Nativa, Sinop, v. 9, n. 3, p. 327-336, mai./jun. 2021.
Pesquisas Agrárias e Ambientais
DOI: https://doi.org/10.31413/nativa.v9i3.12518 ISSN: 2318-7670
Diversidade e uso de plantas em quintais do Bairro Nossa Senhora Aparecida
em Cuiabá, Mato Grosso
Antonio Nobre da SILVA1*, Maria de Fatima Barbosa COELHO2,
Elisangela Clarete CAMILI2
1Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso, Cáceres, MT, Brasil.
2Programa de Pós-Graduação em Agricultura Tropical, Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, MT, Brasil.
*E-mail: coelhomfstrela@gmail.com
(Orcid: 0000-0001-8878-3799; 0000-0003-1393-2504; 0000-0002-4642-2511)
Recebido em 02/06/2021; Aceito em 15/07/2021; Publicado em 28/07/2021.
RESUMO: Os quintais urbanos têm sido suprimidos das moradias, alterando a qualidade de vida das pessoas.
Em Cuiabá, além da destruição das casas antigas que possuíam extensos quintais, parte expressiva das novas
moradias não apresentam espaços destinados ao cultivo de plantas. Objetivou-se neste estudo levantar as
espécies vegetais mantidas nos quintais do bairro Nossa Senhora Aparecida em Cuiabá, Mato Grosso. Foram
selecionados pela técnica de bola de neve 15 quintais, entrevistados os mantenedores e realizadas turnês guiadas
com os mesmos para a coleta e identificação das espécies. A maioria dos entrevistados foi do sexo feminino e,
as plantas foram obtidas com parentes e vizinhos. Mais de 60 % das espécies são exóticas, mas, estão presentes
plantas obtidas no Cerrado como bocaiúva (Acrocomia aculeata), mama-cadela (Brosimum gaudichaudii), assa-peixe
(Vernonia polyanthes) e imbaúba (Cecropia pachystachya). Os quintais do bairro Nossa Senhora Aparecida têm
grande diversidade vegetal, representada por 125 espécies pertencentes a 58 famílias botânicas. As famílias mais
frequentes foram Lamiaceae, Asteraceae e Euphorbiaceae, com destaque para as espécies Annona squamosa L.,
Carica papaya L., Malpighia glabra L. e Mangifera indica L., todas frutíferas que contribuem para a segurança
alimentar. O uso medicinal da maioria das espécies indica a importância do incentivo à manutenção da
diversidade nos quintais.
Palavras-chave: diversidade; plantas medicinais; uso popular; segurança alimentar.
Diversity and use of plants in homegardens
in Nossa Senhora Aparecida
district in Cuiabá, Mato Grosso, State, Brazil
ABSTRACT: Homegardens have been removed from housing, altering people's quality of life. In Cuiabá, in
addition to the destruction of the old houses that had extensive homegardens, a significant part of the new
houses do not have spaces for plants. The aim of this study was to survey the plant species kept in the
homegardens of the Nossa Senhora Aparecida neighborhood in Cuiabá, Mato Grosso. 15 homegardens were
selected by the snowball technique, the maintainers were interviewed and guided tours were held with them to
collect and identify the species. Most of the interviewees were female and the plants were obtained from
relatives and neighbors. More than 60% of the species are exotic, but there are plants obtained in the Cerrado
such as bocaiúva (Acrocomia aculeata), mama-cadela (Brosimum gaudichaudii), assa-peixe (Vernonia polyanthes) and
imbaúba (Cecropia pachystachya). The homegardens of the Nossa Senhora Aparecida neighborhood have great
plant diversity, represented by 125 species belonging to 58 botanical families. The most frequent families were
Lamiaceae, Asteraceae and Euphorbiaceae, with emphasis on the species Annona squamosa L., Carica papaya L.,
Malpighia glabra L. and Mangifera indica L., all of which contribute to food security. The medicinal use of most
species indicates the importance of encouraging the maintenance of diversity in homegardens.
Keywords: diversity; medicinal plants; popular use; food security.
1. INTRODUÇÃO
O crescimento urbano e desenvolvimento das cidades
brasileiras tem resultado na eliminação dos espaços que
mantêm grande diversidade de espécies vegetais como os
quintais das residências. Em grandes cidades como
Cuiabá/MT, além da destruição das casas antigas que
possuíam extensos quintais, parte expressiva das novas
moradias construídas não apresentam estes espaços.
Tourinho; Silva (2016) afirmaram que o conceito e
funções dos quintais urbanos têm sido alterados ou,
simplesmente, vêm sendo suprimidos das moradias e alertam
para as consequências desse processo para a qualidade de
vida urbana.
Os quintais urbanos são formas de uso da terra que se
caracterizam por apresentar múltiplos estratos formados por
espécies com diferentes hábitos assemelhando-se à estrutura
de florestas tropicais, localizados ao redor das casas onde são
feitos plantios de árvores, cultivo de grãos, hortaliças, plantas
medicinais e ornamentais e, ainda, criação de animais, no
mesmo espaço de terra (KUMAR; NAIR, 2006).
A importância dos quintais reflete na eficiência do uso da
terra, conservação de espécies e sustentabilidade (KUMAR;
NAIR, 2006; FLORENTINO et al., 2007), introdução e
domesticação de espécies, segurança alimentar e aumento da
renda familiar (GAO et al., 2012). Os quintais são
Diversidade e uso de plantas em quintais do Bairro Nossa Senhora Aparecida em Cuiabá, Mato Grosso
Nativa, Sinop, v. 9, n. 3, p. 327-336, mai./jun. 2021.
