Nativa, Sinop, v. 10, n. 1, p. 54-59, 2022.
Pesquisas Agrárias e Ambientais
DOI: https://doi.org/10.31413/nativa.v10i1.12345 ISSN: 2318-7670
MANEJO DE PLANTAS DE COBERTURA DE SOLO EM PRODUÇÃO
HORTÍCOLA FAMILIAR EM NOVA FRIBURGO, RJ
Ricardo Edson SALLES1, Renato Linhares de ASSIS2,
José Guilherme Marinho GUERRA2, Janaina Ribeiro Costa ROUWS2*, Adriana Maria de AQUINO2
1 Integra Ambiental Consultoria e Capacitação, Macaé, RJ, Brasil.
2 Embrapa Agrobiologia, Seropédica, RJ, Brasil.
*E-mail: janaina.rouws@embrapa.br
(ORCID: 0000-0002-8659-3809; 0000-0003-4228-5166; 0000-0002-3532-9661; 0000-0003-1816-3505; 0000-0003-3718-4512)
Recebido em 05/05/2021; Aceito em 15/02/2022; Publicado em 14/03/2022.
RESUMO: O uso de plantas de cobertura de solo nas rotações de cultivo de hortaliças nos ambientes de
montanha de Nova Friburgo - RJ tem sido adaptado empiricamente às condições locais pelos agricultores.
Nesse sentido, objetivou-se estabelecer conhecimentos acerca da relação de diferentes épocas de plantio e de
corte das plantas, com o aporte de fitomassa e de nitrogênio (N) e carbono (C) de aveia preta (Avena strigosa
Schreb.) e tremoço branco (Lupinus albus L.). Para tanto, foi conduzido um experimento de março de 2015 a
fevereiro de 2016, em uma unidade de produção orgânica em Nova Friburgo, estado do Rio de Janeiro. O
delineamento adotado foi em blocos ao acaso, com três repetições, em esquema de parcelas sub-subdivididas.
Nas parcelas foram avaliadas três épocas de plantio: março, julho e outubro; nas subparcelas as duas plantas de
cobertura (aveia preta e tremoço branco), e nas sub-subparcelas as quatro épocas de coleta das plantas de
cobertura: aos 30, 60, 90 e 120 dias após o plantio. Concluiu-se que as duas espécies de plantas de cobertura
testadas apresentaram bom potencial para inserção nos sistemas de rotação de cultivo de hortaliças de Nova
Friburgo, com desenvolvimento regular do tremoço branco nas diferentes épocas de plantio e restrições para
plantio da aveia preta em períodos mais quentes e chuvosos.
Palavras-chave: manejo orgânico; adubação verde; plantio direto; aveia preta; tremoço branco.
Management of soil cover plants in family horticultural production
in Nova Friburgo, RJ
ABSTRACT: Farmers in the mountainous environment of Nova Friburgo state of Rio de Janeiro have been
adapting soil cover plants empirically to the crop rotations. In this regard, with the purpose to establish the
knowledge about the relationship between different planting and cutting seasons, with the contribution of
phytomass and nitrogen (N) and carbon (C) of black oats (Avena strigosa Schreb.) and white lupine (Lupinus albus
L.), was an experiment carried out from March 2015 to February 2016 at an organic production unit in Nova
Friburgo. The adopted design was in randomized blocks, with three replications, in a split-plot scheme. In the
plots three planting seasons were evaluated: March, July, and October; in the subplots the two cover plants
(black oats and white lupine), and the subplots the four collection times of the cover plants: at 30, 60, 90, and
120 days after planting. It was concluded that the two species of cover plants tested showed good potential for
insertion in the rotation systems of vegetables in Nova Friburgo, with regular development of white lupine at
different planting times and restrictions to planting black oats in longer periods hot and rainy.
Keywords: organic management; green manure; zero tillage; black oats; white lupine.
