Nativa, Sinop, v. 9, n. 3, p. 260-265, mai./jun. 2021.
Pesquisas Agrárias e Ambientais
DOI: https://doi.org/10.31413/nativa.v9i3.10161 ISSN: 2318-7670
Efeito do tamanho das sementes sobre a emergência e morfofisiologia
de mudas de mama-cadela
Thales Augusto Ferreira QUEIROZ1 & Daniela Pereira DIAS2*,
1Secretaria de Meio Ambiente, Prefeitura Municipal, Mineiros, GO, Brasil.
2Universidade Federal de Jataí, Jataí, GO, Brasil.
*E-mail: danieladias@ufj.edu.br
(Orcid: 0000-0002-6969-7091; 0000-0002-6137-1548)
Recebido em 14/04/2020; Aceito em 24/06/2021; Publicado em 12/07/2021.
RESUMO: O objetivo deste estudo foi avaliar a emergência de plântulas e a morfofisiologia de mudas de
mama-cadela (Brosimum gaudichaudii Trécul) produzidas a partir de sementes de diferentes tamanhos. Foram
determinadas a porcentagem de emergência de plântulas e as características morfofisiológicas das mudas (altura,
diâmetro do colo, índice de robustez, espessura foliar, índice de clorofila, biomassa seca, massa foliar específica
- MFE e área foliar total). A emergência iniciou-se após 21 dias da semeadura e atingiu, ao final do experimento,
84% para as sementes pequenas, valor inferior ao das sementes médias e grandes (94 e 90%, respectivamente).
Em 60 dias, as mudas apresentavam, em média, 2,53 mm de diâmetro e 12,81 cm de altura. Nos primeiros 30
dias, as mudas formadas a partir de sementes pequenas tinham alturas menores que as demais. O tamanho das
sementes não afetou o diâmetro do colo e a espessura das folhas durante o crescimento inicial das mudas, assim
como para os parâmetros morfofisiológicos estudados. Ao longo de 120 dias, houve aumento do conteúdo de
clorofilas, biomassa seca, área foliar total, exceto para a MFE. O tamanho das sementes afeta a emergência e a
altura das mudas de mama-cadela após 30 dias após a emergência.
Palavras-chave: Brosimum gaudichaudii; Cerrado; crescimento inicial.
Effect of seed size on emergence and mophophysiology
of mama-cadela seedlings
ABSTRACT: The objective of this study was to evaluate the seedling emergence and morphophysiology of
mama-cadela (Brosimum gaudichaudii Trécul) seedlings produced from seeds of different sizes. Seedling
emergence percentage and seedling morphophysiological characteristics (height, diameter, slenderness index, leaf
thickness, chlorophyll index, dry matter, specific leaf mass - MFE and total leaf area) were determined. The
emergence started after 21 days of sowing and reached, at the end of the experiment, 84% for small seeds,
lower than the average and large seeds (94 and 90%, respectively). In 60 days, the seedlings had, on average,
2.53 mm in diameter and 12.81 cm in height. In the first 30 days, seedlings formed from small seeds had shorter
heights than the others. The seeds size did not affect the diameter and the leaves thickness during the initial
growth of the seedlings, as well as for the morphophysiological parameters studied. Over the 120 days, there
was an increase in the content of chlorophylls, dry matter, total leaf area, except for MFE. The seeds size affects
the emergence and the height at 30 days after mama-cadela seedlings emergence.
Keywords: Brosimum gaudichaudii; Brazilian savanna; initial growth.
1. INTRODUÇÃO
Brosimum gaudichaudii Trécul é um arbusto nativo do
Brasil, conhecido popularmente como mama-cadela,
encontrado sob o domínio dos biomas Cerrado, Amazônia e
Mata Atlântica (FONSECA et al., 2017; SILVA et al., 2015).
B. gaudichaudii possui comportamento decíduo e os eventos
fenológicos da espécie estão condicionados à sazonalidade
das variações climáticas, principalmente precipitação (FARIA
et al., 2015). Essa espécie tem sido estudada como uma
espécie medicinal promissora, com finalidades terapêuticas
(SILVA et al., 2015).
