Nativa, Sinop, v. 9, n. 5, p. 494-499, 2021.
Pesquisas Agrárias e Ambientais
DOI: https://doi.org/10.31413/nativa.v9i5.11895 ISSN: 2318-7670
Diagnose nutricional e índices fotossintéticos de erva-mate
sob diferentes níveis de adubação com zinco
Samara Deschamps GELSLEICHTER1, Heloisa Milesky Alves MASSANEIRO1, Andrei de Souza da SILVA1,
Priscilla DORS1, David José MIQUELLUTI1, Mari Lucia CAMPOS1*, Marcelo Alves MOREIRA1
1 Centro de Ciências Agroveterinárias, Universidade do Estado de Santa Catarina, Lages, SC, Brasil.
*E-mail: mari.campos@udesc.br
(ORCID: 0000-0002-6569-2699; 0000-0002-0113-9720; 0000-0002-8496-6077; 0000-0003-1672-6327;
0000-0002-7369-6163; 0000-0003-3250-2067; 0000-0002-8315-5248)
Recebido em 24/02/2021; Aceito em 11/11/2021; Publicado em 17/12/2021.
RESUMO: A deficiência de zinco representa um problema de saúde pública. Uma das estratégias para
melhorar essa questão consiste em biofortificação agronômica. O objetivo dessa pesquisa foi avaliar o teor de
Zn na parte aérea (folhas e ramos) e o limite crítico de Zn para plantas de erva-mate submetidas a adubação
com sulfato de Zn. O experimento foi conduzido em casa de vegetação no município de Lages. Foi utilizado
Cambissolo Háplico Distrófico Típico, o qual foi submetido a análise química (Tedesco et al., 1995) e
granulométrica (EMBRAPA, 1997). O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado. As
unidades experimentais foram compostas por vasos contendo 6 kg de solo, cinco doses de Zn (0, 100, 200, 300
e 400 mg.kg-1) e sete repetições, totalizando 35 unidades experimentais. Foram realizadas análises antes da
colheita (Índice SPAD, altura e Infrared Gas Analyser - IRGA) e análises após a colheita (peso fresco e seco de
parte aérea, teor de Ca, Mg, P, Cu, Zn na folha). Os dados foram submetidos a análise de variância, com
normalidade testada pelo teste de Shapiro-Wilk e a homogeneidade de variâncias pelo teste de Levenne, a nível
de significância de 5%. A aplicação de doses crescentes de Zn ao solo resultou em aumento do teor de Zn na
parte aérea de forma linear. O teor médio de Zn na folha variou de 27 mg kg-1 na ausência de aplicação de Zn
a 883 mg kg-1 na dose aplicado de 400 mg kg-1. Não houve diferença estatística para massa fresca, seca de parte
aérea, índice SPAD, altura, condutância estomática e transpiração indicando ausência de estresse oxidativo. Não
foi possível calcular o limite crítico de Zn para erva-mate.
Palavras-chave: biofortificação agronômica; Cambissolo; Ilex paraguariensis.
Diagnose yerba mate nutritional and photosynthetic indices under different
levels of zinc fertilization
ABSTRACT: Zinc deficiency represents a public health problem. One of the strategies to improve this issue
is agronomic biofortification. The objective of this research was to evaluate the Zn content in the aerial part
(leaves and branches) and the critical limit of Zn for yerba mate plants submitted to fertilization with Zn sulfate.
The experiment was conducted in a greenhouse in the municipality of Lages. A typical Dystrophic Cambisol
was used, which was subjected to chemical (Tedesco et al., 1995) and granulometric (EMBRAPA, 1997)
analysis. The experimental design used was completely randomized. The experimental units were composed of
pots containing 6 kg of soil, five doses of Zn (0, 100, 200, 300 and 400 mg.kg-1) and seven replications, totaling
35 experimental units. Analyzes were performed before harvesting (SPAD Index, height and Infrared Gas
Analyzer - IRGA) and analyzes after harvesting (fresh and dry aerial weight, and Ca, Mg, P, Cu, Zn content in
the leaf). The data were submitted to analysis of variance, with normality tested by the Shapiro-Wilk test and
homogeneity of variances by the Levenne test, at a significance level of 5%. The application of increasing doses
of Zn to the soil resulted in a linear increase in the Zn content in the aerial part. The average Zn content in the
leaf varied from 27 mg kg-1 in the absence of Zn application to 883 mg kg-1 at the applied dose of 400 mg kg-
1. There was no statistical difference for fresh, dry shoot weight, SPAD index, height, stomatal conductance
and perspiration indicating absence of oxidative stress. It was not possible to calculate the critical limit of Zn
for yerba mate.
