Nativa, Sinop, v. 9, n. 4, p. 423-429, 2021.
Pesquisas Agrárias e Ambientais
DOI: https://doi.org/10.31413/nativa.v9i4.10919 ISSN: 2318-7670
Aproveitamento da água do processamento dos frutos de café
na fertirrigação de
Brachiaria mutica
Michell Bahia Dutra EMERICK1, Rodolfo Alves BARBOSA2*, Ademar Polonini MORELI3,
Sammy Fernandes SOARES4, Edvaldo Fialho dos REIS5
1 Instituto de Defesa Agropecuária do Espírito Santo, Vitória, ES, Brasil.
2 Instituto Guaicuy, Belo Horizonte, MG, Brasil.
3 Instituto Federal do Espírito Santo, Venda Nova do Imigrante, ES, Brasil.
4 Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, Brasília, DF, Brasil.
5 Universidade Federal do Espírito Santo, Alegre, ES, Brasil.
*E-mail: Rodolfo.ufv@gmail.com
(ORCID: 0000-0002-6194-7463; 0000-0001-6015-6558; 0000-0002-6659-5807; 0000-0002-9798-1583; 0000-0003-3823-1472)
Recebido em 07/08/2020; Aceito em 12/09/2021; Publicado em 24/09/2021.
RESUMO: Considerando que a aplicação da água do processamento de café (APC), via fertirrigação, pode
promover alterações nos teores de K do solo, na planta e na produção de massa seca do Brachiaria mutica (Capim
Angola), realizou-se um trabalho com o objetivo de avaliar os teores disponíveis de K no perfil de um Neossolo
Flúvico, na planta, e na produção de massa seca do capim angola decorrentes da aplicação de diferentes doses
de APC. As parcelas receberam cinco tratamentos sendo: doses de APC 0, 57, 114, 171 e 228m³/ha, calculados
de forma que a dose 114m³/ha elevasse o teor de K a 5% na CTC (T) do solo. Foram coletadas amostras de
solo, aos 45 e 90 dias após a aplicação da APC, nas profundidades de 0 a 20 cm; 20 a 40 cm; 40 a 60 cm e 60 a
80 cm. Realizado também coletas, no mesmo período, de amostras para análise foliar e de massa seca. O uso
da APC, na dose de 114 m³/ha promoveu incremento de K no solo apenas na camada de 0-20 cm. Observou-
se ainda incremento em camadas inferiores mediante dosagens superiores. Não houve diferença na produção
de biomassa e teores de nutrientes na planta, mediante os diversos tratamentos.
Palavras-chave: pós-colheita; nutrição; lixiviação; potássio.
Use of water for processing coffee beans in the fertigation of
Brachiaria mutica
ABSTRACT: Considering that the application of water from coffee processing (WCP), via fertigation, can
promote changes in the K content of the soil, in the plant and the production of the dry mass of Brachiaria
mutica (Capim Angola), work was carried out to evaluate evaluating the available levels of K in the profile of a
Floss Neossol, in the plant, and the production of the dry mass of the Angola grass resulting from the
application of different doses of WPC. The plots received five treatments: WPC doses 0, 57, 114, 171, and
228m³ / ha, calculated so that the 114m³ / ha dose raised the K content to 5% in the CTC (T) of the soil. Soil
samples were collected at 45 and 90 days after WPC application, at depths of 0 to 20 cm; 20 to 40 cm; 40 to 60
cm and 60 to 80 cm. Samples for leaf analysis and dry mass were also collected in the same period. The use of
WPC, at a dose of 114 m³ / ha, increased K in the soil only in the 0-20 cm layer. An increase was also observed
in lower layers through higher dosages. There was no difference in the production of biomass and nutrient
contents in the plant, through the different treatments.
Keywords: Post-harvest; nutrition; leaching; potassium.
1. INTRODUÇÃO
A forma do processamento pós-colheita do café é
considerada de grande destaque, por influenciar a qualidade
do produto final, bem como aspectos ambientais da
propriedade, tornando-a ponto chave na sustentabilidade
desta atividade (IJANU, 2019; ALEMAYEHU et al., 2020).