As características morfofuncionais das sementes de B.
gaudichaudii têm sido consideradas para análise do uso e
desempenho desta espécie em estudo com semeadura direta
(SILVA; VIEIRA, 2017). Dessa forma, tais autores indicaram
que as sementes da espécie são arredondadas e sua
germinação do tipo hipógea criptocotiledonar, com estoque
de reserva nos cotilédones. A semente de B. gaudichaudii,
classificada como recalcitrante, apresenta conteúdo de água
elevado (62%) e não toleram dessecação, o que dificulta seu
armazenamento (MAYRINK et al., 2016). Adicionalmente,
as sementes de B. gaudichaudii apresentam elevada
germinabilidade em meio de cultura com diferentes
condições de pH, com ou sem o tegumento que a reveste
(CARNEIRO et al., 2019).
Embora as condições de sombreamento o interfiram
na emergência de plântulas de B. gaudichaudii, o tamanho das
sementes tem sido utilizado como uma ferramenta para
otimização da produção de mudas (FARIA et al., 2013). O
efeito do tamanho da semente sobre a germinação e o
crescimento de mudas tem sido investigado em várias
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261
espécies (DEB; SUNDRIYAL, 2017; FOLAKE;
OLUSOLA, 2020). Isto porque a caracterização do tamanho
das sementes pode ser um instrumento para a compreensão
e descrição do processo germinativo (DEB; SUNDRIYAL,
2017), para o armazenamento e a execução de testes de
qualidade (ANDRADE et al., 2010), bem como associarem-
se às características de dispersão e estabelecimento de
plântulas (KUMAR et al., 2016).
A procedência das sementes de B. gaudichaudii foi
estudada visando a associação do local de produção das
sementes com sua capacidade germinativa e aspectos
associados ao seu estabelecimento, tais como a emergência
de plântulas e seu crescimento inicial (FARIA et al., 2009). A
procedência das sementes afetou o comportamento
germinativo de Pseudobombax loniflorum (LADEIA et al., 2012).
Inclusive, os testes de avaliação de qualidade fisiológica de
sementes e avaliação de mudas utilizados neste estudo foram
eficientes para diferenciar as procedências de sementes de
Cedrela fissilis em níveis de vigor (LAZAROTTO et al., 2013).
Assim, aliar a procedência das sementes com estudos que
envolvem o crescimento inicial das mudas ao longo do tempo
podem subsidiar o uso das sementes em plantios de
restauração ecológica, seja por meio de plantios de mudas ou
semeadura direta (SILVA et al., 2020).
Como a demanda por mudas de espécies nativas tem
aumentado, sobretudo para subsidiar recomposição de
ambientes alterados, por meio de reflorestamentos mistos,
faz-se necessário a disponibilidade de sementes de alta
qualidade. O estabelecimento, crescimento e reprodução das
espécies dependem das características morfológicas e
fisiológicas das plantas, que variam em função das pressões
ambientais (GRATANI, 2014).
O objetivo deste estudo foi avaliar a emergência de
plântulas e a morfofisiologia de mudas de mama-cadela
(Brosimum gaudichaudii Trécul) produzidas a partir de sementes
de diferentes tamanhos.
2. MATERIAL E MÉTODOS
Frutos maduros de mama-cadela (Brosimum gaudichaudii
Trécul - Moraceae) foram coletados diretamente de seis
árvores matrizes, na Universidade Federal de Jataí (UFJ,
17°55’18.17’’ S e 51°43’05.79’’ O), em Jataí GO, em
dezembro de 2014. O município possui pluviosidade anual
de 1648,9 mm e temperatura média de 22,4oC, segundo sua
média de 1981-2010 (INMET, 2019). A região de Jataí
apresenta clima classificado com Aw, segundo Köppen e
Geiger. Os frutos foram despolpados manualmente em água
corrente, após serem imersos em água por 12 horas, e as
sementes lavadas e secas naturalmente à sombra.
O peso de mil sementes foi determinado de acordo com
as Regras para Análise de Sementes (BRASIL, 2009). Foram
também determinadas as dimensões (comprimento, largura e
espessura) e a massa das sementes, com o auxílio de,
respectivamente, um paquímetro digital e uma balança
analítica. Após a caracterização das dimensões das sementes,
as mesmas foram divididas em três classes (pequenas, médias
e grandes; conforme FARIA et al., 2013)), das quais foram
selecionadas 100 sementes de cada classe para posterior
semeadura e análise do crescimento inicial.
As sementes foram semeadas em sacos plásticos de
polietileno preenchidos com substrato composto por terra,
areia e esterco bovino curtido (1:1:1), que foram irrigados
diariamente.
A avaliação da emergência das plântulas, produzidas a
partir de sementes de diferentes tamanhos, foi realizada a
cada três dias durante 42 dias. Foram determinadas a
emergência das plântulas (%) e o índice de velocidade de
emergência (IVE), conforme Maguire (1962).
