Nativa, Sinop, v. 9, n. 1, p. 30-35, jan./fev. 2021.
Pesquisas Agrárias e Ambientais
DOI: https://doi.org/10.31413/nativa.v9i1.10973 ISSN: 2318-7670
Adsorção de fósforo em solos de regiões tropicais
Ana Paula Carrara VINHA1*, Bruna Helena CARRARA1, Emanuella Farias Santos SOUZA1,
Jussane Antunes Fogaça dos SANTOS1, Sayonara Andrade Couto Moreno ARANTES1
1Instituto de Ciências Agrárias e Ambientais, Universidade Federal de Mato Grosso, Sinop, MT, Brasil.
(Orcid: 0000-0002-8462-8983; 0000-0002-5866-1819; 0000-0001-9109-2163; 0000-0001-5089-2260; 0000-0002-1559-1021)
*E-mail: anapcarrara@gmail.com
Recebido em 13/08/2020; Aceito em 22/12/2020; Publicado em 10/02/2021.
RESUMO: O fósforo (P) é o nutriente mais limitante ao cultivo nos solos tropicais, que, geralmente,
apresentam alta capacidade de adsorção de P. Alguns atributos químicos e físicos do solo como o teor de argila,
pH, CTC efetiva e matéria orgânica influenciam na dinâmica de adsorção. O objetivo deste estudo foi avaliar o
processo de adsorção do fósforo em um Latossolo Vermelho Amarelo (LVA) e um Neossolo Quartzarênico
(RQ) da região de transição Cerrado-Amazônia, e avaliar os atributos dos solos que influenciam na dinâmica
de adsorção do P. Os ensaios de sorção foram realizados pelo método “Batch” ou em batelada e à partir dos
dados obtidos foram construídas curvas obtendo a equação linearizada de Langmuir, com as quais foram
determinados os valores de capacidade máxima de adsorção de P (CMAP), a constante relacionada com a
energia de ligação (KL) e o fator capacidade de P máximo (FCPmáx). Houve diferença na CMAP, KL e FCPmáx
dos solos estudados, sendo que os maiores valores foram encontrados no LVA, devido principalmente ao maior
teor de argila em relação ao RQ. A matéria orgânica foi um dos poucos atributos que tiveram correlação negativa
com os atributos de adsorção, ressaltando sua importância no manejo para aumentar a eficiência da adubação
fosfatada.
Palavras-chave: Latossolo Vermelho Amarelo; Neossolo Quartzarênico; Isotermas de adsorção.
Phosphorus adsorption in soils of tropical regions
ABSTRACT: Phosphorus (P) is the most limiting nutrient for cultivation in tropical soils, as they generally
have high P adsorption capacity. Some chemical and physical attributes of soil such as clay content, pH,
effective cation exchange capacity (ECEC) and organic matter influence the adsorption dynamics. The objective
of this study was to evaluate the behaviour of the phosphorus adsorption process in a Red-Yellow Latosol and
a Quartzarenic Neosol from the Cerrado-Amazon transition region, and to evaluate the soil attributes that
influence the adsorption dynamics of the soil of the phosphorus. Sorption tests were performed using the
“Bach” method, from the Langmuir linearized equation, the maximum P adsorption capacity (MPAC), the
constant with the binding energy (KB) and the maximum capacity factor (PCFmax) were selected. There was a
difference in MPAC, KB and PCFmax of the studied soils, and the highest values were found in the Red-Yellow
Oxisol, mainly due to the higher clay content in relation to theTypic Quartzipisamment. Organic matter was
one of the few attributes that had a negative correlation with the adsorption attributes, highlighting
(emphasizing) it’s importance in (soil) management to increase the efficiency of phosphate fertilization.
Keywords: Red-Yellow Latosol; Quartzarenic Neosol; Adsorption isotherms.
1. INTRODUÇÃO
De acordo com o processo de intemperismo, um solo
pode alterar sua função de fonte ou dreno de fósforo (P) para
atender as necessidades das plantas ou competir com elas,
fixando o P adicionado ao solo em sítios ativos. O aumento
da capacidade de adsorção de ânions ocorre por meio de
sítios ativos positivos, formados principalmente por
hidróxidos de ferro e alumínio (FARIAS et al., 2009).