Dito isto, este processo merece atenção, devido à alta
capacidade de geração de efluentes, sendo consumidos em
média 4,0 L-1 de água limpa por litro de fruto processado,
detendo este efluente alto potencial de impactos ambientais,
conforme observado por LO MONACO et al. (2003).
Uma alternativa de tratamento e ou disposição da APC
no meio ambiente, é a sua disposição no solo na forma de
fertirrigação, técnica esta, que prioriza o aproveitamento dos
nutrientes nela presentes, dentre os quais, merece destaque o
potássio, pela grande quantidade presente via APC,
indicando que esses efluentes constituem material de elevado
valor fertilizante e que podem ser aproveitados e dispostos
no solo, com o objetivo de substituir alguns fertilizantes
inorgânicos (LO MONACO et al., 2003).
Garcia et al. (2008), trabalhando com diluições diferentes
de APC de conilon em três solos (Neossolo, Argissolo,
Latossolo), verificaram incremento nos valores da CTC
efetiva, soma de bases e saturação por bases, além da redução
da saturação do alumínio.
Em experimento realizado em ambiente protegido, com
vasos contendo 2 dm³ de um solo classificado como
Latossolo Vermelho Amarelo, os autores aplicaram doses de
0, 5, 10, 20, 40 e 80 litros de APC por de solo. Após 30
Aproveitamento da água do processamento dos frutos de café na fertirrigação de Brachiaria mutica
Nativa, Sinop, v. 9, n. 4, p. 423-429, 2021.
424
dias de incubação, foram retiradas amostras para análise de
solo e semeou-se milho, que foi colhido um mês depois. A
aplicação de APC no solo elevou o pH, os teores de P, K,
Na, Ca, Al, Zn e matéria orgânica e, também, a saturação em
bases. O K foi o elemento que apresentou a maior taxa de
incremento, da ordem de 11,4 mg/dm³ para cada 10 L de
APC aplicados por de solo. A produção de biomassa da
parte aérea das plantas aumentou de 26 g, com a dose 0 de
APC, para 62 g, com a dose de 5 L.m-² (PREZOTTI et al.,
2012).
Matos et al. (2005), avaliando os efeitos da aplicação de
APC, em alguns atributos químicos de um solo cultivado com
três espécies forrageiras (azevém, aveia-preta e milheto),
observaram que os nutrientes aplicados no solo por meio da
APC, à exceção do potássio, não foram suficientes para
proporcionar acúmulo na camada superficial do solo que, ao
contrário, apresentou redução de P disponível, Ca e Mg
trocáveis.
Diante disso, o aproveitamento da APC por meio da
fertirrigação configura-se uma excelente oportunidade.
Observando que, procura-se atender à demanda da cultura
por nutrientes e não para a necessidade hídrica das plantas.
Destaca-se ainda que a APC apresenta variações dos teores
dos elementos, conforme diversos fatores, assim é necessário
realizar análise dos teores de nutrientes presentes na APC e
no solo. De posse dessa informação, utiliza-se o elemento
encontrado em maior quantidade (potássio), como indicador
para o lculo da dose a ser aplicada (PREZOTTI et al.,
2012).
Considerando o potencial de uso da APC e tendo a
presunção que sua aplicação no solo pode promover a
alteração nos teores de K no solo, planta e da massa seca da
vegetação existente, existe, portanto, a necessidade de avaliar
doses de aplicação de APC, considerando a recomendação
utilizada no Estado do Espírito Santo.
2. MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi desenvolvido no imóvel rural
Cachoeira Alegre, localizada no município de Ibatiba, ES, à
altitude de 780 m, geograficamente localizado nas
coordenadas Datum WGS 84 UTM 24 K, 240236 E:
7753229 N, em área de, aproximadamente, 350 metros
quadrados (Figura 1). O clima da região é classificado como
Cwb (Alvares et al., 2013), apresentando clima temperado
úmido com inverno seco e verão temperado nos locais mais
elevados.
