in two rapessed
ABSTRACT: Rapessed (Brassica napus L. var oleífera) is an oilseed, belongs to Brassicaceae family, resultated between
inter specific crossing of wild cabbage (Brassica oleracea L.) and mustard (Brassica rapa L., syn. campestris). Boron is
considered a micronutrient, acting in sugars translocation, protein formation, pollen tube growth, pollen grain
germination, seeds and cell wall development. The aimed was to study the interferences in productive components of
two rapessed hybrids with application of boron fertilization by leaf application. For this, a field experiment was installed
by using experimental design of randomized blocks in a 2 x 3 factorial scheme. Hyola 433 and Hyola 575CL hybrids
and three doses of leaf boron (0; 100 and 200) g ha-1 of B were used. The following characteristics were evaluated:
plants number, number of pods per plant, mass of one hundred grains and yield. With boron application there was an
increase in grain mass independent of the hybrid. In relation grain yield there was increase only for Hyola 433 hybrid,
with the highest yield reached at 200 g ha-1. The Hyola 575CL hybrid did not have its productivity altered with the
application of boron.
Keywords: boric acid; Brassica napus L. var. oleífera; mustard; mass of a hundred grass; oilseeds.
1. INTRODUÇÃO
A colza (Brassica napus. L.) é uma planta da família
Brassicaceae e seus grãos possuem de 24 a 27% de proteína
e 38% de óleo. Sendo assim, é uma planta com alto potencial
para a alimentação humana e animal e produção do biodiesel
(TOMM, 2007).
A canola é produto do melhoramento genético da colza
que surgiu devido ao cruzamento interespecífico entre a
mostarda (Brassica rapa L.) e o repolho selvagem (Brassica
oleracea L.). O termo canola é uma abreviação de “Canadian
Oil Low Acid’’, que significa óleo de colza com baixo teor de
ácido erúcico. O óleo de canola é considerado saudável para
alimentação humana, devido a ter em sua composição ômega
3, que atua na redução de triglicerídeos e no controle da
arteriosclerose; possui baixo teor gordura saturada, que
auxilia no controle do colesterol; também é rico em vitamina
E (FOOD INGREDIENTS BRASIL, 2012; MENDONÇA
et al., 2016).
Segundo Silva et al. (2017), o balanço energético da
cultura da canola voltado para o biodiesel é positivo, sendo
despendida 7.146.537 kcal para a geração de 9.930.000 kcal
(40% de óleo e 60% torta), gerando assim um balanço
energético de 1,39, considerando uma produtividade média
de 1.500 kg ha-1.
Além disso, a cultura possui inúmeras vantagens e
potencialidades econômicas aos produtores, podendo ser
integrada em sistemas de rotação, promover a
descompactação do solo e favorecer a fixação biológica de
nitrogênio. Contudo, devido às inúmeras condições
climáticas e edáficas presentes no Brasil, diversas regiões à
cultura canola ainda carecem de informações técnicas
(ESTEVEZ et al., 2014).
Nos vegetais, o boro é considerado um micronutriente,
pois a concentração desse nutriente é muito baixo nas
plantas, apresentando-se na ordem de miligramas de boro
por quilograma de matéria seca; no entanto, ele é essencial
para o completo crescimento e reprodução dos vegetais. Sua
disponibilidade é essencial para germinação dos grãos de
pólen e crescimento do tubo polínico, apresenta também
função na translocação de açúcares por meio do complexo
Hryczyna et al.
Nativa, Sinop, v. 9, n. 5, p. 600-604, 2021.
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açúcar/borato, que, por sua vez, tem relação na formação de
proteínas; além disso, o boro também está presente na
formação de paredes celulares e no desenvolvimento de
sementes (LOPES, 1998; RAIJ, 2011).