Keywords: biofortification agronomic; Cambisol; Ilex paraguariensis.
1. INTRODUÇÃO
A Erva-mate é uma espécie florestal com área de
ocorrência natural na região Sul do Brasil, Nordeste da
Argentina e Leste do Paraguai, botanicamente chamada de
Ilex paraguariensis St. Hill.
O uso da planta tradicionalmente conhecido são as
infusões, com água quente gerando o chimarrão e com água
fria o tererê. Entretanto, seu uso pode ir muito além disso, é
utilizada também na área estética compondo cremes e
máscaras faciais, na culinária, na indústria alimentícia
compondo balas e gomas, além do uso na indústria
farmacêutica em encapsulados, comprimentos, e extratos
visando as propriedades medicinais. São os diferentes grupos
químicos que a erva-mate apresenta em sua composição que
conferem a ela esses inúmeros usos. Dentre eles destacam-se:
Gelsleichter et al.
Nativa, Sinop, v. 9, n. 5, p. 494-499, 2021.
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as saponinas, os alcaloides, os compostos fenólicos e os óleos
essenciais que atuam como antioxidantes, estimulantes,
combatendo micróbios e realizando a eliminação da retenção
de líquidos. Vitaminas e minerais também são presentes na
sua composição (SIMÕES et al., 2001).
Esses compostos estão associados a uma série de
benefícios para saúde humana. Foram realizados
experimentos para comprovação, sendo a maioria feita com
ratos. O substrato utilizado foi o extrato da erva (sólido) ou
o chá (líquido) os resultados obtidos foram a perda de peso,
ação anticonvulsivante, antidepressiva, atenuação da glicemia
e do colesterol (ARÇARI et al., 2011; ARZI et al., 2011;
MARTIN et al., 2013; REIS et al., 2013; PEREIRA et al.,
2012).
Objetivando aumentar a concentração de
micronutrientes nos vegetais, uma das estratégias consiste na
biofortificação agronômica (CAKMAK, 2008) que tem como
intuito suprir a demanda diária necessária de micronutrientes
que muitas vezes se encontra em déficit, principalmente em
pessoas que vivem em países em desenvolvimento. Dentre
os nutrientes com maior frequência de deficiência destacam-
se ferro (Fe), iodo (I), selênio (Se) e o zinco (Zn).
A deficiência de Zn em humanos interfere no
funcionamento do sistema imunológico, que
consequentemente pode gerar maiores chances de se ter
infecções, prejudica o crescimento físico, retarda capacidade
de aprendizagem além de estar relacionado a danos na
duplicação do DNA (DEMMENT et al., 2003; BHUTTA et
al., 2004; GIBSON, 2006; PRASAD, 2007, HAASE et al.,
2020; JOO et al., 2021).
A erva-mate pode ser uma planta com potencial para
programas de biofortificação com Zn. É uma planta
calcífuga, ou seja, que se desenvolve bem em solos ácidos e
com altos teores de alumínio(CARVALHO, 2003) e outros
elementos-traço, o que, pode indicar que a erva-mate possui
capacidade de responder ao aumento de Zn (elemento-traço)
no solo, aumentando por consequência o teor na parte aérea
e na infusão (chimarrão).
Dessa forma o objetivo dessa pesquisa foi avaliar o teor
de Zn na parte aérea (folhas e ramos), e determinar o limite
crítico de Zn para plantas de erva-mate submetidas a
adubação com sulfato de Zn a fim de verificar seu potencial
para uso em biofortificação agronômica.
2. MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido em casa de vegetação do
Departamento de Solos e Recursos Naturais da UDESC, no
munícipio de Lages, SC. O delineamento utilizado foi o
inteiramente casualizado, as unidades experimentais foram
compostas por vasos contendo 6 Kg de solo com 5 doses
crescentes de zinco (0, 100, 200, 300 e 400 mg.kg -1) na forma
de sulfato de zinco, sendo que, cada dose foi composta de 7
repetições.
O solo utilizado foi um Cambissolo plico Distrófico
Típico derivado de arenito botucatu, coletado na localidade
de Pedras Brancas/SC. Esse solo foi seco ao ar, tamisado em
peneira de malha 4 mm, retirada uma amostra para realização
de análise granulométrica (método do densímetro de
Boyoucus, EMBRAPA,1997), e análise química (TEDESCO
et al., 1995). Os micronutrientes Cu e Zn foram extraídos em
HCl 0,1 M e quantificados em espectrofotômetro de
absorção atômica com atomização em chama ar acetileno
(EAA Perkin Elmer 200 ®). A CTC foi determinada a pH do
solo através da soma dos cátions Ca, Mg, Na, K e Al, e em
pH 7, pela soma dos cátions anteriores juntamente com o H+.