Os processos de adsorção e dessorção de P do solo
consideram dois compartimentos interligados, a solução do
solo e a fase sólida, essa última armazena o nutriente que
abastece a primeira (DE OLIVEIRA et al., 2014).
Segundo Parfitt (1978), o processo de adsorção de P
ocorre na forma binucleada em três estádios temporais,
conforme tempo de reação. No estádio 1, predominam a
neutralização das cargas positivas (grupos R-OH2+), neste
estádio a reação dá-se de forma rápida e fortemente em sítios
muito reativos. No estádio 2, o P é adsorvido em sítios menos
reativos. no estádio 3, a longo prazo, interações de
caráter eletrostático entre o PO4 e a superfície dos coloides,
migrando para lóbulos internos dos cristais, podendo ser
considerado como precipitação.
Os estádios estão relacionados com a afinidade entre o P
e os sítios de adsorção em cada fase e, consequentemente,
Vinha et al.
Nativa, Sinop, v. 9, n. 1, p. 30-35, jan./fev. 2021.
31
com distintas energias de ligação. Como pressupostos do
mecanismo de adsorção, os sítios de adsorção do P devem
ser isolados e independentes quanto à energia de retenção e
que as moléculas adsorvidas não devem interagir umas com
as outras (DE OLIVEIRA et al., 2014).
Vários modelos matemáticos são utilizados para
descrever as proporções de P adsorvido à fase sólida em
razão da adição de quantidades crescentes de P na solução. O
uso da isoterma de Langmuir tem sido comum na
determinação desses fatores, uma vez que contém um
parâmetro quantitativo relacionado a capacidade máxima de
adsorção de fósforo (CMAP) e um parâmetro qualitativo que
expressa a energia de ligação entre ânions e locais de
adsorção, a constante “k” (FARIAS et al., 2009; MATOS et
al., 2017). Podendo ser relacionada as propriedades dos solos
para obtenção de informações sobre a natureza das reações
entre o solo e o P adicionado.
A intensidade da adsorção de P no solo é relacionada com
a quantidade em que ele está presente ou é adicionado,
promovendo um equilíbrio entre os dois fatores. Em solos
argilosos é característico uma maior adsorção de P,
principalmente os mais intemperizados, onde a relação
quantidade e intensidade é maior, quando comparado a um
solo arenoso (CORRÊA et al., 2011). Essas isotermas
revelam que a adsorção de P aumenta com o aumento da
concentração do elemento em solução de equilíbrio.
Em solos altamente intemperizados a eficiência da
adubação fosfatada é, geralmente, baixa, pois grande parte do
P adicionado é imobilizada no solo, em virtude de reações de
precipitação, adsorção e fixação em coloides minerais
(PELUCO et al., 2015)
Dessa forma o objetivo deste estudo foi avaliar a
adsorção do fósforo em um Latossolo Vermelho Amarelo e
em um Neossolo Quartzarênico, presentes na região de
transição Cerrado-Amazônia, e avaliar os atributos dos solos
que influenciam na dinâmica de adsorção do P.
2. MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido no Laboratório de Solos da
Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), em Sinop-
MT. Os solos utilizados foram coletados em áreas de floresta
nativa sendo um Latossolo Vermelho Amarelo (LVA), sob as
coordenadas geográficas 11°48’46” e 55°26’28” (Sinop-MT),
altitude 379, e o outro um Neossolo Quartzarênico (RQ) sob
as coordenadas geográficas 11°58’54” e 55°23’12” (Santa
Carmem-MT), altitude 340.
O clima é considerado Aw (tropical com inverno seco),
segundo a classificação de Koppen-Geiger, com duas
estações definidas: seca de maio a setembro e chuvosa de
outubro a abril. O bioma em que se encontra ambos os solos,
é o de transição Cerrado/Amazônia e a pluviosidade média
anual é de 1818mm. Nesta região as classes de solo mais
representativas são Latossolo Vermelho Amarelo (LVA),
Latossolos Vermelhos (LV), Neossolo Quartzarênico (RQ) e
em menor proporção, Gleissolos (G), oriundos de rochas
sedimentares (RADAMBRASIL, 1982).
Foram coletadas 20 amostras simples para a composição
de uma amostra composta de cada solo, coletados na camada
superficial de 0 a 20 cm de profundidade. As análises
químicas e físicas dos solos foram realizadas segundo
Embrapa (2017), e estão contidas na Tabela 1.