Alguns nutrientes possuem características de pouca
mobilidade no interior da planta, entre eles estão o boro,
ferro e o cálcio; quando ocorre deficiência de alguns desses
nutrientes, a planta tem a tendência de apresentar sintomas
em folhas novas e regiões de crescimentos em geral. Como
característica, o boro tende a apresentar necrose escura em
folhas novas, perda da dominância apical e, por
consequência, super brotação lateral, no entanto, com o
passar do tempo os ápices terminais ao longo dessas
ramificações tendem a apresentar necrose também, os caules
também o afetados, ficando rígidos e quebradiços. Os
frutos, tubérculos e raízes carnosas podem apresentar desse
deformações e até necroses (TAIZ; ZEIGER, 2016).
Segundo Tomm (2003), os micronutrientes mais exigidos
pela cultura da canola são o boro, molibdênio e o zinco. Estes
estão ligados aos processos de floração e enchimentos de
grãos. O quadro sintomatológico da deficiência de boro
descrito por Haag et al. (1983) consiste em iniciar pelas folhas
intermediárias, as quais apresentam aspecto ondulado e
coloração amarelada na borda; com a evolução da deficiência,
as folhas intermediárias se enrolam e ocorre a parada
completa do desenvolvimento das folhas jovens, que se
apresentam rendilhadas, enroladas e cobertas por cera.
O presente trabalho teve como objetivo avaliar as
respostas dos componentes produtivos de dois híbridos de
canola com a utilização da adubação boratada por via foliar
na condição de campo.
2. MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi desenvolvido no campus regional da
Universidade Estadual de Maringá (UEM), no município de
Umuarama, Estado do Paraná, nas coordenadas geográficas
23°47’22.37” de latitude Sul e 53°15’29.98” de longitude
Oeste, na altitude de 401 m. O solo da área é classificado
como Latossolo Vermelho distrófico (EMBRAPA, 2018) de
textura média.
Antes da instalação do experimento foi realizada análise
química do solo da área, na profundidade de 0,0-0,20 m,
representada na Tabela 1. A região apresenta clima Cfa ou
subtropical, segundo a classificação de Köppen (NITSCHE,
et al., 2019). Durante o período experimental ocorreu baixa
precipitação como pode ser observado pela Tabela 2.
Tabela 1. Atributos químicos do solo do local antes da implantação
do experimento, na camada de 0-20 cm.
Table 1. Chemical attributes of the soil of the site before the
implementation of the experiment, in the 0-20 cm layer.
pH
CaCl2
P
mg dm-3
M.O.
g dm-3
Ca K Mg Al
- - - - - - - cmolc dm-3 - - - - - -
6,41
1,80
0,20
1,48
0,00
CTC V%
cmolc dm-3
Argila Silte Areia
- - - - - - - - - - g dm-3- - - - - - - - - - - - -
5,73
236,50
238,94
524,56
Cu Mn Zn Fe Bo
- - - - - - - - - - - - - - - - - - -mg dm-3- - - - - - - - - - - - - - - - -
74,00
10,00
0,9
P e K extraídos com resina; Matéria Orgânica extraída pelo método de
Walkley-Black; Ca, Mg e Al extraídos com KCl 1 cmol L-1.
Tabela 2. Parâmetros meteorológicos coletados pela estação da
Universidade Estadual de Maringá, no Campus Regional de
Umuarama, média dos meses de abril a agosto de 2019.
Table 2. Meteorological parameters collected by the Maringá State
University station, at the Umuarama Regional Campus, average
from April to August 2019.
Mês
Tmax
(oC)
Tmed
(oC)
Tmin
(oC)
UR
MED
(%)
TPO
max
(oC)
TPO
med
(oC)
TPO
min
(oC)
Preci-
pitação
(mm)
Abril 31,0
23,7
18,0 77,3
24,3
18,9
16,3
18,6
Maio 26,7
21,2
17,1 80,8
19,8
16,5
13,2
128,0
Junho
28,1
21,1
15,3 71,1
15,9
12,4
8,8
39,6
Julho
25,5
18,1
11,9 66,1
10,3
5,9 1,4
29,8
Agosto
28,8
20,9
13,6 54,4
10,1
5,1 -0,6
3,6
Media
/Total
28,0
21,0
15,2 69,9
16,0
11,8
7,8
219,6
Fonte: CAU/CCA, 2020. Temperatura máxima (Tmax); temperatura média
(Tmed); temperatura mínima (Tmin); umidade relativa médio (UR MED);
temperatura no ponto de orvalho máxima (TPO max); temperatura no
ponto de orvalho media (TPO med); temperatura no ponto de orvalho
mínima (TPO min); precipitação.