As mudas de erva-mate utilizadas foram provenientes da
empresa Eucaflora Florestal, sendo estas certificadas pela
EPAGRI Chapecó/SC. O pH do solo foi corrigido para 5,5.
Antes do plantio foi realizado a adubação com sulfato de
zinco e uma semana após o plantio a adubação com
superfosfato triplo (SFT), cloreto de potássio e ureia, nas
quantidades 20, 20 e 30 kg/ha respectivamente. A adubação
foi realizada de acordo com o manual de adubação e calagem
para os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina,
seguindo as recomendações para a cultura. Durante toda a
condução do experimento o teor de umidade do solo foi
mantido a 75% da capacidade de campo (CC).
2.1. Analises antes da colheita
A medida do índice SPAD foi feita através do medidor
portátil de clorofila SPAD 502 (Konica Minolta®) com
objetivo de obter os valores de intensidade do verde das
folhas, sendo coletado durante o experimento em dois
momentos (30 dias após o plantio e no dia da colheita). Para
tanto, foram selecionadas folhas totalmente expandidas, sem
injúrias ou sintomas de doenças visíveis. As medidas foram
realizadas no terço médio das plantas, sempre em duplicata,
em todas as plantas de cada repetição. A medida da altura da
planta foi realizada no dia da colheita padronizada por meio
da medida da base da planta até a inserção da última folha no
caule. No dia da colheita foi realizada as medidas de taxa
fotossintética líquida (A) das plantas com auxílio de
analisador de gases por infravermelho portátil (IRGA)
equipado com uma câmara foliar com fonte de LED (LI-
6400XT Portable Photosynthesis and Fluorescence System;
LICOR, Lincoln, EUA). Esta leitura foi realizada na mesma
folha selecionada para a leitura do índice SPAD. A colheita
foi realizada quando da estabilização do crescimento da
planta de erva-mate.
2.2. Análises após a colheita
Após a colheita foram avaliados o peso fresco e seco de
parte aérea (folhas e ramos), e o teor dos nutrientes Ca, Mg,
Cu, e Zn na parte aérea. Os teores dos nutrientes foram
determinados utilizando-se o método de extração USEPA
3050B e quantificação em espectrômetro de emissão atômica
com plasma acoplado por indução (ICP-OES). A
confiabilidade do método foi aferida utilizando material
referência de planta CRM-Agro E1001a (FO-01/12)
EMBRAPA. As raízes foram limpas e lavadas com água
destilada, e mantidas em uma solução de álcool 50%, para
posterior determinação de parâmetros radiculares tais como
volume, diâmetro médio e comprimento radicular. Para
determinação de tais parâmetros, as raízes foram distribuídas
uniformemente em cuba de vidro preenchida por lâmina de
água destilada, sem sobreposição, e submetidas à digitalização
em scanner profissional. As imagens obtidas do processo de
scanner foram processadas através do programa
computacional WinRhizo.
Para a construção de um cenário hipotético de ingestão de
Zn por um adulto foi considerado o consumo de 1L de
chimarrão e o uso de 100g de erva-mate.
2.3. Análise estatística
Os dados obtidos foram submetidos a análise de
variância, com normalidade testada pelo teste de Shapiro-
Wilk e a homogeneidade de variâncias pelo teste de Levene,
Diagnose nutricional e índices fotossintéticos de erva-mate sob diferentes níveis de adubação com zinco
Nativa, Sinop, v. 9, n. 5, p. 494-499, 2021.
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a nível de significância de 5%. As análises foram realizadas
utilizando o programa R® (R DEVELOPMENT CORE
TEM, 2012).
3. RESULTADOS
O aumento do teor de Zn aplicado no solo resultou em
aumento linear do Zn na folha (Figura 1). O teor de Zn da
parte aérea na testemunha foi em média 27,22 mg.kg-1
enquanto que na dose 400 mg.kg-1 o teor foi 883,03 mg.kg-1
de Zn.