328
considerados importantes na conservação de plantas
medicinais por comunidades rurais e urbanas (BAJPAI et al.,
2013).
Segundo Rondon Neto et al. (2004) a sustentabilidade
está associada à diversidade de espécies, que permite a
produção de alimento durante o ano todo, além de
contemplar a distribuição mais equitativa de trabalho,
comparado aos monocultivos agrícolas, além do que,
possibilita o máximo aproveitamento de luz, nutrientes,
espaço e água, atribuídos à diversidade de plantas. Um bom
exemplo disto é o estudo conduzido por Vieira et al. (2013)
em que os quintais de Bonito/PA são estabelecidos em
pequenas áreas nas proximidades das moradias; a produção é
destinada sobretudo à segurança alimentar e apenas o
excedente é comercializado.
No Estado de Mato Grosso alguns estudos
etnobotânicos foram realizados em quintais evidenciando a
importância e os diferentes usos (AMARAL; GUARIM
NETO, 2008, CARNIELLO et al., 2010, DE DAVID;
PASA, 2015, MOREIRA; GUARIM NETO, 2015,
PEREIRA; FIGUEIREDO NETO, 2015, AMARAL et al.,
2016, SPILLER et al., 2016, SILVA et al., 2019). Infelizmente
os quintais estão desaparecendo do cenário urbano, à medida
que a especulação imobiliária avança com construção de
edifícios com um mínimo de área verde para infiltração das
águas de chuva, com pouca amenização do calor típico da
região, além de reduzido espaço de convivência para a família
e lazer das crianças.
Assim, no presente estudo objetivou-se realizar um
levantamento das espécies vegetais presentes em quintais do
Bairro Nossa Senhora Aparecida em Cuiabá, Mato Grosso.
2. MATERIAL E MÉTODOS
O município de Cuiabá situa-se na região Centro Sul do
estado de Mato Grosso, nas coordenadas 15º35'46" S e
56º05'48" W com população de 612.597 habitantes, segundo
o censo de 2019 (IBGE, 2019).
O clima é tropical chuvoso e, segundo Koppen é
classificado como Am, com duas estações bem definidas,
verão chuvoso e inverno seco e, apresenta elevado índice
pluviométrico no verão podendo atingir médias superiores a
1.300 mm com intensidade máxima em janeiro, fevereiro e
março. A temperatura máxima pode chegar aos 40 °C nos
meses mais quentes. A média da mínima em julho, o mês
mais frio, é de 16,6 °C. A altitude é de 146 a 250 m acima do
nível do mar (ALVARES et al., 2014; IBGE, 2019).
O presente estudo foi realizado em quinze quintais do
bairro Nossa Senhora Aparecida em Cuiabá/MT. Na seleção
dos entrevistados foi aplicada a técnica de amostragem bola
de neve, ou seja, iniciou-se a entrevista com a pessoa
responsável por um quintal, escolhida aleatoriamente e, no
final da entrevista solicitou-se que o entrevistado indicasse
outra pessoa e assim, sucessivamente (ALBUQUERQUE et
al., 2014). Foram usadas as técnicas de observação direta e
participante e, os principais envolvidos na manutenção dos
quintais foram indagados sobre o manejo das plantas e as
partes empregadas para cada uso, além do perfil
socioeconômico (idade, escolaridade, origem, tempo de
residência, etc.) (ALBUQUERQUE et al., 2014).
A verificação in loco das espécies citadas pelos
entrevistados foi realizada utilizando-se o método turnê
guiada, que consiste em ir até a área com o informante
visando fundamentar e validar os nomes das plantas citadas
nas entrevistas (ALBUQUERQUE et al., 2014).
Em cada quintal visitado foram feitos levantamentos das
espécies vegetais com a coleta de amostras para exsicatas e
identificação no Herbário da Universidade Federal de Mato
Grosso. As informações foram compiladas sob a forma de
um banco de dados, utilizando-se matrizes de textos,
conforme metodologia proposta por AMOROZO;
VIERTLER (2010).
3. RESULTADOS
O bairro Nossa Senhora Aparecida localiza-se na região
sul da cidade de Cuiabá/MT, e é considerado de renda média.
Em entrevista com um dos moradores antigos verificou-se
que a construção do bairro teve início na década de 1970 com
os lotes demarcados pela Imobiliária Mato Grosso. Em 1974
esta imobiliária vendeu o direito para a Imobiliária Petrópolis,
ficando esta responsável pela venda dos terrenos. A partir do
ano de 1975 a Caixa Econômica Federal liberou um
financiamento, a quem detinha a escritura dos terrenos, para
construção das casas. No início a construção serviu para
abrigar os trabalhadores da Empresa Cuiabá Diesel que
tinham certo grau de parentesco e eram paulistas e goianos, e
este fato influenciou na arquitetura padrão das casas
inicialmente construídas.
A partir da década de 1980 desenvolveu-se no bairro
outra arquitetura, tanto das novas construções como da
reforma das existentes, devido à vinda de pessoas de outras
origens e de maior poder aquisitivo, que compraram terrenos
neste local. No bairro não tem posto policial nem posto de
saúde, apenas uma Escola Estadual, duas áreas de lazer,
sendo uma quadra na escola e outra em uma área verde
destinada à praça do bairro. A Associação de Moradores
possui uma diretoria com mandato de dois anos.
Os quintais apresentaram forma retangular e área média
de 360 m2. A idade média de formação dos quintais é de 15
anos (Figura 1A), o número médio de pessoas por família é
igual a três (Figura 1B) e na maioria dos quintais a
predominância de entrevistados é do sexo feminino (60%).