As sementes foram obtidas por meio da Embrapa Trigo
do Rio Grande do Sul. A implantação da cultura ocorreu na
data de 01/04/2019, a adubação de base foi realizada de
acordo com análise de solo e recomendação de Pauletti;
Motta (2017). A adubação de base foi realizada utilizando-se
20 kg ha-1 de nitrogênio (ureia como fonte) e 40 kg ha-1 de
K2O (KCl como fonte).
Foram utilizados dois híbridos no experimento, o Hyola
433 e Hyola 575CL. O ciclo da Hyola 433 desde à emergência
até a maturação ocorre entre 120 a 150 dias, assim é
classificada como planta de ciclo precoce, possui ainda altura
média de 120 cm, requer solos corrigidos e corretamente
adubados para expressar seu potencial produtivo. O ciclo da
Hyola 575CL desde a emergência até à maturação ocorre
entre 123 a 158 dias, classificada também como ciclo precoce,
além disso, possui a tecnologia Clearfield®, que confere a
resistência aos herbicidas do grupo das imidazolinonas
(HRAC grupo B) e ainda possui resistência ao fungo
Leptosphaeria maculans, causador da doença canela preta na
canola (EMBRAPA, 2016).
O experimento foi arranjado em esquema fatorial 2 x 3,
dispostos em blocos ao acaso, com quatros repetições. Os
tratamentos, com doses de boro foliar 0 g ha-1 de B, 100 g ha-
1 de B e 200 g ha-1 de B. A aplicação das doses de boro
ocorreu no início da emissão do botão floral. A fonte de boro
utilizada foi ácido bórico (17% de B) e a aplicação foi
realizada com um pulverizador costal com cilindro de CO2.
Cada unidade experimental foi constituída de quatro
linhas de 1,5 metros de comprimento, espaçadas em 0,20 m
entre elas, considerando como área útil as duas linhas
centrais, desprezando-se 0,25 m de ambas as extremidades. A
colheita foi realizada de forma manual na data de
12/08/2019.
No decorrer do experimento, para o controle de plantas
daninhas, foi realizada capina manual até o fechamento das
entrelinhas da lavoura e para o controle de insetos-pragas
foram aplicados inseticidas registrados para a cultura, no
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e não
houve a ocorrência de doenças.
As variáveis avaliadas foram: população final de plantas,
matéria seca da parte aérea, número de síliquas por planta e
massa de 100 grãos e produtividade.
Adubação foliar de boro em dois híbridos de canola
Nativa, Sinop, v. 9, n. 5, p. 600-604, 2021.
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Para a determinação da população final de plantas e
matéria seca da parte área foram coletadas as plantas na área
útil de cada parcela; em seguida, separadas a parte aérea e o
sistema radicular, contados e também o valor convertido para
hectare. Posteriormente, as plantas foram acondicionadas em
sacos de papel e secas em estufa de ventilação forçada a 60 ±
5 oC; após 48 horas, realizou-se a pesagem e os dados foram
convertidos para kg ha-1.
Para determinação do número de síliquas foram coletadas
dez plantas na ocasião da colheita; na sequência, as síliquas
foram contadas e calculou-se a média de síliquas por planta
para cada parcela.
Para produtividade em kg ha-1 foram colhidas as plantas
da área útil de cada parcela experimental, com debulha das
síliquas e pesagem. Foram separados os grãos para a
determinação da massa de 100 grãos, através da pesagem de
duas subamostras para cada repetição empregada. Ambas as
avaliações foram padronizadas a 13% de umidade (BRASIL,
2009).