1. INTRODUÇÃO
A produção de hortaliças, importante fonte de renda para
agricultores familiares, é fundamental para a alimentação
humana e se desenvolve, na maioria das vezes, com grande
movimentação de solo e intenso uso de adubos sintéticos e
agrotóxicos, que levam a insustentabilidade dos sistemas de
produção dedicados a essa atividade. De acordo com
Menezes Júnior et al. (2020) as práticas tradicionalmente
utilizadas na horticultura favorecem desequilíbrios
nutricionais e elevam os custos de produção e os riscos de
contaminação do produtor, do ambiente e do consumidor.
E, conforme acrescentam, práticas que deveriam ser
consideradas rotineiras, como análise de solo e plantio direto,
são pouco utilizadas.
Na Região Serrana do estado do Rio de Janeiro, região
montanhosa, com unidades de produção com declive
acentuado, essa problemática tende a ser agravada. Contexto
que determina a necessidade de pesquisas, ainda carentes na
região, que produzam informações técnicas e científicas para
adoção pelos horticultores locais de práticas
conservacionistas, notadamente em relação a produção de
hortaliças em plantio direto (SCHULTZ, 2020).
Nesse sentido, a adaptabilidade climática e eficiência
produtiva de plantas de cobertura do solo em horticultura
foram avaliadas na Região Serrana do estado do Rio de
Janeiro, por Barradas et al. (2001) no município de Nova
Friburgo, em estudo envolvendo 13 espécies de adubos
verdes de inverno na produção de alface, culminando na
recomendação do uso da aveia preta (Avena strigosa Schreb.) e
do tremoço branco (Lupinus albus L.) para a região, por se
destacarem quanto à produção de massa seca e acumulação
de N na parte aérea, independentemente das condições de
Salles et al.
Nativa, Sinop, v. 10, n. 1, p. 54-59, 2022.
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fertilidade do solo. Esse trabalho foi fundamental para o
desenvolvimento da tecnologia da adubação verde e a
otimização do uso de plantas de cobertura do solo na região
e é referência para a tomada de decisão sobre o uso dessas
plantas nos sistemas locais de rotação de cultivo de hortaliças.
Grisel; Assis (2012), a partir da análise de diversas
experiências locais de cultivo de hortaliças, afirmam que o
uso permanente de plantas de cobertura é prática viável,
necessitando de práticas estruturantes, a serem incorporadas
aos sistemas produtivos.
Com a criação do Núcleo de Pesquisa e Treinamento para
Agricultores (NPTA) em 2007, parceria entre a Prefeitura
Municipal de Nova Friburgo e a Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), houve um estímulo ao
uso de plantas de cobertura junto aos sistemas familiares de
cultivo de hortaliças da região, sendo praticado o plantio
direto (ASSIS; AQUINO, 2010).
Segundo Madeira (2009), o plantio direto de brássicas sob
palhadas de milheto (Pennisetum americanum L), milho (Zea mays
L.), aveia preta e mesmo de vegetação espontânea com
predominância de capim marmelada (Brachiaria plantaginea
(Link) Hitchc.), proporcionou elevados níveis de
produtividade e redução na ocorrência de doenças de solo,
especialmente a hérnia das crucíferas, causada pelo
protozoário Plasmodiophora brassicae, doença limitante à
produção. Assis e Aquino (2018) confirmaram que a inserção
de adubos verdes em rotações de cultivo de hortaliças reduziu
a incidência da hérnia das crucíferas, aportou matéria
orgânica, fundamental para a fertilidade do solo, e
proporcionou uma maior macrofauna edáfica
comparativamente à área sob manejo convencional do solo.
Assis et al. (2019) destacam que os ambientes de
montanha locais são importantes espaços de socialização e
desenvolvimento de atividades agrícolas que impactam o
solo. As declividades acentuadas das áreas produtivas
demandam mecanismos para a manutenção sistemática da
cobertura do solo, de forma a reduzir, na época chuvosa, a
erosão do solo, que provoca constantes prejuízos para o
transporte da produção e deslocamento das pessoas. O uso
do sistema de plantio direto de hortaliças apresenta-se como
opção importante para reverter esse quadro, com a
manutenção da cobertura dos solos agrícolas (MADEIRA;
LIMA, 2018).