O solo do local do experimento é classificado como
Neossolo Flúvico, no qual é cultivado o capim angola
(Brachiaria mutica). Para caracterização química do solo
realizou-se amostragem, por meio de um trado tipo holandês,
coletando-se 20 amostras simples em pontos aleatórios e em
quatro camadas nos perfis 0 a 20 cm, 20 a 40 cm, 40 a 60 cm
e 60 a 80 cm, gerando uma amostra composta para cada
camada. Após secagem ao ar, as amostras foram destorroadas
e passadas em peneira de 2 mm, sendo, em seguida,
encaminhadas ao Laboratório de Análises Água Limpa, a fim
de se procederem às caracterizações físicas, químicas e físico-
químicas, conforme metodologia estabelecida pela Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa (2009). O
resultado da análise química do solo, antes do início do
experimento, é apresentado na Tabela 1.
Figura 1. Localização do município de Ibatiba, próximo ao Parque Nacional do Caparaó, ES. Fonte: Rodolfo Barbosa
Figure 1. Location of the municipality of Ibatiba, close to Caparaó National Park, ES.
No decurso do período experimental foram coletadas
informações de pluviosidade média, temperaturas máxima,
mínima e média obtidas através da Estação Meteorológica
automática do INMET para a região onde foi realizado o
estudo, constatando-se que o volume médio de precipitação
ocorrido entre os meses de setembro e novembro variou de
65,2 a 234,2 mm, respectivamente, tendo ocorrido, 413,2 mm
no total, sendo considerado normal para a região. A
temperatura média registrada no período variou de 20,4 a
20,75 ºC, não havendo uma variação significativa entre os
meses trabalhados.
A área do estudo encontrava-se cultivada com Brachiaria
mutica (capim-angola, bengo). Este capim possui origem
africana, sendo propagado por meio vegetativo, através do
plantio de estolões ou mudas, possui boa adaptação a solos
de baixada sujeitos a alagamento temporário e a solos de
baixa fertilidade, estando difundido em todo o território
nacional (COSTA, 2004).
Previamente a aplicação da APC foi realizada a
uniformização da gramínea em toda a área do experimento, à
altura de 0,10 m do solo, portanto, respeitando-se a altura de
pastejo adotado pelo pecuarista.
Emerick et al.
Nativa, Sinop, v. 9, n. 4, p. 423-429, 2021.
425
Tabela 1. Propriedades químicas do Neossolo Flúvico.
Table 1. Chemical properties of Floss Neossol.
Camadas
pH
P
K
+
Mg
2+
Al
3+
H + Al
(cm)
H
2
O
mg dm
-3
cmol
c
dm
-3
0
-
20
5,55
5,65
62,13
1,95
0,5
0,18
5,58
20
-
40
5,63
5,75
63,88
2,04
0,55
0,19
5,69
40
-
60
5,82
7,65
93,25
2,15
0,67
0,19
5,59
60
-
80
5,3
8,39
81,23
1,91
0,59
0,15
5,54
Camadas
SB
(t)
(T)
V
m
MO
(cm)
cmolc dm
-3
%
dag kg
-1
0
-
20
2,61
2,79
8,19
31,86
6,45
3,2
20
-
40
2,75
2,94
8,44
32,61
6,45
2,9
40
-
60
3,06
3,25
8,65
35,37
5,85
2,65
60
-
80
2,71
2,86
8,25
32,83
5,25
2,55
pH em água; Ca- Mg-Al: extrator KCl 1 mol/L; SB: soma de bases trocáveis;
T: CTC – capacidade de troca catiônica a pH 7,0; m: índice de saturação de
alumínio. P- K: extrator Mehlich; H+Al: extrator SMP; t: CTC(t) capacidade
de troca catiônica efetiva; V: índice de saturação de bases; M.O: matéria
orgânica.