Tabela 1. Atributos químicos e físicos do Latossolo Vermelho Amarelo (LVA) e do Neossolo Quartzarênico (RQ).
Table 1. Chemical and physical attributes of Red-Yellow Latosol and Quartzarenic Neosol.
Análises químicas
Solo
pH H
2
O
pHCaCl
2
P
K
+
Ca
+2
Mg
+2
Al
+3
H
+
CTCefet.
CTCpot.
V
MO
---------------
(mg dm
-
³)
---------------
-------------------------
cmol.dm
-
³
-------------------------
%
g.dm³
LVA
4,6
4,0
0,94
13
0,57
0,21
1,00
6,36
1,81
8,17
9,92
25,03
RQ
4,4
3,8
1,38
11
0,13
0,03
1,35
5,96
1,54
7,50
2,56
25,84
Análises físicas
Solo
Areia
Silte
Argila
-------------------------------------------------
mg dm³
-------------------------------------------------
LVA
330
188
482
RQ
788
63
149
Os solos coletados foram secos ao ar e peneirados em
malha de 2mm. Para as análises de adsorção do fósforo,
utilizou-se 2 gramas destas amostras e empregou-se o
método de “Batch” (agitação durante 24 hrs à 120 rpm), onde
para cada grama de solo utilizou-se 30 ml de soluções de P
nas seguintes concentrações: 0; 10; 20; 40; 80 e 160 mg,
preparadas em CaCl2 0,01M e determinada a concentração
em equilíbrio (Ce) em cada solução pura.
Após agitação, as soluções foram centrifugadas e os
sobrenadantes foram utilizados para determinação do P por
colorimetria, seguindo a metodologia de Prem da Embrapa
(2017). O P adsorvido (ADP) foi calculado pela diferença
entre as quantidades de P adicionadas e as quantidades lidas
na solução de equilíbrio do sobrenadante.
Com base nos resultados obtidos, construiu-se as
isotermas de adsorção de P, as quais representam
graficamente a quantidade de P adsorvido na ordenada e sua
Ce na abscissa. Utilizou-se a seguinte equação de Langmuir:
=..
 . (01)
=..
 . (02)
em que: CMAP = capacidade máxima de adsorção de P, em mmol
por quilo de solo; Kl = constante relacionada com a energia de
ligação (Constante de Lamgmuir) que dá a capacidade de adsorção
teórica na monocamada (L Kg-¹); Ce = concentração de P na solução
de equilíbrio (mmol P L-¹); x/m = quantidade de P adsorvida por
Kg de solo (mg Kg-¹). Os teores iniciais de P não foram adicionados
aos valores de CMAP nos modelos matemáticos.
3. RESULTADOS
3.1. Atributos químicos e físicos
Pode-se observar na Tabela 1, que os valores de pH o
baixos, característicos de solos ácidos e de elevado grau de
intemperismo, típicos de ambientes tropicais. Isso sugere
Adsorção de fósforo em solos de regiões tropicais
Nativa, Sinop, v. 9, n. 1, p. 30-35, jan./fev. 2021.
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elevada acidez do solo e baixa disponibilidade de cátions
básicos (MELO et al., 2010) além de gerar cargas positivas
em minerais de argila de carga variável do solo, pois pode
ocorrer a protonação das superfícies expostas destes
minerais, principalmente dos óxidos. Os valores de pH são
negativos (pHCaCl2-pHH2O), mostrando a predominância
de cargas negativas.
A porcentagem de saturação por bases (V) foi baixa para
ambos os solos ficando abaixo de 10% para os dois. Os
teores de alumínio (Al3+) e hidrogênio (H+) foram elevados,
contribuindo para a baixa V. Portanto estes solos, em
condições naturais, apresentam baixa capacidade em reter
cátions (Ca2+, Mg2+, K+) e acidez excessiva. O teor de matéria
orgânica (MO) foi de aproximadamente 25 g dm-3
comumente encontrados em solos tropicais de mata.
A classe textural (Tabela 1) foi arenosa para o RQ e
argilosa para o LVA. Apesar dos pontos coletados serem
próximos, ambos os solos estão situados numa bacia
sedimentar, oriundos de rochas com proporções de minerais
muito heterogênea originando solos com teores de argila
distintos, muito característico da região. O conteúdo de argila
influencia na capacidade de adsorção de P, pois maior
quantidade de óxidos nesta fração, principalmente nos
Latossolos.