Os agricultores ajustaram localmente o uso de aveia preta
aos seus sistemas de cultivo de hortaliças conforme a
demanda de plantio da cultura comercial (ANTONIO et al.,
2019). Contudo, visando apoiar o diálogo entre técnicos e
agricultores no processo de ajuste para obtenção de maior
massa vegetal para adubação verde, é fundamental ter
informações sobre o potencial produtivo local do cultivo de
adubos verdes em diferentes épocas de plantio e corte.
Destarte, o objetivo do presente trabalho foi avaliar aveia
preta (Avena strigosa Schreb.) e tremoço branco (Lupinus albus
L.), quanto ao aporte de fitomassa, N e C, em três épocas de
plantio e avaliados em quatro épocas de coleta, no município
de Nova Friburgo.
2. MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido de março de 2015 a
fevereiro de 2016, em uma unidade de produção orgânica, na
localidade de Cardinot no distrito do município de Nova
Friburgo - RJ, situada nas coordenadas de latitude 22°18'31"
Sul e longitude 42°35'28" Oeste.
A região apresenta topografia ondulada, com altitudes
que podem alcançar elevações acima de 2.000 m de altitude,
como é o caso dos Três Picos de Salinas, ponto culminante
da Serra do Mar com 2.316 m (GRISEL; ASSIS, 2012). O
clima é classificado como tropical de altitude, com verão
chuvoso e inverno seco, caracterizados respectivamente por
médias de precipitação pluviométrica de 328 mm/m2 em
janeiro e 33 mm/m2 em julho (GRISEL; ASSIS, 2020). Os
solos da área experimental estão na classe de solo Latossolo
Vermelho Amarelo distrófico - LVd (SANTOS et al., 2018).
As temperaturas médias e a precipitação pluviométrica
registradas durante o experimento estão apresentadas na
Figura 1. A média anual de temperaturas no ano de 2015 e
início de 2016 se manteve na faixa de 14 oC nos meses mais
frios, e 23 oC nos meses mais quentes. O índice pluviométrico
apresentou sua menor taxa no mês de agosto de 2015 e um
pico de 489 mm no mês de janeiro de 2016.
A área experimental contou com sistema de irrigação que
era acionado quando ocorriam intervalos com mais de 10 dias
sem precipitação, proporcionando uma lâmina mínima de 15
mm.
O delineamento experimental foi o de blocos ao acaso,
com três repetições, em esquema de parcelas sub-
subdivididas, com 8 m2 por parcela, sendo representadas nas
parcelas as épocas de plantio (março, julho e outubro); nas
subparcelas as duas espécies de plantas de cobertura de
inverno utilizadas: aveia preta e tremoço branco e, nas sub-
subparcelas com 1 m2, as coletas que foram realizadas aos 30,
60, 90 e 120 dias após o plantio (DAP). A representação das
épocas dos plantios e dos cortes foi apresentada na Figura 1.
As coletas foram efetuadas na parte central das subparcelas
em uma área útil de 0,5 m2, descartadas as bordas no
quadrilátero.
Figura 1. Precipitação acumulada (mm) e temperatura média (°C)
durante o período de condução do experimento (março de 2015 a
fevereiro de 2016). Estação automática de Nova Friburgo (RJ)
(INMET, 2020).
Figure 1. Accumulated precipitation (mm) and average temperature
(°C) during the period of the conduction of the experiment (March
2015 to February 2016). Automatic station of Nova Friburgo (RJ)
(INMET, 2020).
A densidade de sementes utilizada no plantio foi,
conforme usualmente utilizado na região, para a aveia preta
de 80 kg ha-1 e para o tremoço branco de 70 kg ha-1. A
Manejo de plantas de cobertura de solo em produção hortícola familiar em Nova Friburgo, RJ
Nativa, Sinop, v. 10, n. 1, p. 54-59, 2022.
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semeadura foi realizada a lanço, conforme prática usual pelos
agricultores da região. Não foi realizada adubação de base e
nem de cobertura nas parcelas experimentais. A
caracterização química do solo da área experimental
encontra-se na Tabela 1.
Tabela 1. Caracterização química do solo da área experimental realizada conforme Embrapa (1997).
Table 1. Chemical characterization of the soil in the experimental area carried out under Embrapa (1997).