Após dois dias de recirculação, a APC gerada na UP,
conforme processo produtivo, foi direcionada para a área
experimental por gravidade e armazenada em caixa de
polietileno de 1000 L, de onde, após homogeneização, foi
retirada uma amostra, acondicionada em recipiente adequado
e conservada em caixa de isopor, contendo gelo, e levada para
o Laboratório Água Limpa, para análise, seguindo-se
metodologia apresentada no Standard Methods
(AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION -
APHA, 1995).
A análise química, representada na Tabela 2, consistiu nas
determinações do potencial hidrogeniônico (pH), por meio
de um potenciômetro, e das concentrações de fósforo, por
colorimetria e potássio, por fotometria de chama (APHA,
1995). O método de cálculo foi similar ao utilizado no estado
do Espírito Santo, onde o Incaper adota a fertirrigação como
recomendação de aproveitamento da APC, tendo por
fundamento a recomendação do uso até a elevação do teor
de K ao limite de 5% da CTC pH7 do solo (PREZOTTI et
al., 2012).
Tabela 2. Caracterização química da APC utilizada na fertirrigação
da pastagem, cultivada em Neossolo Flúvico no município de
Ibatiba, ES.
Table 2. Chemical characterization of the WCP used in pasture
fertigation, cultivated in Neossolo Flúvico in the municipality of
Ibatiba, ES.
CE
pH
P
K+
Zn
Mn
dS m
-1
mg/L
-1
4,1
4,65
10
1710
0,97
3,24
Cu
FeTotal
S
Ca
Mg
DBO
DQO
mg/L
-1
0,48
139,57
1971
195
50
25409,52
53360
Após definir a recomendação de potássio para o
atendimento da demanda conforme o cálculo apresentado,
estabeleceu-se a aplicação das doses de 0, 57, 114, 171 e
228m³/ha de APC, correspondendo, respectivamente, aos
níveis de 0%, 50%, 100%, 150% e 200% da necessidade de
potássio, de forma que o mesmo atinja 5% da CTC do solo.
Calculado o volume de APC necessário para a aplicação
das doses, procedeu a aplicação de água limpa de forma
complementar à APC, quando necessário, ao ponto que
todos os tratamentos receberam o mesmo volume de água.
Para a aplicação foi utilizado regador de jardinagem de bico
com orifícios, mantendo-se, assim, a aplicação homogênea e
sempre respeitando a velocidade de infiltração básica do solo.
Na Tabela 3, são apresentados os volumes de APC
aplicados em cada tratamento e sua respectiva porcentagem,
bem como o suprimento de K e sua correspondência em
K2O e KCl.
Na amostragem, foi realizada uma coleta aleatória em
zigue-zague, dentro dos limites de cada unidade
experimental, de cinco amostras simples do solo. As amostras
simples foram homogeneizadas em bandejas plásticas,
obtendo-se uma amostra composta. Ao final desse
procedimento, as amostras de solo foram acondicionadas em
vasilhames plásticos e encaminhadas para o laboratório de
análises Água Limpa, sendo realizada a determinação K, do
pH em água, das concentrações de P disponíveis, das
concentrações trocáveis de Ca, Mg, Al, Al + H, MO, além da
determinação da soma de bases trocáveis, CTC, seguindo-se
metodologia citada.
O experimento foi instalado em área com pastagem
implantada, utilizando-se o delineamento experimental em
blocos inteiramente casualizados, com quatro repetições. As
parcelas mediram 6 m2 (3 × 2 m), distantes 1,5 m entre si, em
cada bloco.
Tabela 3. Volumes de APC utilizados na fertirrigação da pastagem
de capim-angola cultivado em um Neossolo Flúvico, no município
de Ibatiba, ES. Nível (%) de K e correspondência em K2O e KCl.
Table 3. WCP volumes used in the fertilization of angola grass
pastures cultivated in a Floss Neossol, in the municipality of Ibatiba,
ES. Level (%) of K and correspondence in K2O and KCl.