Figura 1. Período de residência dos entrevistados responsáveis pela
manutenção dos quintais (A) e número de pessoas residentes (B) no
bairro Nossa Senhora Aparecida em Cuiabá, Mato Grosso.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
até 5 6-10 11-20 21-25 26-30 mais de
30 anos
Período de residência
Entrevistados (%)
A
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
1 2 3 4 5 6
Entrevistados (%)
Número de pessoas residentes nos quintais
B
Silva et al.
Nativa, Sinop, v. 9, n. 3, p. 327-336, mai./jun. 2021.
329
Figure 1. Period of residence of respondents responsible for
maintaining the homegardens (A) and number of people living (B) at
Nossa Senhora Aparecida district, Cuiabá, Mato Grosso.
Figura 2. Faixa etária (A) e origem (B) dos entrevistados
responsáveis pela manutenção dos quintais no bairro Nossa
Senhora Aparecida em Cuiabá, Mato Grosso.
Figure 2. Age (A) and origin (B) of respondents responsible for
maintaining homegardens at Nossa Senhora Aparecida district,
Cuiabá, Mato Grosso.
A faixa etária dos quinze informantes entrevistados nos
quintais do bairro Nossa Senhora Aparecida predomina entre
41 e 60 anos, representando 60%, como verificado na Figura
2A. Nos quintais estudados o maior número dos
entrevistados é Mato-grossense, seguido por pessoas vindas
de São Paulo e Mato Grosso do Sul e, outros quatro estados
(Figura 2B).
Verificou-se que 40% dos entrevistados afirmaram que a
responsabilidade da escolha das espécies, do plantio e
manutenção dos quintais é tanto do homem como da mulher,
no caso, esposo e esposa (Figura 3). A diversidade vegetal nos
quinze quintais do bairro Nossa Senhora Aparecida está
representada por 125 espécies e 58 famílias botânicas (Tabela
1).
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Só a esposa Esposa e
Esposo
Só esposo Todos que
residem
Outros
Responsáveis pelo quintal
Entrevistados (%)
Figura 3. Responsáveis pela manutenção dos quintais no bairro
Nossa Senhora Aparecida em Cuiabá, Mato Grosso.
Figure 3. Those responsible for maintaining the homegardes at
Nossa Senhora Aparecida district, Cuiabá, Mato Grosso.
Tabela 1. Espécies, origem (N = nativa, E = exótica), uso, hábito de crescimento e frequência (%) em quintais no Bairro Nossa Senhora Aparecida em
Cuiabá, Mato Grosso.
Table 1. Species, origin (N = native, E = exotic), use, growth habit and frequency (%) in homegardens at Nossa Senhora Aparecida district, Cuiabá, Mato
Grosso.
Família/Nome científico
Nome vernacular
Origem
Uso*
Hábito de crescimento
Freq.
Acantaceae
Justicia pectoralis var. stenophylla Leon.
Anador
N
med
herbáceo
13,3
Alismataceae
Echinodorus grandiflorus Mitch.
Chapéu de couro
N
med
herbáceo
6,7
Amaranthaceae
Amaranthus deflexus L.
Caruru
N
ali
herbáceo
6,7
Celosia argentea L.
Crista
-
de
-
galo
-
plumosa
E
orn
herbáceo
6,7
Alternanthera brasiliana (L.) O. Kuntze
Penicilina
N
med
herbáceo
13,3
Amaryllidaceae
Zephyranthes rosea Lindl.
Lírio do zéfiro
E
orn
herbáceo
6,7
Anacardiaceae
Spondias dulcis Fort.
Cajarana
N
frut
arbóreo
13,3
Anacardium occidentale L.
Cajueiro
E
frut
arbóreo
33,3
Mangifera indica L.
Mangueira
E
frut
arbóreo
66,7
Spondias mombin L.
Cajá
N
frut
arbóreo
6,7
Annonaceae
Annona squamosa L.
Ata
N
frut
arbóreo
66,7
Annona muricata L.
Graviola
E
frut
arbóreo
6,7
Apiaceae
Coriandrum sativum L.
Coentro
E
cond
herbáceo
6,7
Petroselinum sativum Hoffm.
Salsa
E
cond
herbáceo
6,7
Foeniculum vulgare Mill.
Erva doce
E
med
herbáceo
6,7
Apocinaceae
Catharanthus roseus (L) G. Don
Boa noite
E
orn
herbáceo
6,7
Carissa macrocarpa (Eckl.) A. DC.
Laranjinha
E
orn
arbustivo
6,7
Araceae
Spathiphyllum cannifolium (Dryand.) Schott
Bandeira branca
N
orn
herbáceo
6,7
Dieffenbachia amoena Bull.
Comigo
-
ninguém
-
pode
N
prot
herbáceo
Caladium x hortulanum Birdsey
Coração
-
de
-
Jesus
E
orn
herbáceo
6,7
Anthurium andraeanum Linden
Antúrio
E
orn
herbáceo
13,3
Spathiphyllum wanllisi Regel
Lírio da paz
E
orn
herbáceo
6,7
Anthurium spectabile Schott.
Taioba
N
ali
herbáceo
20
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
20-40 41-60 61-75
Faixa etária
Entrevistados (%)
A
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
MT SP MS AL GO MG PB
Estados brasileiros
Entrevistados (%)
B
Diversidade e uso de plantas em quintais do Bairro Nossa Senhora Aparecida em Cuiabá, Mato Grosso
Nativa, Sinop, v. 9, n. 3, p. 327-336, mai./jun. 2021.
330
Tabela 1. Espécies, origem (N = nativa, E = exótica), uso, hábito de crescimento e frequência (%) em quintais ... (CONTINUAÇÃO)
Table 1. Species, origin (N = native, E = exotic), use, growth habit and frequency (%) in homegardens ... (CONTINUATION)
Família/Nome científico
Nome vernacular
Origem
Uso*
Hábito de crescimento
Freq.