Textura
(Expedita)
pH
(H2O)
cmolc/dm3
%
mg/dm3
Al (H+Al) Ca Mg Na SB
T
V M
P K
Média 5,4 0,0 8,2 8,0 3,7 0,04 11,8
20,0
59,0 0,0
17,0 44,0
Determinaram-se, nas espécies de cobertura, as
produtividades de fitomassa de parte aérea fresca a partir de
coleta das plantas nas sub-subparcelas; logo após, foram
retiradas amostras dos materiais vegetais acondicionando-as
em sacos de papel e levando-as à estufa, mantidas a 65° C,
com ventilação forçada de ar, onde os materiais
permaneceram até alcançar massa constante, calculando-se
então os teores de matéria seca, o que permitiu estimar a
produtividade de fitomassa de matéria seca de parte aérea.
Nos tecidos vegetais foram determinados os teores de C,
por ocasião da coleta realizada aos 120 dias após o plantio, a
partir de adaptação da técnica preconizada para análises em
solos descrita por Jimenez & Lada (1993), com auxílio de um
analisador elementar de C, H e N (modelo Vario Macro
Cube), após a oxidação das amostras secas e moídas; e de N
em todas as épocas de coleta, baseado no método Kjeldahl,
após a digestão das amostras em meio sulfúrico, em bloco
mantido na temperatura de 350° C, e posterior destilação
(NOGUEIRA; SOUZA, 2005).
A análise de variância somente no caso dos valores de C,
por ser obtido em uma única época de corte, foi realizada
considerando o delineamento em blocos casualizados em
esquema de parcelas subdivididas, tendo as épocas de plantio
como fator das parcelas e as plantas de cobertura como fator
da subparcelas.
Os dados destas três variáveis foram submetidos à análise
de variância e, quando houve significância pelo teste F,
aplicou-se o método de agrupamento de Scott e Knott
(SCOTT; KNOTT, 1974) para caracterizar as diferenças
entre as médias dos níveis dos fatores planta de cobertura e
mês de plantio, considerando o nível de significância de 5%.
Foram realizadas análises de regressão para avaliar o aporte
de fitomassa entre as quatro épocas de corte, também a 5%
de probabilidade. As análises estatísticas foram realizadas
pelos programas SISVAR 5.6 (FERREIRA, 2011) e R (R
CORE TEAM, 2020).
3. RESULTADOS
A produção de MSPA do tremoço branco foi em média
geral das épocas de plantio e de colheita de 1,9 kg ha-1 e da
aveia preta de 1,6 kg ha-1. Porém, houve uma interação tripla
significativa (F = 11,842; GLinteração tripla= 6; GLresíduo = 36; p
= 0,0000) entre os fatores espécie de plantas de cobertura,
época de plantio e de coleta, indicando haver uma
dependência entre eles na interpretação dos resultados. O
tremoço branco produziu significativamente mais MSPA
(4466,7 kg ha-1) que a aveia preta (3564,0 kg ha-1) quando do
plantio em março e coleta aos 120 DAP e do plantio em
outubro e coleta aos 90 DAP (1946,7 kg ha-1 e 1160,0 kg ha-
1 para o tremoço e aveia, respectivamente). A aveia preta teve
bom desenvolvimento no plantio de julho, aportando, aos 90
dias após o plantio, média de 2586,7 kg ha-1 de MSPA,
estatisticamente superior ao tremoço branco, que apresentou
média de 1933,3 kg ha-1 de MSPA (Tabela 2).
Avaliando o comportamento da MSPA entre as épocas
de colheita, pode-se verificar que houve um ajuste linear e
significativo (p<0,05) para aveia preta plantada em março e
tremoço branco plantado em outubro. Quando cultivada em
março, a produção de MSPA de aveia preta aumenta 36,84
kg ha-1 por dia, enquanto a produção de massa seca de
tremoço branco aumenta 41,19 kg ha-1 por dia quando
cultivado em outubro (Figura 2).