Dose APC
K
K
2
O
KCl
%
m³/ha
l/parcela
kg/ha
0%
0
0
0
0
0
50%
57
34,2
97,5
117,4
195,7
100%
114
68,4
194,9
234,8
391,4
150%
171
102,6
292,4
352,2
587,1
200%
228
136,8
389,9
469,6
782,7
A disposição das parcelas, nos respectivos blocos, foi
definida por sorteio, sendo os tratamentos constituídos de
doses da APC em cinco níveis, 0%, 50%, 100%, 150% e
200%, que correspondem, respectivamente, à aplicação de 0,
57, 114, 171 e 228 m³/ha de APC. Os tratamentos 0%,
50%,100% e 150% receberam a complementação com água
limpa de forma a atingir o mesmo volume aplicado de APC
no nível de 200%.
Foram coletadas aos 45 e posteriormente aos 90 dias após
aplicação da APC, em cada unidade experimental, uma
amostra composta oriunda de amostras simples deformadas
com auxílio de um trado holandês, nas profundidades de 0 a
20 cm; 20 a 40 cm; 40 a 60 cm e 60 a 80 cm.
Para avaliar a massa seca total e os teores de K na
biomassa, em cada unidade experimental, foram realizadas
coletas da biomassa aos 45 e aos 90 dias após a aplicação da
APC, no intuito de simular o pastejo na área experimental,
utilizando-se gabarito com dimensão de 0,50 x 0,50 m (0,25
m2) no centro das parcelas, sendo esta área considerada como
área útil e o restante, da bordadura.
As amostras colhidas de cada parcela foram
acondicionadas em sacos de papel e colocadas para secagem
em estufa de ventilação forçada, a 65 °C, nas dependências
de laboratório do campus IFES de Ibatiba, até o ponto que
atingiu massa constante. Após a secagem, as amostras foram
pesadas em balança de precisão, para a obtenção da massa
Aproveitamento da água do processamento dos frutos de café na fertirrigação de Brachiaria mutica
Nativa, Sinop, v. 9, n. 4, p. 423-429, 2021.
426
seca total (MST). Após a pesagem, o material foi moído em
moinho tipo “Willey”, com peneira de 30 mesh,
acondicionado em recipientes plásticos e encaminhado ao
laboratório especializado Água Limpa, para as análises de K,
N e P, conforme Silva; Queiroz (2002).
Os dados obtidos foram submetidos às análises
estatísticas, sendo as médias comparadas pelo teste de Tukey,
a 5% e os modelos de regressão testados pelo teste F. Os
parâmetros estimadores foram testados utilizando-se o teste
t de Student, adotando-se o nível de 5% de probabilidade. As
análises foram realizadas utilizando-se o software SAEG 8.0
e os gráficos, confeccionados no Excel.
3. RESULTADOS
3.1. Potássio disponível no solo pelo extrator Mehlich
O teor de K no perfil do solo (0 a 20 cm; 20 a 40 cm; 40
a 60 cm e 60 a 80 cm) em função das doses aplicadas de APC
(0, 50, 100, 150 e 200%) para épocas de corte aos 45 e 90 dias
são observados na Figura 2.
Não houve diferença estatística entre os fatores
estudados para dosagem 0% em ambas épocas de corte
(Figura 2a). Os teores de K encontrados no perfil do solo,
para esta dose, são similares aos encontrados na análise
química inicial do solo, conforme observado na Tabela 1,
sendo este resultado já esperado e confirmando a idoneidade
do experimento.
Foi verificado incremento significativo de potássio na
camada superficial do solo até a dosagem de 150% para as
profundidades de 0-20 cm aos 45 e 90 dias de dosagem
(Figura 3a).
As dosagens de 150% e 200% proporcionaram
incremento de K em todas as profundidades do solo,
permitindo evidenciar o potencial de lixiviação deste
elemento. Na Figura 2 observa-se o maior incremento de K
na profundidade 0-20 cm e, na Figura 3, que também houve
incremento de K nas demais profundidades, em função das
maiores doses de APC aplicadas, evidenciando, portanto, o
potencial de mobilidade do potássio.
O aumento da concentração de potássio na solução do
solo é devido à elevada concentração deste nutriente na APC.