Para a determinação da altura (H) das mudas de B.
gaudichaudii, do coleto até o meristema apical, foi utilizada
uma régua milimétrica, e para o diâmetro do coleto (D), um
paquímetro digital. Foi obtida também a relação H/D,
conhecida como índice de robustez. A espessura das folhas
das mudas foi obtida na região central das folhas, com um
micrômetro digital, evitando-se as nervuras. Tais dados
foram coletados em 15, 30, 45 e 60 dias após o início da
emergência das plântulas.
Foram determinados os índices de clorofila total (ICt), a
(ICa), b (ICb) das folhas das mudas de B. gaudichaudii, assim
como a razão a/b (ICa/b), após 15, 30, 45 e 60 dias do início
da emergência das plântulas. Foram selecionadas duas folhas
em lados opostos por muda, de 20 mudas de cada classe de
tamanho das sementes, para a determinação das clorofilas,
utilizando um aparelho portátil para determinação da
clorofila (ClorofiLog, Falker Automação Agrícola, Brasil).
Para obtenção da biomassa seca das mudas, as mesmas
foram divididas em partes raiz, caule e folhas no
Laboratório de Sementes e Ecofisiologia Florestal (UFJ),
onde foram submetidas à secagem em estufa com circulação
forçada de ar à 65oC até atingirem peso constante. Para isso,
foram utilizadas 20 mudas selecionadas ao acaso, em cada
período de determinação da biomassa seca (30, 60 e 120 dias
após a emergência das plântulas).
A massa foliar específica (MFE) foi obtida a partir da
razão entre o peso seco (PS) e a área foliar (AF) das mudas,
após 30, 60 e 120 dias do início da emergência das plântulas.
Para determinar a área foliar total das mudas ao longo de seu
crescimento inicial, as folhas foram fotografadas com uma
câmera digital e analisadas no programa ImageJ (versão
1.49h).
Foi utilizado o delineamento inteiramente casualizado,
em esquema fatorial (fatores: tempo e tamanho das
sementes). Os dados foram submetidos a análise de variância
(ANOVA) com medidas repetidas no tempo, seguido do
teste Skot-Knot à 5% de probabilidade, para separação das
médias. Foi utilizado o software Statistica 10.0.
3. RESULTADOS
O peso de mil sementes de Brosimum gaudichaudii
encontrado neste estudo foi de 1836,7 g, o que corresponde
a 544,5 sementes.kg-1.
As sementes pequenas, médias e grandes apresentaram
massa individual, bem como comprimento, largura e
espessura diferentes (Tabela 1).
Tabela 1. Comprimento, largura e espessura (mm) de sementes de
diferentes tamanhos (pequenas, médias e grandes) de mama-cadela
(Brosimum gaudichaudii Trécul).
Table 1. Length, breadth and thickness (mm) of mama-cadela seeds
(Brosimum gaudichaudii Trécul) with distinct sizes (small, medium and
heavy).
Tamanho Comprimento Largura Espessura
Pequena 16,49±0,74 12,11±0,96 9,79±0,67
Média 18,33±0,36 13,25±0,70 10,41±0,40
Grande 19,52±0,50 13,87±0,87 10,68±0,56
Valores médios ± desvio padrão.
Efeito do tamanho das sementes sobre a emergência e morfofisiologia de mudas de mama-cadela
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A massa individual das sementes pequenas foi de 1,43 ±
0,22 g, das médias de 1,88 ± 0,16 g e das grandes de 2,20 ±
0,19 g.
A emergência das plântulas iniciou-se aos 21 dias após a
semeadura (DAS) das sementes, apresentando maior
porcentagem de emergência aos 24 DAS (Figura 1).
Figura 1. Emergência de plântulas (%) de mama-cadela (Brosimum
gaudichaudii Trécul) após a semeadura de sementes de diferentes
tamanhos (pequenas, médias e grandes).
Figure 1. Seedlings emergence (%) after sowing of mama-cadela
seeds (Brosimum gaudichaudii Trécul) with distinct sizes (small,
medium and heavy).
Apesar do início da emergência das plântulas originadas a
partir de sementes de diferentes tamanhos ter sido o mesmo,
o tamanho das sementes de B. gaudichaudii influenciou
significativamente a emergência das plântulas (p < 0,05;
Figura 1). Após 42 DAS, as sementes médias e grandes
apresentaram 94 e 90%, respectivamente, de emergência,
enquanto as sementes pequenas tiveram 84%. O índice de
velocidade de emergência (IVE) de plântulas de B. gaudichaudii
oriundas de sementes pequenas foi menor (1,72), que o
encontrado nas sementes médias (1,97) e grandes (1,91).
