Amaral et al.
Nativa, Sinop, v. 9, n. 1, p. 44-53, jan./fev. 2021.
protegendo-os efetivamente contra a erosão, estimulam
economicamente a produção, sua sustentabilidade, com base
na certificação participativa (MAIA et al., 2006; GARCEZ;
MIELITZ NETO, 2008; NUNES; VIVAN, 2011). Os SAF
são sistemas inteligentes e diversificados que produzem
alimentos, madeiras, entre outros produtos, que podem
aumentar a renda do agricultor reduzindo a pressão sobre as
florestas nativas, ajudando a conservar e proteger o solo,
água, biodiversidade e a fixar carbono, entre outros
benefícios (NUNES; VIVAN, 2011; BJÖRKLUND et al.,
2012; SILVA, 2013). Esses sistemas são formas de uso ou
manejo da terra, nos quais se combinam espécies arbóreas
(frutíferas e/ou madeireiras) com cultivos agrícolas e/ou
criação de animais, de forma simultânea ou em sequência
temporal e que promovem benefícios econômicos e
ecológicos, que podem ser considerados serviços ambientais.
Os SAF na região de Três Cachoeiras-RS, próxima a
Torres no Litoral Norte do Rio Grande do Sul, são
constituídos pela implantação e/ou conversão de bananais
convencionais em bananais agroflorestais, também
denominados de sistemas silvibananeiros, manejados por
agricultores familiares, sob sua ótica cultural, ecológica,
econômica, dentre outras, com apoio de organizações não
governamentais, a exemplo do Centro Ecológico – Litoral
Norte. São consórcios variados de bananeiras (Musa sp),
palmito juçara ou palmiteiro (Euterpe edulis Martius), árvores
nativas madeiráveis (louro-pardo, cedro, sobragi, canjarana),
frutíferas, e uma diversificada variedade de plantas não
arbóreas nativas e exóticas, manejadas sob a óptica da
agricultura ecológica. Várias espécies florestais são oriundas
da regeneração natural (aroeira pimenteira, canelas, alecrim,
canjerana, ingás, dentre outras), sendo que algumas são
podadas periodicamente para manejar a entrada de luz em
períodos críticos e/ou para aumentar a cobertura morta
sobre o solo e incrementar seu teor de matéria orgânica
(VIVAN, 2002; GARCEZ; COTRIM, 2007; GARCEZ;
MIELITZ NETO, 2008; FAVRETO et al., 2010;
BJÖRKLUND et al. 2012; WIVES; MACHADO, 2014;
GONCLAVES; MOTTER, 2015). É feito um controle de
sombreamento no SAF quando as árvores crescem e
ultrapassam as bananeiras, definindo assim uma estrutura
vertical típica, que não comprometa a produção de banana
(VIVAN, 2002; GONCLAVES; MOTTER, 2015).
Os SAF podem ser estudados e avaliados segundo a
abordagem da Silvicultura de Precisão ou Floresta de
Precisão, que fazem uso de diversas geotecnologias, a
exemplo do posicionamento pelos Sistemas Globais de
Navegação por Satélite (GNSS), uso de Sistemas de
Informações Geográficas (SIG), banco de dados geográficos,
dentre outras inúmeras tecnologias. Essas tecnologias podem
ser empregadas, por exemplo, para determinar a variabilidade
da produção, dos fatores que a condicionam no tempo e no
espaço, bem como de outras características destes sistemas
alternativos de produção, para elaborar recomendações de
manejo otimizadas e específicas para determinadas zonas
dentro da área de cultivo, seja cultivo agrícola ou florestal.
Este manejo específico é possível pelo uso de ferramentas
especializadas em gestão e visa maximizar a produção e a
renda obtida, aplicar de forma eficiente os recursos
disponíveis, minimizar os impactos ambientais, dentre outros
(BANDELERO et al., 2007; MAEDA et al., 2014; AMARAL
et al., 2018).
Nos SAF silvibananeiros do Litoral Norte do Rio Grande
do Sul estudos com esta abordagem ainda não foram
realizados. Conhecer a variabilidade espacial dos SAF é
importante, pois poderá ser utilizada para otimizar o seu
manejo. Neste sentido, o geoprocessamento (coleta e
armazenamento de dados, análise e geração de informações)
e as geotecnologias, associadas a Silvicultura, Manejo
Florestal e Exploração Florestal, dão suporte ao que se chama
de Floresta de Precisão (BANDELERO et al., 2007;
MAEDA et al., 2014; AMARAL et al., 2018).
Os SIG são difundidos por sua capacidade de auxiliar
gestores na tomada de decisão e são aliados na formulação de
políticas públicas para gestão do território, análise espaciais e
ambientais, agricultura de precisão, análise de zoonoses e
epidemias, gestão dos recursos hídricos, análise
socioeconômica de populações, planejamento urbano e rural,
geomarketing, cartografia temática, dentre uma infinidade de
possíveis aplicações (LONGLEY et al., 2013; MIRANDA,
2015). A utilização de SIG cresceu consideravelmente nas
últimas décadas, possibilitando um melhor gerenciamento de
informações, o que proporciona uma melhoria para a tomada
de decisões em diversas áreas como planejamentos
municipais, estaduais e federais, e também no setor florestal
em áreas de preservação ambiental, reservas legais,
fragmentação, plantios comerciais, que deverá ser ainda mais
massificado neste setor com a adoção da Silvicultura de
Precisão ou Foresta de Precisão. Os SIG são importantes
geotecnologias, especialmente quando aplicadas à Ciência
Florestal, pois é o meio onde o geoprocessamento
propriamente dito ocorre, ou seja, onde as análises espaciais,
necessárias para a utilização dos dados georreferenciados
coletados na floresta ou em outros usos da terra, podem ser
realizadas para executar parte de um projeto de Floresta ou
Silvicultura de Precisão.
Neste contexto, o gvSIG® é uma importante opção, por
ser um SIG livre e de código aberto (open source), sendo
distribuído gratuitamente e pode ter suas funções
aprimoradas pelos usuários, considerado interessante às
universidades e demais instituições públicas, inclusive
prefeituras, pois, além dos computadores, não demanda
investimento em aquisição, licença de uso e/ou taxas de
atualização de versões de software, bem como aquisição de um
sistema operacional para computador específico, pois é
compatível com Windows, Linux e Mac OS. O gvSIG conta
ainda com versões portáteis (executáveis), que podem ser
transportadas em dispositivos de memórias externa e
utilizados em computadores sem necessitar de instalação
(REOLON, 2008; ASOCIACIÓN gvSIG, 2020). Este SIG
possui ainda interface amigável, versatilidade e oferece
funções de geoprocessamento de camadas de dados
geográficos armazenados em estruturas dos tipos vetorial e
raster (REOLON, 2008). Segundo o mesmo autor, o gvSIG
foi lançado em 2005, e conta com aprimoramento contínuo,
tendo sido desenvolvido pelas instituições espanholas
Generalitat Valenciana e Iver Tecnologias de la Información S.A.,
dentre outros colaboradores e cofinanciadores, como a
União Europeia.
Para compreender os fatores que interferem na
produtividade das culturas e nos atributos da vegetação, a
variabilidade espacial passou a ser incorporada no manejo da
produção agrícola e florestal. Técnicas de estatística e análise
espacial são ferramentas eficientes para auxiliar na tomada de
decisão do manejo mais adequado, pois estudam a
variabilidade espacial e temporal de atributos do solo, da
planta e do clima. Elas propiciam a geração de informação e
o compartilhamento/uso da mesma, na forma de mapas