Foi realizada a análise de variância ao nível de 5% de
probabilidade de erro. As médias das doses foram
comparadas por regressão linear e as médias dos híbridos
foram comparadas pelo teste de Tukey, ambos ao nível de
5% de probabilidade de erro. As análises estatísticas foram
realizadas com o auxílio do programa Sisvar (FERREIRA,
2011).
3. RESULTADOS
Houve interação significativa para os parâmetros
população final de plantas e da massa seca da parte área, logo,
houve a necessidade de proceder o desdobramento. Para a
população final de plantas, observou-se somente diferença
entre os híbridos na dose de 200 g ha-1 de boro (Tabela 3),
onde o híbrido Hyola 433 teve maior população final. Para
doses, somente o brido Hyola 433 se ajustou
significativamente na equação linear crescente Y = 1146,3x
+ 419375. A massa seca da parte área demostra que não
houve efeito das doses aplicadas de boro (Tabela 3) e entre
os híbridos também não houve diferença significativa.
Tabela 3. Desdobramento da interação significativa entre doses de
boro e híbridos de canola (Hyola 433 e Hyola 575CL), na população
final de plantas (número) e massa seca da parte aérea (t ha-1).
Table 3. Unfolding of the significant interaction between boron
doses and canola hybrids (Hyola 433 and Hyola 575CL) in the final
plant population (number) and shoot dry mass (t ha-1).
População final de
plantas
(número)
Massa seca da parte
aérea (t ha-1)
Híbridos Hyola
433
Hyola
575CL
Hyola
433
Hyola
575CL
Doses
(g ha-1)
0
433.250 a
532.250 a
4,3 a
5,2 a
100
506.250 a
533.250 a 5,0 a 3,8 a
200
662.500 a
418.750 b 4,7 a 4,4 a
*
n.s.
n.s.
n.s.
C.V. = 16,9%
C.V. = 18,3%
Médias seguidas de mesma letra, na linha, não diferem entre si pelo teste de
Tukey a 5% de probabilidade. C.V. = Coeficiente de variação
* y = 1146,3x + 419375 R² = 0,95*
n.s. = equação não significativa a 5% de probabilidade.
A massa de 100 grãos não apresentou interação
significativa (Tabela 4), no entanto, para as doses de boro,
houve aumento da densidade de grãos em função do
incremento com boro e não houve diferença entre os
híbridos.
Tabela 4. Efeito de doses de boro e híbridos de canola (Hyola 433
e Hyola 575CL) e na massa de 100 grãos (gramas).
Table 4. Effect of boron doses and canola hybrids (Hyola 433 and
Hyola 575CL) and on the mass of 100 grains (grams).
Doses de boro (g ha
-1
)
Massa de 100 grãos
(gramas)
0
0,21 *
100
0,23
200
0,25
Híbridos
Hyola 433
0,22 a
Hyola 575CL
0,25 a
C.V. = 15,2 %
* y = 0,0002x + 0,21 R² = 1. Equação significativa a 5% de probabilidade
Médias seguidas de mesma letra no parâmetro híbridos, não diferem entre si
pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
Para o número de síliquas houve diferença somente entre
os híbridos (Tabela 5). Na ausência de aplicação de boro, o
híbrido 433 teve menor quantidade de síliquas por planta;
com a aplicação de 100 g ha-1 de boro, o híbrido Hyola 443
superou estatisticamente o híbrido Hyola 575 CL; na dose
200 g ha-1, não houve diferença significativa entre os bridos.
O desdobramento da interação significativa da
produtividade (Tabela 5) demonstra que sem a aplicação de
boro o híbrido Hyola 433 teve produtividade menor que o
híbrido Hyola 575 CL; já com a aplicação de boro, o híbrido
Hyola 433 aumentou sua produção superando o brido
Hyola 575 CL. A produtividade do híbrido Hyola 433 ajustou
significativamente a equação linear y = 1,6875x + 75,917,
indicando que este híbrido tem maior necessidade de boro
para atingir seu ápice produtivo.
Tabela 5. Desdobramento da interação significativa entre doses de
boro e híbridos de canola (Hyola 433 e Hyola 575CL) no número
de síliquas por planta e na produtividade de grãos (kg ha-1).