Arecaceae
Acrocomia aculeata (Jacq.) Lodd.
Bocaiúva
N
ali
arbustivo
20
Cocos nucifera L.
Coqueiro
E
ali
arbustivo
20
Syagrus oleracea (Mart.) Becc.
Gueroba
N
ali
arbustivo
6,7
Dypsis lutescens (H. Wendl.) Beentje & J. Dransf.
Palmeira areca
E
orn
arbustivo
26,7
Aristoloquiaceae
Aristolochia triangularis Cham.
Cipó mil homens
N
med
herbáceo
6,7
Asteraceae
Artemísia vulgaris L.
Artemísia
E
med
herbáceo
6,7
Vernonia polyanthes Less.
Assapeixe
N
med
arbustivo
26,7
Vernonia condensata Baker
Boldo chinês
N
med
arbustivo
13,3
Tanacetum parthenium (L.) Sch. Bip.
Camomila pequena
E
med
herbáceo
20
Acanthospermum australe (Loefl.) Kuntze
Carrapicho
rasteiro
N
med
herbáceo
6,7
Artemisia absinthium L
Losna
E
med
herbáceo
20
Bidens pilosa L.
Picão
N
med
herbáceo
6,7
Baccharis dracunculifolia DC.
Vassourinha
N
med
herbáceo
6,7
Bignoniaceae
Tabebuia avellanedae Lor. Ex Griseb.
Ipê rosa
N
orn
arbóreo
6,7
Bixaceae
Bixa orellana L.
Urucum
N
med
arbustivo
6,7
Borraginaceae
Symphytum officinale L.
Confrei
N
med
herbáceo
6,7
Bromeliaceae
Ananas sativus Schult.
Abacaxi
N
frut
herbáceo
6,7
Caesalpiniaceae
Caesalpinia peltophoroides Benth.
Sibipiruna
N
orn
arbóreo
6,7
Caprifoliaceae
Sambucus australis Cham. & Schltdl.
Sabugueiro
N
med
arbustivo
6,7
Caricaceae
Carica papaya Lin.
Mamoeiro
E
frut
arbustivo
66,7
Cecropiaceae
Cecropia pachystachya Trec.
Imbaúba
N
med
arbóreo
13,3
Chenopodiaceae
Chenopodium ambrosioides L.
Erva de Santa Maria
E
med
herbáceo
26,7
Convolvulaceae
Ipomoea batatas L. Lam.
Batata doce
N
ali
herbáceo
6,7
Costaceae
Costus spicatus (Jacq.) Sw.
Cana de macaco
E
med
arbustivo
26,7
Crassulaceae
Crassula argentea L.
Balsamo
N
med
herbáceo
6,7
Kalanchoe brasiliensis St. Hil.
Folha da fortuna
N
med
herbáceo
33,3
Brassica oleracea L.
Couve
E
ali
herbáceo
13,3
Cucurbitaceae
Curcubita pepo L.
Abóbora
E
ali
herbáceo
6,7
Cupressaceae
Chamaecyparis obtusa Endl. Var. cripssii Rehder
Pinheiro dourado
E
orn
arbustivo
6,7
Cycadaceae
Cycas revoluta Thunb.
Cica
E
orn
arbustivo
6,7
Davalliaceae
Nephrolepis exaltata (L.) schott
Samambaia espada
E
orn
herbáceo
40
Dioscoreaceae
Dioscorea petrea A. Penna
Cará
N
ali
herbáceo
6,7
Euphorbiaceae
Euphorbia pucherrima Willd. Ex Klotzsch
Bico de papagaio
E
orn
arbustivo
6,7
Jatropha gossypiifolia L.
Pião roxo
E
prot
arbustivo
6,7
Pedilanthus tithymaloides (L.) Poit.
Sapatinho dos jardins
E
orn
arbustivo
6,7
Ricinus communis L.
Mamona
E
med
arbustivo
13,3
Manihot esculenta Crantz
Mandioca
N
ali
arbustivo
13,3
Phyllanthus niruri L.
Quebra pedra
N
med
herbáceo
20
Euphorbia milii Dês Moul.
Coroa de Cristo
E
orn
herbáceo
6,7
Fabaceae
Vigna unguiculata L. Walp.
Feijão miúdo
E
ali
herbáceo
13,3
Gesneriaceae
Saintpaulia ionantha Wendl.
Violeta
E
orn
herbáceo
6,7
Silva et al.
Nativa, Sinop, v. 9, n. 3, p. 327-336, mai./jun. 2021.
331
Tabela 1. Espécies, origem (N = nativa, E = exótica), uso, hábito de crescimento e frequência (%) em quintais ... (CONTINUAÇÃO)
Table 1. Species, origin (N = native, E = exotic), use, growth habit and frequency (%) in homegardens ... (CONTINUATION)
Família/Nome científico
Nome vernacular
Origem
Uso*
Hábito de crescimento
Freq.
Lamiaceae
Rosmarinus officinalis L.
Alecrim
E
med
herbáceo
6,7
Hyptis suaveolens (L.) Poit.
Alfazema
N
med
herbáceo
6,7
Plectranthus barbatus Andrews
Boldo
E
med
arbustivo
33,3
Leucas martinicensis (Jacq.) R.Br.
Cordão de São Francisco
N
med
herbáceo
13,3
Mentha x piperita L.
Hortelã
E
med
herbáceo
6,7
Plectranthus amboinicus (Lour.) Spreng.
Hortelã pimenta
N
med
herbáceo
20
Ocimum basilicum L.