3.2. Isotermas de Langmuir
A equação linearizada de Langmuir (Figura 1) apresentou
alto coeficiente de correlação (Tabela 2), indicado que o
modelo de Langmuir de adsorção foi significativamente
capaz de estimar as constantes de adsorção de P, em ambos
os solos estudados.
Tabela 2. Equações da isoterma de Langmuir.
Table 2. Langmuir isotherm equations.
Solos Equação linearizada R2
CMAP
K
L
FCPmáx
(m mol kg
-1
)
(m mol kg
-1
)
(L kg
-1
)
LVA
𝐶𝑒
󰇡
𝑥
𝑚
󰇢
=
0
,
0007
𝐶𝑒
×
0
,
0055
0,9877 1.428,57 0,13 181,82
RQ
𝐶𝑒
󰇡
𝑥
𝑚
󰇢
=
0
,
0014
𝐶𝑒
×
0
,
0217
0,9557 714,29 0,06 46,08
Solos
Isoterma de Langmuir
LVA
󰇡
𝑥
𝑚
󰇢
=
1
.
428
,
57
𝐶𝑒
×
0
,
13
1
+
0
,
13
𝐶𝑒
RQ
󰇡
𝑥
𝑚
󰇢
=
714
,
29
𝐶𝑒
×
0
,
06
1
+
0
,
06
𝐶𝑒
Capacidade máxima de adsorção de P (CMAP), energia de adsorção (KL) e fator capacidade de P máximo (FCPmáx)
Maximum P adsorption capacity (CMAP), adsorption energy (KL) and maximum P capacity factor (FCPmax) for the studied soils.
Na Figura 2, as curvas de adsorção obtidas pela equação
de Langmuir ficaram muito próximas as médias das
observações realizadas em laboratório. Nota-se no início da
curva, uma inclinação acentuada, devido a atração
eletrostática entre os OH- do íon fosfato e os OH2+ das
superfícies do solo (MELO; ALEONI, 2009), logo a curva
tende a estabilizar-se num valor aproximadamente constante,
concentração na qual todos os sítios de ligação ao fosfato
estariam ocupados.
Figura 1. Isotermas de adsorção de Langmuir na forma linear. Ce:
concentração de P na solução de equilíbrio; Ce/ (x/m): relação entre
Ce e P adsorvido no solo.
Figure 1. Langmuir adsorption isotherms in linear form. Ce:
concentration of P in the equilibrium solution; Ce / (x / m): ratio
between Ce and P adsorbed on soil.
Portanto, este modelo mostrou-se satisfatório e eficiente
no estudo do fenômeno de adsorção de P ao solo, e capaz de
estimar CMAP, FCPmáx e KL.
3.3. Parâmetros de adsorção do P
Pelo modelo da isoterma de Langmuir foram calculados
os parâmetros de adsorção, CMAP, KL e FCPmáx (Tabela 2).
O maior valor de CMAP foi verificado no LVA, 1.428,57
mmolP Kg-1 de solo, evidenciando a alta capacidade de
sorção de P pelos Latossolos, enquanto que para o RQ foi de
714,29 mmolP Kg-1 de solo, essa grande variação es
relacionada com o conteúdo de argila maior no LVA.
Figura 2. Isotermas de adsorção de fósforo. Ce: concentração de P
na solução de equilíbrio; x/m: P adsorvido no solo.
Figure 2. Phosphorus adsorption isotherms. Ce: concentration of
P in the equilibrium solution; x / m: P adsorbed on the soil.
0,00
0,05
0,10
0,15
0,20
0,25
0 50 100 150
Ce/(x/m)
Ce (mmol P/L)
LVA
RQ
Linear (LVA)
Linear (RQ)
0
300
600
900
1200
1500
0 50 100 150
x/m (mmol P/L)
Ce (mmol P/L)
LVA
RQ
LVA
RQ
Vinha et al.
Nativa, Sinop, v. 9, n. 1, p. 30-35, jan./fev. 2021.