Table 5. Unfolding of the significant interaction between boron
doses and canola hybrids (Hyola 433 and Hyola 575CL) in the
number of pods per plant and grain yield (kg ha-1).
Híbridos
Número de
síliquas por
planta (número)
Produtividade
(kg ha-1)
Hyola433
Hyola
575CL
Hyola
433
Hyola
575CL
Doses
(g ha-1)
0 24,5 b 45,0 a 76,5 b 210,7 a
100
71,6 a 39,3 b 243,5 a 204,7 b
200
59,5 a 48,3 a 414,0 a 171,9 b
n.s. n.s. * n.s.
C.V. = 24,9% C.V. = 41,4%
Médias seguidas de mesma letra, na linha, não diferem entre si pelo teste de
Tukey a 5% de probabilidade. C.V. = Coeficiente de variação
* y = 1146,3x + 419375 R² = 0,95*
n.s. = equação não significativa a 5% de probabilidade.
4. DISCUSSÃO
Segundo Mendonça et al. (2016), a cultura da canola
necessita de 310 mm de precipitação para seu completo
desenvolvimento e nesse experimento ocorreu 219,6 mm
(Tabela 2), ocasionando déficit hídrico. A aplicação de boro
auxiliou na sobrevivência do híbrido 433 no período de
estresse hídrico. Fujiyama (2019) identificou que a adubação
bórica promoveu maior eficiência fotossintética, trocas
gasosas mais eficientes e maior eficiência no uso da água na
cultura da soja, o nível de 0,38 mg dm- 3 de B extraível com
água quente proporcionou maior eficiência do uso da água.
Castro et al. (2006) trabalhando com estresse hídrico na
produção de girassol, concluíram que, independentemente
do estresse hídrico, a aplicação do boro aumentou o
Hryczyna et al.
Nativa, Sinop, v. 9, n. 5, p. 600-604, 2021.
603
rendimento. Silva et al. (2015) relatam que a nutrição por
boro aumenta a tolerância ao déficit hídrico em clones de
eucalipto.
Dentro da dose de 200 g ha-1, observa-se que o híbrido
Hyola 433 é mais responsivo à aplicação de boro quando
comparado ao híbrido Hyola 575CL. Para a cultura da canola,
as relações entre estresse hídrico e adubação bórica ainda não
são bem explicadas pela literatura agronômica, mas pelo
resultado obtido, sugere-se que o híbrido Hyola 433
respondeu à aplicação de boro, mesmo em condições de
estresse hídrico.
Na literatura agronômica é relatado que aplicação do boro
não altera a massa de parte área ou até em alguns casos pode
até diminuir. Euba et al (2014) estudando a aplicação do B
na cultura do girassol, relatam que não houve diferença
significativa na massa seca de folhas e caule. Pegoraro et al
(2008) estudando a aplicação de B na cultura da soja em
diferentes tipos de solo, relatam que houve diminuição da
massa seca da parte aérea com a aplicação de B. A aplicação
de boro na canola não alterou a massa seca de parte área que
o que corrobora com os resultados obtidos em outras
espécies vegetais.
O incremento da massa de 100 grãos com a aplicação de
boro pode estar relacionado a maior eficiência na polinização
da cultura da canola. Novais et al., (2007) demostram que o
boro possui funções ligadas às regiões de crescimento, tendo
sua importância em processos de florescimento, crescimento
do tubo polínico e frutificação. Zhang et al. (2017) relatam
que genes responsáveis pelo transporte de B em plantas de
colza, são predominantemente expressos nas raízes, gemas
florais, flores, anteras e pistilos. Cuchiara et al. (2015)
trabalhando com a viabilidade polínica in vitro em mamona,
identificaram que a presença de 4 mg L-1 de B associado com
sacarose em meios de cultura, favorece a germinação dos
grãos de pólen. Mussury;
Hernández; López (2005) analisando a relação entre o
boro e as proteínas estruturais da parede celular do pólen in
vitro de milho, tabaco, pinus, Lilum longiflorum e Impatiens sp.,
em todas as espécies analisadas, notaram a presença de B no
meio da germinação aumentou o comprimento do tubo
polínico depois da germinação e concluíram que este
aumento pode estar ligado ao acúmulo de glicoproteínas ricas
em hidroxiprolina, ligadas às paredes celulares do tubo
polínico. Fernandes (2000) estudando os processos de
polinização da canola, relatam que apesar da canola ser uma
planta autógama, apresenta também recursos para alogamia,
como abundância de pólen, néctar e odor. Relatam também
que com a ocorrência da polinização há aumento do peso de
sementes, indicando, assim, que maior quantidade de
reserva nutricional na semente que favorece a germinação.