Manjericão
E
med
herbáceo
26,7
Mentha pulegium L.
Poejo
E
med
herbáceo
6,7
Ocimum gratissimum L.
Alfavaca
E
med
herbáceo
40
Lauraceae
Cinnamomum zeylanicum Bryn.
Canela
E
med
arbóreo
6,7
Liliaceae
Dracaena sanderiana Hort.
Dracena fita
E
orn
arbustivo
6,7
Hemerocallis flava L.
Lírio de São José
N
orn
herbáceo
6,7
Aloe arborecens Mill.
Babosa
N
med
herbáceo
53,3
Allium fistulosum L.
Cebolinha verde
E
cond
herbáceo
53,3
Sansevieria trifasciata var. laurentii (De Wild.) N.E.Br
Espada
-
de
-
São Jorge
E
prot
herbáceo
13,3
Smilax brasiliensis Spreng.
Japecanga
N
med
herbáceo
6,7
Malpighiaceae
Malpighia glabra L.
Acerola
E
frut
arbóreo
66,7
Malvaceae
Gossypium barbadense L.
Algodão
E
med
arbustivo
20
Hibiscus rosa-sinensis L.
Hibisco tropical
E
orn
arbustivo
6,7
Hibiscus mutabilis L
Rosa branca
E
orn
arbustivo
26,7
Mimosaceae
Inga uruguensis Hook. & arn.
Ingazeira
N
frut
arbóreo
13,3
Mirtaceae
Psidium guajava L.
Goiaba
E
frut
arbóreo
53,3
Myrciaria trunciflora Berg.
Jabuticaba
N
frut
arbóreo
33,3
Eugenia uniflora L.
Pitanga
N
frut
arbóreo
20
Moraceae
Artocarpus integrifolia Forst.
Jaqueira
E
frut
arbóreo
6,7
Brosimum gaudichaudii Trécul
Maminha cadela
N
med
arbóreo
6,7
Musaceae
Musa paradisiaca L.
Banana
E
frut
arbustivo
46,7
Nyctaginaceae
Mirabilis jalapa L.
Maravilha
N
med
herbáceo
6,7
Orchidaceae
X BLC “Luck strike”
Orquídea
E
orn
herbáceo
20
Oncidium varicosum Lindl. Ex Paxton
Chuva de ouro
N
orn
arbóreo
6,7
Oxalidaceae
Oxalis vulcanicola Donn. Sm.
Trevo
N
orn
herbáceo
6,7
Plantaginaceae
Plantago major L.
Tansagem
E
med
herbáceo
13,3
Poaceae
Cymbopogon citratus (DC) Stapf
Capim cidreira
E
med
arbustivo
26,7
Poligonaceae
Polygonum hydropiper L.
Erva de bicho
N
med
herbáceo
6,7
Polipodiaceae
Adiantum capillus veneris
Avenca
E
orn
herbáceo
6,7
Portulacaceae
Portulaca oleracea L.
Ora
-
pro
-
nobis
N
ali
arbustivo
6,7
Punicaceae
Punica granatum L.
Romã
E
med
arbustivo
13,3
Rosaceae
Rosa wichuraiana Crép.
Rosa trepadeira
E
orn
arbustivo
33,3
Prunus domestica L.
Ameixa
E
frut
arbustiva
6,7
Rubus fruticosus L.
Amora preta
N
frut
arbustivo
6,7
Rubiaceae
Ixora coccinea L. “Compacta”
Ixora compacta
E
orn
arbustivo
20
Mussaenda erythrophylla Schumanch. & Thonn.
Mussanda rosa
E
orn
arbustivo
13,3
Rutaceae
Ruta graveolens L.
Arruda
E
med
herbáceo
20
Pilocarpus microphyllus Stapf ex Wardleworth
Jaborandi
N
med
arbustivo
6,7
Citrus aurantium L.
Laranja azeda
E
frut
arbóreo
6,7
Citrus sinensis L.
Laranja lima
E
frut
arbóreo
20
Citrus limon (L.) Burm.
Limão galego
E
frut
arbóreo
33,3
Citrus reticulata
Ponkan
E
frut
arbóreo
6,7
Diversidade e uso de plantas em quintais do Bairro Nossa Senhora Aparecida em Cuiabá, Mato Grosso
Nativa, Sinop, v. 9, n. 3, p. 327-336, mai./jun. 2021.
332
Tabela 1. Espécies, origem (N = nativa, E = exótica), uso, hábito de crescimento e frequência (%) em quintais ... (CONTINUAÇÃO)
Table 1. Species, origin (N = native, E = exotic), use, growth habit and frequency (%) in homegardens ... (CONTINUATION)
Família/Nome científico
Nome vernacular
Origem
Uso*
Hábito de crescimento
Freq.
Solanaceae
Cestrum nocturnum L.
Dama da noite
E
orn
arbustivo
13,3
Nicotiana tabacum L.
Fumo
N
ins
arbustivo
6,7
Solanum paniculatum L.
Jurubeba
N
med
arbustivo
13,3
Capsicum frutescens L.
Pimenta
N
cond
herbáceo
33,3
Capsicum annuum L.
Pimentão
E
ali
herbáceo
6,7
Lycopersicum esculentum L.
Tomate
E
ali
herbáceo
6,7
Verbenaceae
Lippia alba (Mill.) N.E. Br.
Erva cidreira
N
med
arbustivo
46,7
Duranta repens L.
Pingo de ouro
E
orn
arbóreo
20
Vitaceae
Vitis vinifera L.
Uva
E
frut
herbáceo
13,3
Cissus verticillata (L.) Nicholson & C.E.Jarvis
Insulina
E
med
herbáceo
6,7
Zingiberaceae
Curcuma longa L.