Conforme apresentado na Tabela 2, a APC utilizada nos
ensaios apresentava concentração de potássio em 1.710
mg/L, provocando o aumento da concentração deste
nutriente no solo, conforme descrito sob diferentes doses.
Foi verificado diferenças significativas para dosagens
superiores a 150% para épocas de 45 e 90 dias (Figura 4).
Para as doses de 150% e 200%, como se observa na
Figura 5, verificou-se que, com aplicações superiores à
recomendação estabelecida pelo Incaper, para ambas as
doses, ocorreu um acréscimo da relação K/CTC no solo, em
todas as profundidades avaliadas. Todavia, a dose 200%
apresentou menor relação K/CTC que a 150%.
Pela análise de variância dos efeitos da aplicação da APC
sobre o atributo massa seca (MS), verificamos que não houve
efeito significativo dos tratamentos sobre o rendimento de
MS da gramínea manejadas sob os diferentes tratamentos.
3.2. Potássio na planta e produção de massa seca do
capim angola
Não houve efeito significativo dos tratamentos sobre os
teores de nutrientes na planta e nem nas diferentes épocas de
coleta da parte vegetal.
Figura 2. Variação de potássio em função das doses 0%, 50%, 100%,
150% e 200%, para profundidades de 0 a 20 cm, 20 a 40 cm, 40 a
60 cm e 60 a 80 cm, aos 45 e 90 dias. Fonte: Michell Emerick
Figure 2. Potassium variation depending on the doses 0%, 50%,
100%, 150% and 200%, for depths from 0 to 20 cm, 20 to 40 cm,
40 to 60 cm and 60 at 80 cm, at 45 and 90 days.
AA
AA
AA
AA
0
60
120
180
240
300
360
45 90
K (mg/dm³)
0%
0-20 20-40 40-60 60-80
a)
A
A
AB
AB
AB
0
60
120
180
240
300
360
45 90
K (mg/dm³)
50%
b)
AA
BB
BB
BB
0
60
120
180
240
300
360
45 90
K (mg/dm³)
100%
c)
A
A
B
B
B
B
CB
0
60
120
180
240
300
360
45 90
K (mg/dm³)
150%
d)
A
A
BB
BB
BB
0
60
120
180
240
300
360
45 90
K (mg/dm³)
Dias
200%
e)
Emerick et al.
Nativa, Sinop, v. 9, n. 4, p. 423-429, 2021.
427
Figura 3. Teores de potássio, em função das profundidades (0 a 20
cm, 20 a 40 cm, 40 a 60 cm e 60 a 80 cm), para doses de APC
aplicadas (0%, 50%, 100%, 150% e 200%), aos 45 e aos 90 dias.
Fonte: Michell Emerick
Figure 3. Potassium contents, depending on depths (0 to 20 cm, 20
to 40 cm, 40 to 60 cm and 60 to 80 cm), for applied WCP doses
(0%, 50%, 100%, 150% and 200%) at 45 and 90 days.
3.3. Atributos químicos (P, Ca, Mg, Al e MO) no solo
em função da aplicação da APC sob diferentes doses
Não houve efeito significativo dos tratamentos sobre os
efeitos da aplicação de APC sobre demais atributos químicos
do solo e para as profundidades de solo avaliadas. O aporte
destes nutrientes via APC e valores médios extraídos pela
pastagem estão demonstrados na Tabela 4.
Figura 4. Variação de potássio, em função das doses 0%, 50%,
100%, 150% e 200% nas profundidades de 0 a 20 cm, 20 a 40 cm,
40 a 60 cm e 60 a 80 cm, para as épocas de 45 e 90 dias. Fonte:
Michell Emerick
Figure 4. Variation of potassium, depending on the doses 0%, 50%,
100%, 150% and 200% at depths from 0 to 20 cm, 20 to 40 cm, 40
to 60 cm and 60 to 80 cm, for periods of 45 and 90 days.