Os teores dos elementos de Ca, Mg, P e Cu na parte aérea
da erva-mate podem ser encontrados nas Figuras 2, 3, 4 e 5,
respectivamente. Para Ca, Mg e P ocorreu diminuição do teor
na parte aérea a partir da dose de 200 mg.kg-1 de Zn aplicada
ao solo. Não foi possível ajustar uma equação aos teores de
Cu na parte aérea.
Não houve diferenças significativas entre doses de Zn
para altura da planta, peso seco e fresco de folhas e ramos,
diâmetro, comprimento e volume de raiz (Tabela 1) e para
intensidade do verde da folha, taxa fotossintética,
condutância estomática e transpiração (Tabela 2).
Figura 1. Teor de Zn nas folhas de erva mate em função das doses
de Zn aplicados no solo.
Figure 1. Zn content in mate leaves as a function of Zn doses
applied to the soil.
Figura 2. Teores médios de Ca na parte aérea da erva mate em
função das doses crescentes de Zn aplicados ao solo.
Figure 2. Mean contents of Ca in the aerial part of mate as a function
of increasing doses of Zn applied to the soil.
Figura 3. Teores médios de magnésio na parte aérea da erva mate
em função das doses crescentes de Zn aplicados ao solo.
Figure 3. Average contents of magnesium in the aerial part of mate
as a function of increasing doses of Zn applied to the soil.
Figura 4. Teores médios de fósforo na parte aérea da erva mate em
função das doses crescentes de Zn aplicados ao solo.
Figure 4. Average contents of phosphorus in the aerial part of mate
as a function of increasing doses of Zn applied to the soil.
Figura 5. Teores médios de cobre na parte aérea da erva mate em
função das doses crescentes de Zn aplicados ao solo.
Figure 5. Average contents of copper in the aerial part of mate as a
function of increasing doses of Zn applied to the soil.
Tabela 1. Valor médio para cada variável (adimensional) obtida pela divisão da média das doses 100, 200, 300 e 400 mg kg-1 pela média da
testemunha.
Table 1. Mean value for each variable (dimensionless) obtained by dividing the mean of the doses 100, 200, 300 and 400 mg kg-1 by the
mean of the control.
Zn solo
(mg kg-1) Altura Peso Fresco Peso Seco Raiz
Raiz Folha Raiz Folha Diâmetro Comprimento Volume
100 0,93 0,99 0,84 1,00 0,95 1,05 0,80 0,85
200 0,98 1,09 0,92 1,03 1,11 0,95 0,91 0,8
300 1,00 1,12 0,72 1,10 0,93 1,03 0,87 0,93
400 1,04 1,06 0,79 1,09 1,27 0,99 0,81 0,81
y = 2,1557x + 17,786
R² = 0,927
0
200
400
600
800
1000
0 100 200 300 400
Teor de Zn folha (mg kg-1)
Zn aplicado ao solo (mg kg-1)
y = -2E-06x2+ 0,001x + 0,3763
R² = 0,7011
0,00
0,10
0,20
0,30
0,40
0,50
0,60
0 100 200 300 400
Teor de Ca (%)
Zn aplicado ao solo (mg kg-1)
y = -1E-06x2+ 0,0006x + 0,2791
R² = 0,7892
0,00
0,10
0,20
0,30
0,40
0,50
0 100 200 300 400
Teor de Mg (%)
Zn aplicado ao solo (mg kg-1)
y = -2E-07x2+ 7E-05x + 0,045
R² = 0,7461
0
0,01
0,02
0,03
0,04
0,05
0,06
0 100 200 300 400
Teor de P (%)
Zn aplicado ao solo (mg kg-1)
0,0
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
6,0
0 100 200 300 400
Teor de Cu (mg kg-1)
Zn aplicado ao solo (mg kg-1)
Gelsleichter et al.
Nativa, Sinop, v. 9, n. 5, p. 494-499, 2021.
497
Tabela 2. Valor médio para cada variável (adimensional) obtida pela divisão da média das doses 100, 200, 300 e 400 mg kg-1 pela média da
testemunha.
Table 2. Mean value for each variable (dimensionless) obtained by dividing the mean of the doses 100, 200, 300 and 400 mg kg-1 by the
mean of the control.
Zn solo
(mg kg-1)
SPAD 1 SPAD 2
Taxa
Fotossintética
Condutância
Estomática
Transpiração
100
1,13
0,92
0,78
1,11
200
1,39
1,01
1,09
1,01
300
1,11
1,01
0,93
1,08
400
1,19
1,11
0,98
1,13
SPAD – intensidade do verde da folha, SPAD 1 realizado 30 dias após o plantio SPAD 2 no dia da colheita.