Açafrão
E
med
herbáceo
13,3
Alpinia zerumbet (Pers.) B.L. Burtt. & R.M. Sm.
Colônia
E
med
arbustivo
13,3
Zingiber officinale Roscoe.
Gengibre
E
med
herbáceo
6,7
*Ali = alimentício, Cond = condimentar, Frut = frutífero, Ins = inseticida, Med = medicinal, Orn = ornamental, Prot = proteção
*Ali = food, Cond = spice, Fruit = fruit, Ins = insecticide, Med = medicinal, Orn = ornamental, Prot = protection
As famílias mais frequentes nos quintais foram Lamiaceae,
Asteraceae e Euphorbiaceae (Figura 4).
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Famílias mais frequentes
Quintais (%)
Figura 4. Famílias botânicas mais frequentes nos quintais do bairro
Nossa Senhora Aparecida em Cuiabá, Mato Grosso.
Figure 4. Most frequent botanical families in the homegardens at
Nossa Senhora Aparecida district, Cuiabá, Mato Grosso.
Os entrevistados classificaram as espécies dos quintais em
inseticida, proteção, condimentar, alimentício, frutífera,
ornamental e medicinal, com maior percentual desta última
categoria (Figura 5). O uso medicinal está presente em todos
os quintais estudados (Tabela 2).
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Espécies (%)
Categorias de uso
Figura 5. Categorias de uso das espécies nos quintais no bairro
Nossa Senhora Aparecida em Cuiabá, Mato Grosso.
Figure 5. Categories of species use in homegardens at Nossa
Senhora Aparecida district, Cuiabá, Mato Grosso.
Tabela 2. Espécies de uso medicinal no bairro Nossa Senhora Aparecida, Cuiabá, Mato Grosso.
Table 2. Species of medicinal use at Nossa Senhora Aparecida district, Cuiabá, Mato Grosso.
Família/Nome científico
Nome vernacular
Usos
Acantaceae
Justicia pectoralis var. stenophylla Leon.
Anador
Chá para dor de cabeça, gripe, mal estar
Alismataceae
Echinodorus grandiflorus Mitch.
Chapéu
-
de
-
couro
Chá para o fígado e rins
Amaranthaceae
Alternanthera brasiliana (L.) O. Kuntze
Penicilina
Chá das
folhas para dor, febre e infecções
Apiaceae
Foeniculum vulgare Mill.
Erva doce
Chá das sementes para digestão, dor de estomago, gases
Aristoloquiaceae
Aristolochia triangularis Cham.
Cipó mil homens
Chá para o estômago, fígado e raiz contra
picada de cobra
Asteraceae
Artemisia vulgaris L.
Artemísia
Chá para gases, azia e diarréia
Vernonia polyanthes Less.
Assa
-
peixe
Chá para bronquite e asma
Vernonia condensata Baker
Boldo chinês
Chá para azia, dor de cabeça e má digestão
Tanacetum parthenium (L.) Sch. Bip.
Camomila pequena
Chá para dor de cabeça
Acanthospermum australe Kuntze
Carrapicho rasteiro
Chá para gripe
Artemisia absinthium L
Losna
Chá para cólicas intestinais e verminoses
Bidens pilosa L.
Picão
Chá para
icterícia
Baccharis dracunculifolia DC.
Vassourinha
Chá para fraqueza e reumatismo
Bixaceae
Bixa orellana L.
Urucum
Chá das folhas como cicatrizante
Borraginaceae
Symphytum officinale L.
Confrei
Amassar as folhas para cicatrizar
ferimentos
Silva et al.
Nativa, Sinop, v. 9, n. 3, p. 327-336, mai./jun. 2021.
333
Tabela 2. Espécies de uso medicinal no bairro Nossa Senhora Aparecida, Cuiabá, Mato Grosso.
Table 2. Species of medicinal use at Nossa Senhora Aparecida district, Cuiabá, Mato Grosso.
Família/Nome científico
Nome vernacular
Usos
Caprifoliaceae
Sambucus australis Cham. & Schltdl.
Sabugueiro
Chá das flores para sarampo
Cecropiaceae
Cecropia pachystachya Trec.
Imbaúba
Chá das flores para pressão alta
Chenopodiaceae
Chenopodium ambrosioides L.
Erva de Santa Maria
Sumo
das folhas para vermes
Costaceae
Costus spicatus (Jacq.) Sw.
Cana de macaco
Chá para inflamação nos rins
Crassulaceae
Crassula argentea L.
Balsamo
Sumo das folhas para dor de ouvido
Kalanchoe brasiliensis St. Hil.
Folha da fortuna
Chá para
compressas em partes do corpo com dor
Euphorbiaceae
Ricinus communis L.
Mamona
Óleo das sementes contra vermes
Phyllanthus niruri L.
Quebra pedra
Chá para dissolver pedra nos rins
Lamiaceae
Rosmarinus officinalis L.
Alecrim
Chá das folhas como
estimulante
Hyptis suaveolens (L.) Poit.
Alfazema
Chá das folhas para banho contra dor de cabeça
Plectranthus barbatus Andrews
Boldo
Chá para indigestão, dor no estômago e fígado
Leucas martinicensis (Jacq.) R.Br.
Cordão
-
de
-
São
-
Francisco
Chá contra reumatismo
Mentha piperita
Hortelã
Chá para gripe
Plectranthus amboinicus (Lour.) Spreng.
Hortelã pimenta
Chá e lambedor para gripe e dor na garganta
Ocimum basilicum L.
Manjericão
Xarope para a gripe
Mentha pulegium L.