33
3.4. Correlação entre os atributos do solo e adsorção
Os parâmetros de adsorção foram correlacionados
linearmente com alguns atributos do solo. Como foram
avaliados apenas dois solos o coeficiente de correlação foi
máximo para todos os atributos avaliados (Tabela 3). CMAP,
KL e FCPmáx correlacionaram-se positivamente com o teor de
argila e o pH, e negativamente com o conteúdo de Al+3 e
MO.
Tabela 3. Correlação entre os parâmetros de adsorção e alguns
atributos do solo.
Table 3. Correlation among the adsorption parameters and some
soil attributes.
Parâmetro
Argila
pHH
2
O
Al
+3
MO
CMAP (mmol)
1
1
-
1
-
1
KL
1
1
-
1
-
1
FCPmáx (L/kg)
1
1
-
1
-
1
1 – Correlação positiva; -1 – Correlação negativa.
1 – Positive correlation; -1 – Negative correlation
4. DISCUSSÃO
O teor de MO encontrado é considerado adequado para
solos tropicais (20-30 g.dm³), visto a taxa de mineralização
acentuada influenciadas pela temperatura e umidade elevadas
(CANTANRRUT, 2007b). A MO é a maior responsável pela
fertilidade de solos tropicais, pela sua capacidade de quelar
elementos tóxicos, fornece nutrientes através da
mineralização e gerar cargas negativas (ROSS, 1993).
O conteúdo de argila influencia na capacidade de
adsorção de fosforo, pois alto conteúdo de óxidos nesta
fração, principalmente nos latossolos (MOTTA et al., 2002).
O maior teor de óxidos nos latossolos juntamente com o
maior teor de argila, é a provável razão pela qual a quantidade
de fósforo (P) extraído foi menor no LVA que no RQ
(BRADY; WEIL, 2013).
Neste estudo a isoterma de Langmuir se ajustou
satisfatoriamente ao modelo de adsorção de P corroborando
com resultados semelhantes encontrados por Guedes et al.
(2015); Falcão; Silva (2004) e Matos et al. (2017), trabalharam
com solos da região amazônica (Latossolo Amarelo,
Latossolo Vermelho Amarelo, Argissolo Amarelo, Gleissolo
Háplico, Nitossolo Vermelho, plintossolo plico e
Planossolo Háplico), e obtiveram coeficientes de
determinação mais elevados através da equação de Langmuir.
A adsorção do P no solo seguiu as pressuposições do
modelo empírico de Langmuir, que são: os íons fosfato são
adsorvidos em camada única na superfície dos coloides, e
ocorre a adsorção xima assim que a superfície é
preenchida, sendo todos os sítios de adsorção idênticos de
superfície homogênea e o fosfato adsorvido não interage com
outras moléculas em solução, e o equilíbrio é atingido
(OLIVEIRA et al., 2014).
Mesmo o sendo realizada a análise mineralógica dos
solos, é fato que os latossolos tem predominância de óxidos
em seus argilominerais, o que favorece a adsorção de P
(BRADY; WEIL, 2013). Em estudo realizado por Wang et
al. (2009), foi observado que o teor de óxidos metálicos (Fe
e Al) foi um fator principal que determinou a retenção de
fósforo devido à alta superfície específica dos hidróxidos. Os
autores avaliaram a cinética de adsorção do P e evidenciaram
que o aumento da fração de argila com a maior área específica
acelerou a adsorção.
Segundo RHEINHEIMER et al. (2003) em seu trabalho
com Latossolo Vermelho Distroférrico típico, Latossolo
Vermelho Distrófico típico e Argissolo Vermelho Distrófico
típico cultivados sob sistema de plantio convencional e de
plantio direto, o ajuste de isotermas sem considerar a
quantidade prévia de fósforo sorvida pelo solo leva a
interpretações errôneas da CMAP, devido às sucessivas
aplicações de fertilizantes fosfatados. Nos sistemas
cultivados, o fosfato adicionado e a elevação do pH via
corretivos tende a saturar os sítios de maior sorção de P,
aumentando as cargas negativas semipermanentes e
diminuindo o potencial elétrico das partículas coloidais,
quando o P migra para o interior dos óxidos (PARFFIT
1989). Porém utilizamos solos sob vegetação nativa, que
nunca foram cultivados, os teores de P são “muito baixo”
(SOUSA; LOBATO, 2004) portanto este parâmetro não foi
levado em consideração no modelo matemático da CMAP.