Os dados do tremoço branco plantado em março e julho
e da aveia preta plantada em julho e outubro ajustaram-se ao
modelo polinomial quadrático (p<0,05). As produções
mínimas de MSPA de tremoço branco plantado em março e
julho aos 26 e 28 dias após o plantio foram de 287,56 kg ha-1
e 340,17 kg ha-1, respectivamente; e para a aveia preta
plantada em julho a MSPA foi mínima, de 198,82 kg ha-1, aos
13 dias após o plantio, havendo um aumento exponencial na
produção a partir desta data. Para o plantio em outubro, a
produção máxima de aveia preta, na ordem de 1460,66 kg ha-
1, ocorreu aos 74 dias após o plantio (Figura 2).
Tabela 2. Produção de massa seca da parte aérea (MSPA) de aveia-preta e tremoço branco, coletadas aos 30, 60, 90 e 120 dias após o plantio,
considerando três épocas de plantio (março, julho e outubro) em Nova Friburgo - RJ.
Table 2. Dry mass production of the aerial part (MSPA) of black oats and white lupine, collected at 30, 60, 90, and 120 days after planting,
considering three planting seasons (March, July, and October) in Nova Friburgo – RJ.
DAP
Aveia preta
Tremoço branco
Épocas de plantio
-----------------------------------------kg ha-1 -------------------------------------
Março* Julho Outubro Março* Julho Outubro
30 173,3 Aa 238,7 Aa 106,5 Aa 194,7 Aa 212,0 Aa 148,0 Aa
60 1173,3 Aa 1433,3 Aa 1426,7 Aa 1133,3 Aa 1253,3 Aa 1106,7 Aa
90 2053,3 Ab 2586,7 Aa 1160,0 Bc 1880,0 Aa 1933,3 Ba 1946,7 Aa
120 3564,0 Bb 5400,0 Aa 0,0 Bc 4466,7 Aa 4846,7 Aa 3986,7 Aa
Média 1741,0 b 2414,7 a 673,3 c 1918,7 a 2061,3 a 1797,0 a
*Letras iguais na mesma linha, maiúsculas entre coberturas para a mesma época de plantio e de coleta e minúsculas entre épocas de plantio para as mesmas
coberturas e época de coleta, indicam não haver diferença significativa pelo teste de Scott e Knott a 5% de probabilidade (SCOTT e KNOTT, 1974).
Salles et al.
Nativa, Sinop, v. 10, n. 1, p. 54-59, 2022.
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Figura 2. Efeito do corte dos adubos verdes aos 30, 60, 90 e 120 dias
após o plantio (DAP) na massa seca de parte aérea (MSPA) de aveia
preta e tremoço branco, plantados em março, julho e outubro em
Nova Friburgo - RJ.
Figure 2. Effect of the cutting of green manure at 30, 60, 90, and
120 days after planting (DAP) in the dry matter of the aerial part
(MSPA) of black oats and white lupine, planted in March, July, and
October in Nova Friburgo – RJ.
Em relação ao aporte de nitrogênio (N) na MSPA, em
média das épocas de plantio, houve diferença significativa
(p<0,05) entre as espécies de cobertura, com superioridade
do tremoço branco em relação à aveia preta nas épocas de
corte de 60, 90 e 120 DAP, não havendo diferenças
estatísticas (p>0,05) entre as espécies aos 30 DAP. Verificou-
se que na aveia preta o aporte de N foi em média de 23,3,
28,8 e 36,5 kg ha-1, aos 60, 90 e 120 DAP, respectivamente
(Figura 3). No caso do tremoço branco o aporte de N na
MSPA foi em média de 36,7 kg ha-1 aos 60 DAP; 54 kg ha-1
aos 90 DAP; e de 86 kg ha-1 aos 120 DAP (Figura 3),
contribuindo de forma importante para a ciclagem desse
nutriente.
O carbono orgânico avaliado, proveniente da época de
corte de 120 DAP, diferiu estatisticamente (p<0,05) entre as
espécies de cobertura somente para o mês de plantio de
outubro, com tremoço branco aportando 1850,7 kg ha-1 e a
aveia preta 1425,1 kg ha-1 de C orgânico.