Poejo
Lambedor para gripe
Ocimum gratissimum L.
Alfavaca
Xarope para a gripe
Lauraceae
Cinnamomum zeylanicum Bryn.
Canela
Chá para melhorar a circulação do sangue
Liliaceae
Aloe arborecens Mill.
Babosa
Gel das folhas para
queimaduras
Smilax brasiliensis Spreng.
Japecanga
Chá da raiz como depurativo
Malvaceae
Gossypium barbadense L.
Algodão
Chá das folhas usado no banho após o parto
Moraceae
Brosimum gaudichaudii Trécul
Mama
-
cadela
Chá das folhas para
vitiligo
Nyctaginaceae
Mirabilis jalapa L.
Maravilha
Chá das raízes para os rins
Plantaginaceae
Plantago major L.
Tansagem
Chá para dor de garganta
Poaceae
Cymbopogon citratus (DC) Stapf
Capim
-
cidreira
Chá calmante
Poligonaceae
Polygonum hydropiper L.
Erva
-
de
-
bicho
Chá cicatrizante
Punicaceae
Punica granatum L.
Romã
Chá da casca do fruto para a garganta e rouquidão
Rutaceae
Ruta graveolens L.
Arruda
Chá para lavar os olhos
Pilocarpus microphyllus Stapf ex Wardleworth
Jaborandi
Chá para problemas com os rins e para os cabelos
Solanaceae
Solanum paniculatum L.
Jurubeba
Frutos no azeite para os rins e fígado
Verbenaceae
Lippia alba (Mill.) N.E. Br.
Erva
-
cidreira
Chá calmante e digestivo
Vitaceae
Cissus verticillata (L.) Nicholson & C.E.Jarvis
Insulina
Chá para diabetes
Zingiberaceae
Curcuma longa L.
Açafrão
Chá para o fígado
Alpinia zerumbet (Pers.) B.L. Burtt. & R.M. Sm.
Colônia
Chá das folhas para pressão alta
Zingiber officinale Roscoe.
Gengibre
Chá para gripes e resfriados
4. DISCUSSÃO
A área apresentada pelos quintais foi bem menor do que
a área dos quintais em cidades do interior de Mato Grosso.
Em Alta Floresta, a área média relatada foi de 703 m2
(OLIVEIRA et al., 2019), em Cáceres de 1.890,5 m2
(PEREIRA; FIGUEIREDO NETO, 2015), em Mirassol do
Oeste 97% dos lotes variaram entre 200 a 1.000 m2
(CARNIELLO et al., 2010), em Rosário Oeste a área média
dos quintais analisados foi de 622 m2, incluindo a área do
domicílio (AMARAL; GUARIM NETO, 2008),
Com relação ao período de residência no quintal (Figura
1A) os resultados são semelhantes aos encontrados por
Rondon Neto et al. (2004) em Teixeira Soares/PR, mas
Pereira; Figueiredo Neto (2015) observaram maior tempo de
permanência nos quintais em Cáceres (38,8 anos). Em geral,
o maior tempo de permanência nos quintais favorece a
diversidade de espécies.
Quanto a faixa etária (Figura 2A) o resultado difere de
outros estudos em que as pessoas responsáveis pelos quintais
apresentaram faixa etária maior. Siviero et al. (2012)
Diversidade e uso de plantas em quintais do Bairro Nossa Senhora Aparecida em Cuiabá, Mato Grosso
Nativa, Sinop, v. 9, n. 3, p. 327-336, mai./jun. 2021.
334
encontraram forte relação entre idade do morador e a riqueza
de espécies medicinais presente nos quintais urbanos de Rio
Branco/AC, evidenciando que pessoas mais idosas tendem a
conservar as práticas da medicina popular tradicional, cujo
conhecimento relativo ao uso de plantas é, geralmente,
expresso no cultivo das espécies na residência. Amaral;
Guarim Neto (2008) relataram que informantes mais idosos
são os que possuem maior conhecimento sobre o uso de
plantas medicinais. Carniello et al. (2010) reportaram que a
maioria dos informantes entrevistados (90%) em Mirassol do
Oeste/MT são aposentadas e dispõem de tempo integral para
convívio no espaço da moradia e realização de atividades
relacionadas, principalmente, com a administração e manejo
do quintal, como o cultivo de plantas.
Por se tratar da capital do estado, a percentagem de
pessoas de outras regiões é menor (Figura 2B), diferindo de
estudos conduzidos em municípios do interior em que a
predominância é de pessoas oriundas da região sul do Brasil
refletindo o processo de colonização (GUARIM NETO;
NOVAIS, 2008).
Verificou-se um equilíbrio em relação ao gênero na
execução de tarefas nos quintais (Figura 3), como também
constatado por Santos et al. (2013), entretanto, difere da
maioria dos estudos em que predominância da mulher
como responsável pelo quintal (FLORENTINO et al., 2007;
AMARAL et al., 2016).
Uma característica marcante dos moradores dos quintais
envolvidos nesta entrevista foi que todos adquirem a maioria
das plantas através de doação ou troca com vizinhos e
parentes. A estratégia de aquisição de mudas de plantas pelos
entrevistados ocorre numa relação entre vizinhos e parentes
no mesmo bairro ou de outros ou ainda com parentes que
moram em outras cidades e até mesmo outros estados.
Amaral; Guarim Neto (2008) verificaram em Rosário
Oeste/MT que a maioria das espécies vegetais encontradas
nos quintais foi adquirida por meio da doação por parentes,
vizinhos e amigos.
