Lange et al.
Nativa, Sinop, v. 9, n. 3, p. 294-301, mai./jun. 2021.
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comprova pelos valores médios de H+Al aos 200 dias, que
foram em média de 4,7 cmolc dm-3 passando para 6,6 cmolc
dm-3 aos 300 dias (Tabela 4), decorrentes da aplicação de uma
maior dose de N no milho e ao período de repouso do solo,
o que deve ter provocado maior acidificação do solo.
A aplicação de fertilizantes nitrogenados causa
acidificação no solo (CANTARELLA; MONTEZANO,
2010), além do balanço eletroquímico e da absorção/extração
e exportação de nutrientes que as culturas necessitam,
absorvendo cátions como K+, Ca2+ e Mg2+ e exsudando H+
na rizosfera (LANGE et al., 2019).
Os valores de V% do solo não passaram de 50% na média
dos tratamentos, decaindo na última avaliação para 44%,
valor menor que o proposto pelo método (67%),
evidenciando que os valores pretendidos não têm sido
atingidos, como apontado por Natale et al. (2007) e Morelli
et al. (1992).
Os teores de Ca, Mg e as relações Ca:Mg no solo aos 45,
90, 200 e 300 dias seguiram a linearidade buscada no trabalho,
conforme os tratamentos propostos corroborando com Silva
(1980), Moreira et al. (1999) e Medeiros et al. (2008),
confirmando que se pode estabelecer os cálculos para as
relações desejadas, conhecer os teores de Ca e Mg nos
corretivos a serem usados e as mesmas acontecem no solo.
Aos 300 dias as relações Ca:Mg começaram a se estreitar,
com um aumento da disponibilidade de Mg no solo em
relação a Ca, como pode ser visto comparando os valores
absolutos de Mg da amostragem aos 200 dias versus 300 dias,
com maiores valores para a última coleta, além dos maiores
valores da % de Mg na CTC. Isto é resultado do consumo
maior de Ca nos tratamentos em que havia mais cálcio
disponível (Tabela 5) e também devido a dureza das rochas.
A maior dureza da dolomita (3,5 a 4,0) na escala de Mohs em
relação a dureza da calcita (3,0), orienta ao calcário calcítico
uma reação mais rápida e maior liberação de Ca inicialmente
com comportamento contrário no calcário dolomítico, que
irá aumentar a liberação de Mg ao longo do tempo. As
variações nas % de Ca e de Mg na CTC também seguiram a
tendência já apresentada aos 90 dias, com a maior % de Ca
no tratamento 06:01, e a maior % de Mg no tratamento 01:01.
Segundo Yadare; Girdhar (1981), há competição entre o Ca
e Mg pelos sítios de adsorção no solo, onde o Ca apresenta
maior preferência em relação ao Mg no complexo de troca
do solo, assim com o passar do tempo e a maior liberação de
Mg decorrente da reação do calcário dolomítico, aumentará
o teor de Mg no solo, ficando o Ca no complexo de troca.
Moreira et al. (1999), estudando relações Ca:Mg no solo
também apontam redução na disponibilidade de Ca ao longo
do tempo de cultivo, decorrente do consumo de Ca pelas
plantas de alfafa, que extraem alta quantidade de Ca.
As relações Ca:Mg no solo determinaram o
comportamento da cultura da soja em algumas situações, nos
aspectos vegetativos com plantas mais bem desenvolvidas em
altura, inserção de vagens mais altas, massa do sistema
radicular e da parte aérea maiores nas relações Ca:Mg ≥04:01
e, por consequência, presença de Ca ≥4,0 cmolc dm-3,
conforme mostram os resultados da amostragem aos 90 dias
da incubação, data anterior ao cultivo da soja. A alta
disponibilidade de Ca comprova a importância do elemento
para o desenvolvimento da planta, auxiliando o crescimento
do sistema radicular e no estabelecimento da cultura, pois
este nutriente faz parte da parede celular, das estruturas de
crescimento da planta, como ligante na calmodulina, proteína
importante na regulação da atividade de muitas enzimas, e
sua falta causa a atrofia do sistema radicular, inadequado
desenvolvimento da gema apical (MALAVOLTA et al.,
1997).