Fang et al. (2017), estudaram o papel da morfologia de
partículas na adsorção de P em que o mecanismo de adsorção
é atribuído principalmente à carga superficial não uniforme e
à heterogeneidade na superfície das partículas. Conforme
aumenta a concentração de locais ativos de superfície
aumenta a capacidade de adsorção.
Os valores de KL foram baixos (LVA: 0,13; e RQ: 0,06),
o que evidencia que a adsorção de P esmais relacionada
com a CMAP do que com a “KL”, por esta razão que CMAP,
isoladamente, tem sido utilizada com sucesso como padrão
de recomendação da adubação fosfatada (FALCÃO; SILVA,
2004). Valores maiores de “KLsão esperados em materiais
mais argilosos, como constatado por Oliveira et al. (2014),
em seu trabalho com um Latossolo Bruno eles alteraram a
textura adicionando diferentes quantidades de areia a este
mesmo solo, e obtiveram menor valor de “KLquanto maior
a quantidade de areia adicionada. Estes mesmos autores
questionaram a viabilidade do modelo de linearização de
região única para obtenção do “KL”, considerando que a
adsorção de P se em 3 estádios com energia de ligação
distintas, porém concluíram que os valores de “KLforam
mais coerentes relacionados com o modelo de linearização de
região única.
O maior FCPmáx foi obtido no LVA, visto que a CMAP é
constante para o solo e o KL varia em função do conteúdo
de P no solo, o produto das duas variáveis (FCPmáx) pode
ajudar a elucidar o comportamento do P no mesmo tipo de
solo em função de manejos distintos (HOLFORD;
MATTINGLY, 1976).
O P é adsorvido por minerais de argila de carga variável,
predominante em regiões tropicais, assim, geralmente, solos
com maior conteúdo de argila possuem maior capacidade de
reter P por apresentar maior área de superfície específica e,
consequentemente, mais sítios de sorção (MELO; ALEONI,
2009). Dados semelhantes foram observados por Corrêa et
al. (2011), avaliando a adsorção de fósforo em Argissolo
Amarelo (PA), Latossolo Amarelo (LA), Neossolo
Quartzarênico (RQ); Argissolo Vermelho- Amarelo (PVA)
e Latossolo Vermelho-Amarelo (LVA); Espodossolo Álico
(EP) e Plintossolo Tb Álico (PL), no qual, constataram a
amplitude de variação da CMAP em relação ao teor de argila.
A heterogeneidade química e de tamanho de partícula entre
classes de solos são características que promovem a
diferenças de adsorção de P (WANG et al., 2012).
O pH influencia diretamente a adsorção de ânions no
solo, onde sob condições ácidas, a protonação e solubilização
de óxidos pode ocorrer, adiquirindo cargas positivas e, assim,
adsorvem os ânions (FERNANDEZ-PAZOS et al., 2013).
Deste modo, quanto menor o pH, mais sítios de sorção
positivos podem ser gerados, tendendo a adsorver mais
Adsorção de fósforo em solos de regiões tropicais
Nativa, Sinop, v. 9, n. 1, p. 30-35, jan./fev. 2021.
34
fosfato, o que não foi encontrado neste trabalho, pois o solo
com menor valor de pH teve os parâmetros de adsorção mais
baixo. Provavelmente este achado deve-se a grande diferença
textural entre os solos, sendo esta a variável de maior
relevância, prevalecendo sobre o pH (ALOVISI et al., 2020).
O solo com maior teor de MO obteve a menor adsorção
de fosfato. A correlação negativa entre MO e os parâmetros
de adsorção de P, provavelmente está relacionada com a
competição entre os ácidos orgânicos e fosfatos para os sítios
de adsorção no colóides (ABDALA et al., 2012). A correlação
negativa entre CMAP e Al solúvel pode estar relacionada com
a precipitação do P com o Al, reduzindo a adsorção de P
(LAIR et al., 2009; SOUSA et al., 2012).
5. CONCLUSÕES
A isoterma de Langmuir se ajusta bem à adsorção do
fósforo e mostra-se de grande eficiência no cálculo dos
parâmetros de sorção do P no solo.
A dinâmica de adsorção de P é influenciada
positivamente pelo teor de argila e negativamente pelo teor
de MO. pH e Al3+ têm papel secundário na dinâmica de
adsorção quando comparamos solos de grande diferença
textural.
6. REFERÊNCIAS
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