As maior frequência das famílias Lamiaceae, Asteraceae e
Euphorbiaceae (Figura 4) também foi encontrada por De
David; Pasa (2015) e Moreira; Guarim Neto (2015) em
estudo conduzido em Várzea Grande/MT e Tangará da
Serra/MT, respectivamente, mas os estudos conduzidos em
outras cidades Mato-grossenses registraram a predominância
de outras famílias, como Lamiaceae, Fabaceae e Myrtaceae
(OLIVEIRA et al., 2019), Arecaceae, Rutaceae,
Anacardiaceae e Myrtaceae em Cáceres/MT (PEREIRA;
FIGUEIREDO NETO, 2015), Solanaceae, Asteraceae,
Lamiaceae, Rosaceae e Verbenaceae em Mirassol do
Oeste/MT (CARNIELLO et al., 2010).
As espécies presentes em 66,7% dos quintais foram
Malpighia glabra L., Mangifera indica L., Annona squamosa L. e
Carica papaya L (Tabela 1). Estas frutíferas sempre estão
presentes em quintais brasileiros e representam uma fonte de
vitaminas e minerais. M. glabra é rica em vitamina C e muito
utilizada em sucos, M. indica é rica em vitamina A e potássio,
A. squamosa e C. papaya são ricas em potássio e consumidas,
preferencialmente, como frutas frescas.
Garcia et al. (2015) afirmam que os quintais exercem
papel importante na segurança alimentar das famílias, pela
riqueza de espécies encontradas nos estratos arbóreos e
arbustivos, em sua maioria por espécies que proporcionam
alimentação saudável, com riqueza de nutrientes. As frutas
constituem valiosas fontes de nutrientes para as famílias,
sendo uma alternativa econômica para o consumo destes
produtos em épocas de crise.
As espécies exóticas foram mais frequentes (60%), no
entanto, espécies da flora local, como a bocaiúva (Acrocomia
aculeata), a mama-cadela (Brosimum gaudichaudii), o assa-peixe
(Vernonia polyanthes) e a imbaúba (Cecropia pachystachya)
estavam presentes nos quintais. As espécies nativas arbóreas
são obtidas de mudas provenientes de sítios e outras áreas de
Cerrado próximas ao bairro e, as herbáceas ocorrem
espontaneamente, nesses espaços, como quebra-pedra
(Phylanthus niruri), vassourinha (Scoparia dulcis) e cipó-mil-
homens (Aristolochia esperanzae). O cultivo das espécies nativas
é importante porque forma banco de germoplasma, que
garante a variabilidade genética de muitas dessas espécies.
A predominância de espécies exóticas também foi
verificada por Amaral & Guarim Neto (2008) em Rosário
Oeste/MT e Pereira & Figueiredo Neto (2015) em estudo
realizado em Cáceres/MT.
Com relação ao hábito de crescimento predominou o
herbáceo (51,2%) seguido do arbustivo (30,4%) e do arbóreo
(18,4%). Distribuição semelhante foi observada em outros
estudos (PILLA et al., 2006; ALBERTASSE et al., 2010). A
maior frequência de espécies herbáceas possivelmente deve-
se à facilidade de se cultivar ervas em quintais (PILLA et al.,
2006) e também porque boa parte destas espécies ocorre
espontaneamente como o chapéu-de-couro, vassourinha,
erva-de-santa-maria, penicilina, picão, etc.
A categoria com maior número de espécies foi a
medicinal (38,4%) com 29 famílias, seguida da ornamental
(24,8%) e frutífera (18,4%) (Figura 5). Em outros
levantamentos realizados no Estado, também se destacou a
categoria medicinal (SPILLER et al., 2016; SILVA et al.,
2019), possivelmente pela tradição da medicina popular e por
toda a deficiência do sistema de saúde oficial. Neste estudo
também se verificou o mesmo que Silva et al. (2019) em
quintais de Alta Floresta/MT, quanto à categoria de
ornamentais, em que muitas espécies são plantadas com o
objetivo de gerar sombra para os moradores sendo o espaço
onde os adultos conversam e descansam, as crianças brincam
e se realizam as festas.
As espécies medicinais são usadas para diferentes
sintomas de doenças (Tabela 2) com predominância da
preparação na forma de chá (77%). As famílias mais
frequentes foram Lamiaceae (18,7%) e Asteraceae (16,7%).
Outros estudos etnobotânicos conduzidos em diferentes
estados com espécies de uso medicinal também indicaram a
predominância das famílias Lamiaceae e Asteraceae. Entre
estes estudos citam-se Pilla et al. (2006) em São Paulo,
Albertasse et al. (2010) no estado do Espírito Santo, Moreira;
Guarim Neto (2015) no Mato Grosso.
A família Lamiaceae tem distribuição cosmopolita e
grande importância terapêutica (PAULINO et al., 2012). As
espécies desta família são ricas em óleos essenciais com
propriedades aromáticas e medicinais (ABDEL-MOGIB et
al., 2002), principalmente antimicrobiana e anti-inflamatória,
com efeitos comprovados por estudos científicos
(LORENZI; MATOS, 2008).
5. CONCLUSÕES
Os quintais do bairro Nossa Senhora Aparecida em
Cuiabá, Mato Grosso apresentam grande diversidade vegetal.
As famílias mais frequentes são Lamiaceae, Asteraceae e
Euphorbiaceae, com destaque para as espécies Malpighia
Silva et al.
Nativa, Sinop, v. 9, n. 3, p. 327-336, mai./jun. 2021.
335
glabra L., Mangifera indica L., Annona squamosa L. e Carica papaya
L. O uso medicinal da maioria das espécies indica a
importância do incentivo à manutenção da diversidade nos
quintais.
6. AGRADECIMENTOS
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq) pela Bolsa de Produtividade concedida
à segunda autora.
7. REFERÊNCIAS
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