Gallo et al. (1956) verificaram acréscimo de hastes e
galhos na presença de calcário dolomítico em relação a
calcítico. Moreira et al. (1999) ao cultivarem alfafa sob
diferentes relações Ca:Mg não verificaram ganho de matéria
seca da parte aérea após seis cortes, já a peso fresco dos
nódulos e a massa seca foram significativamente superior no
tratamento em que a relação Ca:Mg no solo era de 04:01,
sendo a maior relação testada pelos autores.
O número de grãos por planta, quantidade de vagens por
planta e número de vagens com dois grãos foram superiores
no tratamento 01:01, o que resultou numa produção de grãos
estatisticamente superior neste tratamento (01:01), seguido
dos tratamentos 02:01 e 05:01. Holzschuh (2007) variando
proporções de calcários em três localidades não verificou
diferença para produtividade da soja ao variar as relações
Ca:Mg tanto com calagem superficial ou incorporada.
Este resultado adverso ao obtido neste trabalho pode
estar relacionado a possíveis stress hídricos que no presente
trabalho não houveram e que podem ocorreu à campo.
Porém em campo é fundamental que a planta invista em
sistema radicular mais abundante (tratamento 04:01, 06:01 e
03:01), como visto, visando tolerar condições adversas e
mesmo assim produzir no final do ciclo, o que aconteceu no
tratamento 05:01.
As variações nos teores de Ca e Mg foliares seguiram a
tendência dos nutrientes no solo, o que corrobora com
Salvador et al. (2011) estudando variações Ca:Mg no solo e
efeitos na soja, Munoz Hernandez; Silveira (1998) ao
avaliarem Ca:Mg no milho e Gomes et al. (2002) e Moreira et
al. (1999) no tecido foliar das plantas de alfafa.
Plantas de milho com maior diâmetro de colmo, maior
acúmulo de massa radicular e da parte aérea e mais grãos por
espiga cresceram sob condições de Ca:Mg no solo ≥04:01,
em teores de Ca no solo elevados, com comportamento
similar ao obtido em alguns parâmetros na soja. Munoz
Hernandez; Silveira (1998) trabalharam com quatro relações
Ca:Mg no solo e duas saturações por bases (50 e 70%) e
observaram diferença no acúmulo de massa seca da parte
aérea do milho aos 42 dias, favorável às relações 02:01 e 03:01
apenas no V% de 50, sem efeito ao se aumentar o V% para
70. Clark et al. (1997) verificaram maior massa radicular no
milho para relações Ca:Mg iguais a 20:10 e 10:01, comparadas
as menores relações. Silva (1980) obteve maior acúmulo de
massa nas raízes e na parte aérea na relação 03:01, comparada
a 01:01 em milho, em dois solos distintos.
Tanto na cultura da soja como no milho, houve
interferência da relação Ca:Mg no solo sobre a massa de grãos
das culturas. Na soja, uma possível menor absorção de K
pode ter ocorrido em altos teores de Mg no solo (01:01),
como em altos teores de Ca (06:01), justificando a inibição
competitiva entre K, Ca e Mg. Este comportamento foi
relatado por Medeiros et al. (2008) no milho, por Salvador et
al. (2011), na soja.
No milho esta condição fica ainda mais evidente, com
redução aparentemente linear da massa dos grãos com o
aumento do teor de Ca no solo. É sabido que o nutriente que
mais favorece o enchimento de grãos é o K e que altos teores
de Ca e Mg no solo podem interferir na absorção de K, pela
competição pelo mesmo sitio de absorção.
O resultado da análise de solo após a colheita da soja
mostrou que o solo apresentava apenas 32,0 mg dm-3 de K