DC
C
B
CB
A
A
B
B
0
60
120
180
240
300
360
45 90
K (mg/dm³)
0-20cm
0 50 100 150 200
a)
CB
CB
CB
A
A
BA
0
60
120
180
240
300
360
45 90
K (mg/dm³)
20-40cm
0 50 100 150 200
b)
CB
CB
CB
A
A
B
A
0
60
120
180
240
300
360
45 90
K (mg/dm³)
40-60cm
0 50 100 150 200
c)
BB
BB
BB
AA
A
A
0
60
120
180
240
300
360
45 90
K (mg/dm³)
Dias
60-80cm
0 50 100 150 200
d)
AA
AA
A
A
AA
-
60
120
180
240
300
360
0-20 20-40 40-60 60-80
K (mg/dm³)
0%
45 90
a)
AAAA
A
A
AA
-
60
120
180
240
300
360
0-20 20-40 40-60 60-80
K (mg/dm³)
50%
b)
A
AA A
A
AAA
-
60
120
180
240
300
360
0-20 20-40 40-60 60-80
K (mg/dm³)
100%
c)
A
AA
A
B
BBA
-
60
120
180
240
300
360
0-20 20-40 40-60 60-80
K (mg/dm³)
150%
d)
A
AA
A
B
BBA
-
60
120
180
240
300
360
0-20 20-40 40-60 60-80
K (mg/dm³)
Dias
200%
e)
Aproveitamento da água do processamento dos frutos de café na fertirrigação de Brachiaria mutica
Nativa, Sinop, v. 9, n. 4, p. 423-429, 2021.
428
Figura 5. Doses de APC sob a relação K/CTC aplicadas nas
diferentes profundidades do solo. Médias seguidas pelas mesmas
letras, no mesmo gráfico/profundidade, não diferem
estatisticamente entre si. Fonte: Michell Emerick
Figure 5. WCP doses under the K / CTC ratio applied at different
soil depths. Averages followed by the same letters, in the same graph
/ depth, do not differ statistically.
Tabela 4. Teores médios, para todos os tratamentos, de aporte de P,
Ca e Mg via APC e teores médios de extração pelo capim-angola,
no município de Ibatiba, ES.
Table 4. Average levels, for all treatments, of P, Ca and Mg input via
WCP and average levels of extraction by angola grass, in the city of
Ibatiba, ES.
P
Ca
Mg
----------------
Kg/ha
----------------
Aporte via APC
1,14
22,23
5,7
Extração Capim Angola
7,56 15,81 8
*Foi considerada a produção média de 3.756 kg/ha do capim-angola. Fonte:
4. DISCUSSÃO
4.1. Potássio disponível no solo pelo extrator Mehlich
O incremento de potássio na camada superficial pela
APC também foi observado por LO MONACO (2003) em
cafeeiro irrigado pela APC, onde ocorreu aumento na
concentração de potássio trocável na camada superficial do
solo (0-20 cm), quando aplicada a APC, via fertirrigação.
Pinto (2001) também observou maiores concentrações de
potássio nas camadas superficiais do solo cultivados em
diferentes espécies forrageiras ao avaliar a aplicação de APC.
Solos com concentração de potássio trocável superior a
120 mg dm-3 o considerados solos de alta fertilidade,
especificamente referente à disponibilidade deste nutriente
(PREZZOTI, 2013).
Foi verificado no presente estudo um acréscimo
acentuado dos valores de potássio trocável nas camadas de
60 a 80 cm de profundidade nos tratamentos com doses de
150% e 200% (Figura 3), o que mostra a necessidade de
acompanhamento do potássio trocável no solo, pois, devido
a sua elevada mobilidade, pode levar a contaminação do
lençol freático. Lo Monaco et al. (2003) também observaram
incremento de potássio nas camadas mais profundas do solo
com aumento da dose de APC.
Foram observadas diferenças significativas de incremento
de K para diferentes épocas no presente estudo (Figura 4).
Van Raij (1981) observou que elevadas concentrações de
potássio em solos de baixa permeabilidade pode ocorrer a
salinização do solo, uma vez que sais de sódio e potássio são
os maiores contribuintes para salinidade do solo.