Além disso, o tempo médio de emergência foi de 23,47 dias,
semelhante para os diferentes tamanhos de sementes.
A altura e o diâmetro das plântulas de B. gaudichaudii
aumentaram ao longo do período analisado, como esperado,
independentemente do tamanho da semente que as originou
(p < 0,05; Figura 2). O tamanho das sementes afetou a altura
das mudas em 15 e 30 dias após a emergência das plântulas
(DAE), bem como o índice de robustez (H/D), porém
apenas aos 15 DAE (p < 0,05; Figura 2). A espessura das
folhas, por sua vez, não variou ao longo do período analisado
(p > 0.05), nem foi influenciado pelo tamanho das sementes
(p > 0,05; Figura 2).
Figura 3. Clorofila total (clorofila a + b) de folhas de mudas de
mama-cadela (Brosimum gaudichaudii Trécul) após 15, 30, 45 e 60 dias
da semeadura de sementes. Os valores dentro dos retângulos
referem-se a razão a/b.
Figure 3. Total chlorophyll (a + b chlorophyll) leaves of mama-
cadela seedlings (Brosimum gaudichaudii Trécul) after sowing (15, 30,
45 and 60 days). The values within the rectangles refer to the a/b
ratio.
Figura 2. Altura (cm), diâmetro do colo (mm), índice de robustez
(H/D) e espessura foliar (mm) das mudas de mama-cadela
(Brosimum gaudichaudii Trécul) produzidas a partir de sementes
pequenas, médias e grandes, medidas em 15, 30, 45 e 60 dias após o
início da emergência das plântulas.
Figure 2. Height (cm), diameter (mm), slenderness index (H/D) and
leaf thickness (mm) of mama-cadela seedlings (Brosimum gaudichaudii
Trécul) with distinct seed sizes (small, medium and heavy), 15, 30,
45 and 60 days after seedlings emergence.
O tamanho das sementes não influenciou os valores de
clorofila a, b, total, razão a/b obtidos nas folhas das mudas (p
> 0,05; Figura 3). Quando analisados estes parâmetros
associados à clorofila ao longo do tempo, estes foram
inferiores nos 15 DAE quando comparados aos outros
períodos analisados (p < 0,05; Figura 3), excetuando-se a
razão a/b. Em todos os períodos estudados, houve maior
contribuição da clorofila a do que da b para o total de clorofila
foliar (Figura 3).
Além disso, a biomassa seca e a área foliar total (AFT)
também variaram em função do tempo (p < 0,05), entretanto
o mesmo não ocorreu para a MFE (p > 0,05; Figura 4). Não
houve efeito do tamanho das sementes (p > 0,05) tanto para
0
25
50
75
100
21 24 27 30 33 36 39 42
Emergência (%)
Dias após emergência
Pequenas
Médias
Grandes
0
15
30
45
60
15 30 45 60
Índice de clorofila total
Dias após a emergência (DAE)
Clorofila a
Clorofila b
6
10
14
18
15 30 45 60
Altura (cm)
Pequenas
Médias
Grandes
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
15 30 45 60
Diâmetro (mm)
2
4
6
8
15 30 45 60
H/D (cm/mm)
0,1
0,2
0,3
0,4
15 30 45 60
Espessura foliar (mm)
Dias após a emergência (DAE)
3,7 2,8 2,6 2,7
Queiroz & Dias
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263
a biomassa seca e a área foliar total, quanto para o MFE das
mudas.
As mudas de B. gaudichaudii apresentaram incremento de
226,2% (0,06 g.dia-1) entre 30 e 60 DAE e de 69,81% (0,03
g.dia-1) entre 60 e 120 DAE (Figura 4). Aos 30 DAE, a
biomassa fresca total foi de 2,67 g e a umidade de 70,31%,
enquanto que aos 60 DAE estas foram de 7,4 g e 64,9% e
após 120 DAE, de 13,29 g e 66,9%. Além disso, o
compartimento das mudas referente às raízes foi encontrado
maior umidade (variando de 50,24 a 58,14%).
As proporções dos diferentes compartimentos (raiz,
caule, folhas) não variaram durante o período avaliado. A
biomassa seca foliar correspondeu 41,58 ± 2,12%, a caulinar
a 15,73 ± 0,68% e a radicular a 42,69 ± 2,10%. As mudas
alocaram mais matéria seca na parte aérea das mudas (caule e
folhas somadas) que na parte radicular (Figura 4).