No entanto, outras espécies oleaginosas não apresentam
incremento na massa de 100 grãos com a aplicação de boro.
Lima et al. (2013) trabalhando em girassol, relatam que a
massa de 1.000 aquênios não foi influenciada pela aplicação
bórica. Calonego et al. (2010) demostram que para a cultura
da soja a aplicação foliar de boro não altera a massa de 100
grãos de soja. Mantovani et al. (2013) analisando a adubação
foliar em amendoim constataram que não houve alteração na
massa 100 grãos.
Por tanto, diferentemente de outras oleaginosas, a massa
de 100 grãos da canola apresenta resposta positiva à adubação
bórica; isso pode ocorrer devido ao boro ser essencial para
diversos processos ligados ao florescimento e à polinização
das plantas, visto que a canola apresenta dependência de
polinização para atingir o seu máximo potencial; no entanto,
para elucidação da correlação entre os processos envolvidos
no aumento da massa de 100 grãos e com a aplicação foliar
de boro necessitará de outros estudos no futuro.
A aplicação do boro resultou na diferença entre os
híbridos no número de silíquas por planta somente na dose
de 100 g/ha onde o Hyola 433 foi superior. Já entre as doses
não houve diferença, na literatura agronômica não há relatos
sobre da influência do boro no mero de siliquas, no
entanto, Jankowski et al. (2016) relatam que aplicação de boro
foliar em variedades de inverno de canola pode aumentar em
4 % o número de sementes por síliquas.
Com a aplicação do boro a produtividade do híbrido
Hyola 433 ajustou a regressão linear e superou a Hyola
575CL. O aumento da produtividade em um único híbrido
pode estar relacionado a melhoria da eficiência da polinização
nesse híbrido. Pois, a literatura aponta que variação dos
benefícios da polinização para produtividade entre diferentes
cultivares de canola. Nesse sentido, Blochtein et al. (2014)
apresentam diferenças na porcentagem do aumento de
produtividade em híbridos de canola quando expostos à livre
visitação de abelhas, os híbridos Hyola 420 e Hyola 61 teve o
incremento de 17% e 30% de produtividade respectivamente,
quando comparada sem a visitação de abelhas.
Os fatores envolvidos no aumento do desempenho do
híbrido Hyola 433 com a aplicação do boro não o bem
elucidados, no entanto, o B é um micronutriente que está
envolvido no processo de polinização, principalmente do
desenvolvimento do tubo polínico; já a cultura da canola em
geral possui aumento de produtividade pela polinização.
Assim, é possível que para esse híbrido possa ocorrer sinergia
entre a aplicação de B e a polinização pela livre visitação das
abelhas.
5. CONCLUSÕES
A aplicação de boro proporcionou acréscimo da massa de
100 grãos dos dois híbridos. Somente o híbrido Hyola 433
obteve acréscimo de produtividade com a aplicação do boro
sendo a dose de 200 g ha-1 a maior produtividade. Portanto,
o híbrido Hyola 433 respondeu positivamente à aplicação de
doses de boro via foliar, enquanto o híbrido Hyola 575CL
não teve seus componentes produtivos influenciados pelas
doses de boro.
6. AGRADECIMENTOS
Á equipe do Núcleo de Estudos em Oleaginosas
NEOL. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
EMBRAPA, pelo fornecimento das sementes de canola.
7. REFERÊNCIAS
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