Figura 3. Aporte médio de nitrogênio em aveia preta e tremoço
branco. Média das três épocas de plantio. Nova Friburgo - RJ. Letras
iguais nas barras indicam que não há diferença significativa entre as
espécies de coberturas para a mesma época de corte pelo método de
agrupamento de Scott e Knott (SCOTT; KNOTT, 1974), a 5% de
probabilidade.
Figure 3. Average nitrogen supply in black oats and white lupine.
Average of the three planting seasons. Nova Friburgo RJ. The
same letters on the bars indicate that there is no significant
difference between the cover species for the same cutting season
with the grouping method of Scott and Knott (SCOTT; KNOTT,
1974), with 5% probability.
Nas coletas de março e julho, a aveia preta ofereceu
aporte médio de carbono total na ordem de 1425,1 kg ha-1 e
2257,02 kg ha-1 e o tremoço branco de 1850,7 e 2035,5 kg ha-
1, respectivamente, o havendo diferenças significativas
entre as espécies nesses meses de plantios (Figura 4),
possibilitando importante incremento de matéria orgânica no
solo decorrente de ambas as plantas de cobertura.
Figura 4. Aporte de carbono orgânico (C) aos 120 DAP de aveia
preta e tremoço branco em três épocas de plantio em Nova Friburgo
- RJ. Letras iguais nas barras indicam que não diferença
significativa entre as espécies de coberturas para a mesma época de
plantio pelo método de agrupamento de Scott e Knott (SCOTT;
KNOTT, 1974), a 5% de probabilidade.
Figure 4. Organic C supply to the 120 DAP of black oats and white
lupine in three planting seasons in Nova Friburgo RJ. The same
letters on the bars indicate that there is no significant difference
between the cover species for the same planting season with the
grouping method of Scott e Knott (SCOTT; KNOTT, 1974), with
5% probability.
4. DISCUSSÃO
Os resultados de MSPA obtidos, tanto para aveia preta
como tremoço branco, apesar de serem expressivos e
adequados para a prática da adubação verde, foram inferiores
aos encontrados por outros autores em condições
semelhantes, como em Favarato et al. (2015). Entende-se que
Manejo de plantas de cobertura de solo em produção hortícola familiar em Nova Friburgo, RJ
Nativa, Sinop, v. 10, n. 1, p. 54-59, 2022.
58
a produção obtida de MSPA foi menor, nesse caso, em
função de problemas fitossanitários observados,
especialmente ferrugem (Puccinia coronata) no caso da aveia
preta.
No que se refere ao acúmulo de N, na aveia preta o
resultado obtido foi semelhante ao relatado por Acosta et al.
(2014) que, em experimento em Santa Maria (RS), obtiveram
uma imobilização de até 30 kg ha-1 de N, bem como por
Barradas et al. (2001), em Nova Friburgo - RJ, que aos 79
DAP obtiveram o equivalente a 20,4 kg ha-1. Porém, o
resultado desses autores foi bem superior aos 119 DAP
(100,3 kg ha-1). Essa dinâmica foi semelhante para o tremoço
branco em que esses mesmos autores observaram na MSPA
aos 79 DAP, o equivalente a 42,4 kg ha-1 e, aos 119 DAP,
236,6 kg ha-1.
Embora para alguns autores a adubação verde possa levar
ao incremento dos teores e estoques de carbono no solo
(LIMA et al., 2018), para outros esse pode variar conforme a
rotação de cultivos e depende da qualidade da palhada e da
quantidade do adubo verde decomposta e mineralizada
(JANTALIA et al., 2003). Entende-se que, para garantir a
manutenção da qualidade da matéria orgânica e,
consequentemente os estoques de carbono e nitrogênio do
solo, se faz necessário o constante aporte de material
orgânico através da adubação verde (RIBEIRO et al., 2011)
e o uso do plantio direto como forma de evitar a perda de
carbono no solo (JANTALIA et al., 2003).
De acordo com Barradas et al. (2001), o maior potencial
produtivo da aveia preta em Nova Friburgo é obtido quando
o seu cultivo ocorre no período de outono/inverno, porém,
acrescentam que uma estratégia diferenciada pode ser
implementada, com a antecipação do plantio para o final do
verão no mês de março, ou a postergação do plantio para o
final do inverno no mês de agosto, com a produção de massa
vegetal adequada para o uso como adubação verde.