A lixiviação de K está diretamente relacionada à CTC do
solo. Quanto maior a CTC, menor será a lixiviação de K, uma
vez que este cátion fica adsorvido às cargas negativas do solo,
portanto para aplicação de doses superiores é recomendado
o monitoramento periódico destes solos.
Dosagens de 150 e 200% de APC da relação K/CTC no
solo, em todas as profundidades foram contatadas no
presente estudo, valores considerados superior ao observado
por Prezotti et al., (2013), que teve como base a elevação do
uso de APC até valores superiores ao limite de 5% da CTC
pH 7 do solo. Os valores mostram uma maior disponibilidade
de potássio disponível para as plantas, como também um
maior risco de lixiviação devido às características do solo.
4.2. Potássio na planta e produção de massa seca do
capim angola
A fertilidade média do solo possibilita o desenvolvimento
nutricional exigida pela cultura em questão, podendo concluir
que a planta não apresentou exigência do excedente
nutricional contido na APC aplicada na área.
Os teores nutricionais encontrados em todos os
tratamentos estão dentro da faixa adequada, segundo a
análise de interpretação foliar preconizada por Prezotti;
Guarçoni (2013). Assim pode se inferir que as plantas
extraem do solo apenas o necessário e suficiente para o
crescimento, não proporcionando o desbalanceamento de N,
P e K da planta sob as diferentes aplicações de APC, rica
fonte de K.
4.3. Atributos químicos (P, Ca, Mg, Al e MO) no solo
em função da aplicação da APC sob diferentes doses
A aplicação de APC contribuiu somente para
manutenção dos teores destes atributos no solo não
contribuindo para o incremento dos mesmos, inclusive
provocando a lixiviação de Ca e Mg que são nutrientes
concorrentes no mesmo sítio de absorção do solo que o K.
5. CONCLUSÃO
A aplicação da APC, na dose recomendada (100%) para
elevar ao nível de 5% da CTC do solo, mostrou-se
tecnicamente viável para reposição/incremento de K na
camada superficial do solo (0-20cm), sem promover
incremento nas camadas mais profundas, em comparação aos
outros tratamentos.
A aplicação da APC, nas doses de 150% e 200%,
promoveu o aumento de K nas camadas inferiores do solo,
bem como apresentou relação K/CTC superior ao
recomendado. Assim, devido ao potencial de mobilidade do
K, bem como da classe do solo em questão, o risco de
lixiviação.
Não houve diferença na produção de biomassa e nos
teores de N, P e K da planta, dada a característica da cultura
em questão. Logo inferimos que a aplicação da APC não
gerou desbalanceamento nutricional da planta.
Devido ao baixo aporte de P, Ca e Mg, via aplicação da
APC, e à baixa extração destes nutrientes pela pastagem, não
AAAA
BAAA
B
AAA
D
CC
C
C
BBB
0
4
8
12
16
20
0-20cm 20-40cm 40-60cm 60-80cm
K/CTC
45 Dias
0% 50% 100% 150% 200%
AAAB A
BAB AA
BAAA
D
CBB
C C CB
0
4
8
12
16
20
0-20cm 20-40cm 40-60cm 60-80cm
K/CTC
Profundidade do solo
90 Dias
Emerick et al.
Nativa, Sinop, v. 9, n. 4, p. 423-429, 2021.
429
houve, em todas as doses, alteração sobre estes atributos, não
causando, portanto, seu incremento e, tampouco, a lixiviação
de Ca e Mg.
O emprego da fertirrigação com APC, respeitando-se a
metodologia estabelecida, se apresentou eficaz na reposição
de K na camada superficial do solo, sem provocar
desbalanceamento nutricional das plantas, possibilitando
elevar o ativo ambiental das propriedades cafeeiras.
6. AGRADECIMENTOS
Agradecemos à Capes, à Universidade Federal de Lavras
e a Fazenda Heringer pelo financiamento.
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