A Figura 6 apresenta os cenários hipotéticos (CH) 1 e 2
onde 14 e 60 mg de Zn seriam a quantidade do elemento
obtido (ou absorvido) por um adulto pelo consumo de 1L de
chimarrão e 100 gramas de erva-mate cultivada sob aplicação
de 100 e 200 mg kg-1 de Zn no solo, respectivamente. Para
adultos, mulheres grávidas e lactantes, os valores de ingestão
diária recomendada estão entre 7 mg/dia a 16 mg/dia,
dependendo do sexo e da ingestão de fitatos na dieta
(HAASE e al., 2020). Para CH1 o teor de Zn é muito
próximo ao Ingestão Diária Recomendada (IDR), enquanto
que no CH 2 a quantidade de Zn seria cinco vezes superior a
IDR.
Figura 6: Ingestão média de Zn pelo consumo de 1 L de chimarrão
calculado para erva mate cultivada nas doses de Zn de 100 mg.kg-1
(CH1) e 200 mg kg-1 (CH2) aplicadas ao solo e Valor de Ingestão
Diária Recomendada (IDR) para um adulto, segundo Joo et al.
(2021).
Figure 6: Average Zn intake by consuming 1 L of herb tea calculated
for mate cultivated in Zn doses of 100 mg kg-1 (CH1) and 200 mg
kg-1 (CH2) applied to the soil and Recommended Daily Intake Value
(RDI) for an adult, according to Joo et al. (2021).
4. DISCUSSÃO
Estudos científicos têm apontado que a erva mate é capaz
de translocar e acumular Pb (SILVA et al., 2019), As e Cd
(PARDINHO et al., 2020), Ca e Mn (MOTA et al., 2021) nas
folhas e que a erva mate é uma hiperacumuladora de Mn
(MAGRI et al., 2021). Magri et al. (2021) e Matos et al. (2021)
observaram correlação positiva entre teor de Zn no solo e
teor na folha da erva-mate coletada em diferentes regiões
produtoras no sul do Brasil, porém não estudos científicos
publicados sobre absorção e acumulo de Zn em plantas de
erva mate.
Os teores de Zn nas folhas (na dose 400 mg.kg-1 o teor
foi 883,03 mg.kg-1 de Zn) observados no presente estudo
podem indicar capacidade de hiperacumulação de Zn. Magri
e colaboradores (2021) avaliaram a capacidade de acumulo de
Mn em plantas de erva mate. Os autores usaram solos de
diferentes materiais de origem (basalto e arenito), com e sem
calagem, e seis doses de Mn (0, 30, 90, 270, 540 e 1.080 mg
kg-1) e cultivaram as plantas por 203 dias. As plantas foram
capazes de acumular nas folhas, na dose de 540 mg kg-1
aplicada no solo, entre 13.452,0 (solo derivado de arenito) e
12.127,0 mg.kg-1 (solo derivado de basalto).
Para uma planta ser considerada hiperacumuladora é
necessário ser capaz de translocar para parte aérea um ou
mais elementos inorgânicos em níveis até cem vezes maiores
que outras espécies, crescendo sob as mesmas condições.
Dessa forma para a planta de erva mate ser considerada como
hiperacumuladora são necessários outros experimentos que
utilizem maiores doses de Zn para verificar a capacidade de
acumulação do metal sem prejuízo ao desenvolvimento da
planta. Assim como são necessárias pesquisas futuras para se
obter o valor do limite crítico (LC) de Zn para erva-mate, ou
seja, o teor de zinco na parte aérea que resulta em redução de
10% de massa seca da planta.
Os valores apresentados nas tabelas 1 e 2 indicam que
valores próximos de 1,0 o houve diferença entre a dose
zero e as demais doses de Zn aplicadas ao solo. Geralmente
teores foliares acima de 300 mg kg-1 de Zn tem efeito de
toxicidade para a maioria das plantas (LIN; AARTS, 2012),
para erva-mate isso não se confirmou, que ela não
apresentou redução de altura, de matéria seca, e de taxa
fotossintética. Quando a planta está sob excesso de Zn, pode
ocorrer uma diminuição no seu peso seco (PS) e fresco (PF),
pela menor produção de fotoassimilados, devido, a redução
das taxas fotossintéticas. O estresse causado por excesso de
Zn pode levar a alterações no aparato fotossintético, devido
a competição e substituição do magnésio (ativador da
enzima) por esse elemento comprometendo dessa forma a
atividade da enzima rubisco (VAN; CLIJSTERS, 1986).