Com relação à época de corte dos adubos verdes, a aveia
preta plantada em março e o tremoço branco plantado em
outubro mantiveram ganhos significativos e lineares na
matéria seca da parte aérea até a última data de avaliação (120
DAP). Porém, para o tremoço branco plantado em março e
julho e aveia preta de julho a produção de matéria seca teve
valores mínimos estimados nas datas de corte de 26, 28 e 13
dias após plantio, respectivamente, sendo que a partir destas
datas a MSPA aumentou exponencialmente até a última data
avaliada (120 DAP). para a aveia preta plantada em
outubro, foi possível estimar um máximo valor de matéria
seca na época de corte de 74 dias após o plantio, havendo
queda na produção a partir desta data.
Na região de Nova Friburgo a ampliação do período de
plantio de adubos verdes de inverno com aveia preta e
tremoço branco, tem se apresentado como estratégia
adequada para ajustar o uso da adubação verde à dinâmica
local das rotações de cultivo de hortaliças, posto que favorece
a adoção da prática pelos agricultores (ANTONIO et al.,
2019).
Nesse sentido, as duas espécies de adubos verdes testadas
apresentaram bom potencial para inserção nos sistemas de
rotação de cultivo de hortaliças de Nova Friburgo - RJ, com
a aveia preta podendo ser plantada preferencialmente em
julho, depois março e, por último, em outubro e o tremoço
branco durante os três meses avaliados, sem perda
significativa da produção. Essas estratégias de épocas de
plantio possibilitaram uma adequada produção de MSPA e
aporte de quantidades significativas de N e C orgânicos entre
outros atributos.
5. CONCLUSÕES
A época ideal para o corte dos adubos verdes varia, na
localidade estudada, com a época do plantio e com o tipo de
planta. Para a aveia preta cultivada em março e para o
tremoço branco plantado em outubro, o ideal é que os
agricultores aguardem pelo menos até 120 dias para o corte
das plantas.
O valor da MSPA da aveia preta plantada em julho, após
os 13 dias da semeadura tem aumento exponencial até 120
após o plantio. Já com a aveia preta plantada em outubro, é
possível estimar um valor máximo de MSPA na época de
corte de 74 dias após o plantio, havendo queda na produção
a partir dessa data.
Nessa ão, o uso da aveia preta nos ambientes de
montanha locais merece cuidado em épocas mais quentes,
particularmente quando da ocorrência de chuvas intensas,
pois o aumento da umidade pode propiciar problemas
fitossanitários. Por sua vez, o tremoço branco apresenta
comportamento regular em plantios fora da época
outono/inverno, se mantendo produtivo e sanitariamente
estável durante todo o ano.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A intensificação do uso da aveia preta e do tremoço
branco nos sistemas de rotação de cultivo de hortaliças de
Nova Friburgo representa uma mudança de paradigma nas
bases produtivas locais, contribuindo para a gestão
sustentável da matéria orgânica dos solos, favorecendo uma
melhor estruturação e manejo racional da água.
Para tanto, os conhecimentos aqui apresentados sobre a
dinâmica de desenvolvimento da aveia preta e do tremoço
branco plantados em diferentes épocas do ano, representam
uma melhor qualificação para processos de construção de
conhecimentos, envolvendo técnicos e agricultores, que
articulem saberes locais e acadêmicos para a adaptação do uso
de plantas de cobertura de solo à realidade das rotações de
cultivo de hortaliças de Nova Friburgo.
Por fim, estudos em sistemas de plantio direto em
hortaliças são recentes, não havendo ainda a consolidação
sobre tecnologias adaptadas nas diversas regiões brasileiras.
Nesse aspecto, é importante ressaltar a importância de
políticas públicas que visem seu fomento junto aos sistemas
de produção, e maior investimento em pesquisas voltadas a
adaptação dos conhecimentos acadêmicos existentes a
dinâmica de produção dos horticultores brasileiros.
7. AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES),
pelo apoio financeiro para a realização da pesquisa.
8. REFERÊNCIAS
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