A ausência de efeito para os parâmetros transpiração e
condutância estomática (tabela 1) sugerem possível
compartimentalização do zinco nas células da folha, evitando
assim, danos aos processos fisiológicos. Estudos mostram
que a sensibilidade ao Zn varia conforme a dose aplicada e a
espécie vegetal. Existem plantas com alta tolerância a esse
elemento, podendo atingir teor de 20 g kg-1 de Zn (KUPPER
et al., 1999). Porém existem plantas que apresentam sintomas
de toxidez com baixa quantidade do elemento como a cultura
do cafezeiro. Cambrollé et al. (2013) observaram que doses
de Zn acima de 90 mmol L-1 (5886 mg.kg-1) foram
responsáveis pelo declínio na atividade fotossintética, em
Limoniastrum monopetalum (L.).
De maneira geral, quando ocorre estresse oxidativo tem-
se produção de espécies reativas ao oxigênio, como
superóxido (O2-), radicais hidroxila (OH-) e peróxido de
hidrogênio (H2O2) que, ao interagirem com componentes
celulares, promovem danos oxidativo em ácidos nucleicos,
proteínas, úcares e lipídios, o que, em condições extremas
acarretam em morte celular (GADJEV et al., 2008). Tais
danos não foram observados no presente estudo.
14
60
16
0
10
20
30
40
50
60
70
CH 1 CH 2 IDR
Zn (mg)
Cenários
Diagnose nutricional e índices fotossintéticos de erva-mate sob diferentes níveis de adubação com zinco
Nativa, Sinop, v. 9, n. 5, p. 494-499, 2021.
498
Nas figuras 2, 3, 4 e 5 tem-se os teores dos elementos de
Ca, Mg, P e Cu na parte aérea da erva-mate. A queda nos
teores de cálcio e magnésio com o aumento das doses de Zn
se deve a competição no momento da absorção entre os
cátions divalentes Ca+2, Mg+2 e Zn+2, gerando o chamado
efeito antagônico (KABATA-PENDIAS, 2000).
Comportamento semelhante foi observado por Soares et al.
(2001) trabalhando com eucalipto, em solução nutritiva. Já a
diminuição no teor de fósforo pode estar relacionada com a
precipitação do fósforo no solo na forma de fosfato de zinco,
acarretando imobilização do elemento. Quanto aos teores do
elemento Cu não foi possível ajustar uma equação, o que
pode indicar que o aumento no Zn não interferiu diretamente
na absorção e translocação do Cu.
A erva-mate responde a adubação com Zn e pode ser
uma importante fonte deste na dieta dos consumidores de
chimarrão, entretanto, o cálculo de ingestão diária de Zn leva
em consideração a quantidade de calorias ingeridas (JOO et
al., 2021) e o teor de fitatos na dieta (HAASE et al., 2020), o
que não foi considerado nos cenários hipotéticos 1 e 2 do
presente estudo.
O Zinco é essencial a saúde humana, por estar envolvido
na replicação do DNA (MEHRI, 2020) e divisão celular, nos
processos catalíticos enzimático, no metabolismo de energia
e no crescimento. (CRUZ; SOARES, 2011; JOO et al., 2021).
Dietas com baixa ingestão de zinco podem aumentar o risco
de desenvolvimento de doenças renais crônicas em
indivíduos com função renal normal (JOO et al., 2021). Os
humanos o tolerantes à ingestão de até 100mg/dia de Zn.
Nos casos de envenenamento agudo suas manifestações
incluem náuseas, vômitos, diarreia, febre e letargia (MEHRI,
2020).
5. CONCLUSÕES
A aplicação de doses crescentes de Zn ao solo resultou
em aumento do teor de Zn na parte aérea de forma linear;
A erva mate acumulou 883,03 mg.kg-1 de Zn na parte
aérea na maior dose aplicada de Zn ao solo;
Não houve diferença estatística para massa fresca, seca de
parte aérea, índice SPAD, altura, condutância estomática,
transpiração e parâmetros radiculares indicando ausência de
estresse oxidativo;
Doses de Zn acima de 200 mg.kg-1 conduziram a redução
dos teores Ca, P e Mg nas folhas.
Não foi possível calcular o limite crítico de Zn para erva-
mate.
6. AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), a
Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de
Santa Catarina (FAPESC) e a Universidade do Estado de
Santa Catarina (UDESC) pelo apoio financeiro. Agradecem
também a EMBRAPA pela concessão do material de
referência RM-Agro E1001a (FO-01/12).
7. REFERÊNCIAS
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