Apesar do aumento na AFT das mudas entre 30 e 60
DAE das plântulas (22,2%), não apresentou diferença
significativa entre os períodos (Figura 4), enquanto que aos
120 DAE houve aumento significativo de 179,7% em relação
à AFT encontrada aos 60 DAE.
Figura 4. Biomassa seca (g), área foliar total (cm²) e massa foliar
específica (g.cm-²) de mudas de Brosimum gaudichaudii Trécul após 30,
60 e 120 dias da emergência das plântulas.
Figure 4. Dry matter (g), total leaf area (cm2) and leaf mass per area
(g.cm-2) of Brosimum gaudichaudii Trécul seedlings after emergence
(30, 60 and 120 days).
4. DISCUSSÃO
O peso de mil sementes tem sido utilizado como um
indicador do tamanho das sementes, bem como do seu
estádio de maturação e de sua sanidade, além de serem úteis
para a determinação do número de sementes por embalagem
e a análise de pureza (BRASIL, 2009). Neste estudo, o peso
de mil sementes de B. gaudichaudii (1836,7 g) foi superior ao
encontrados por Faria et al. (2013), de 1476 g (com teor de
umidade de 40,3%), e por Faria et al. (2017), de 1526,2 g (com
teor de umidade de 43,4%). Isso representa um aumento de
24,4%, que pode ser explicado pela maior quantidade de água
das sementes, o que as torna mais densas e pesadas, ou ainda,
devido às dimensões das sementes, que dependem do local
de coleta ou grau de maturidade (BORGES et al., 2019). Tais
valores invariavelmente influenciam também o número de
sementes por quilo.
A massa das sementes tem sido considerada um
parâmetro importante por influenciar significativamente a
primeira fase do processo de formação das plântulas,
melhorando o desempenho da exposição da raiz primária
quanto no tempo médio gasto durante esta fase. A massa
média por semente de B. gaudichaudii, segundo Faria et al.
(2013), foi de 1,47 g, valor inferior ao que foi encontrado, o
que sustenta a hipótese de que as sementes utilizadas neste
estudo era mais pesadas/úmidas ou de maior tamanho.
As dimensões das sementes de B. gaudichaudii verificados
por Faria et al. (2017) foram similares aos encontrados nas
sementes pequenas deste estudo, com 16,64 ± 2,11 mm de
comprimento, 13,48 ± 1,67 mm de largura e 9,9 ± 0,92 mm
de espessura. O comprimento das sementes pequenas,
médias e grandes foram superiores aos valores encontrados
por Faria et al. (2013), com, respectivamente, comprimento,
largura e espessura de, 14,15 ± 0,82 mm, 15,73 ± 0,43 mm e
17,8 ± 1,03 mm. A largura das sementes encontrados neste
estudo foram similares aos mostrados pelos autores acima
referidos: 12,31 ± 1,05 para as sementes pequenas, 13,47 ±
0,76 para as médias e 14,41 ± 0,83 para as grandes. A
espessura das sementes obtidas por Faria et al. (2013) foi de
10,52 ± 0,73 mm para as pequenas, 11,01 ± 0,51 mm para as
médias e 11,47 ± 0,66 mm para as grandes. Em outro estudo
de Faria et al. (2009), com sementes de B. gaudichaudii de
diferentes procedências, encontrou valores variados, com
largura e espessura em alguns casos superiores aos
encontrados neste estudo. Dessa forma, o local de coleta,
assim como características de tamanho e umidade pode ser
apontado como determinante para a variação destes
resultados.
As espécies com sementes maiores tendem a ter mais
reservas de energia e nutrientes do que as sementes menores,
enquanto as sementes menores mostram uma maior
probabilidade de dispersão e possuem a capacidade de
formar bancos de sementes no solo persistentes
(CARVALHO; NAKAGAWA, 2012; KUMAR et al., 2016).
Enquanto sementes maiores com alto teor de água são
geralmente associadas a espécies sucessionais tardias,
espécies sucessionais iniciais têm sementes pequenas com
baixo teor de água (CASAS et al., 2017). Assim, a
categorização das sementes por classes de tamanho pode ser
uma ferramenta para uniformizar a emergência de plântulas
e produzir mudas de tamanho similares ou de maior vigor,
além de indicar sua qualidade fisiológica (CARVALHO;
NAKAGAWA, 2012).
Diferentes porcentagens de emergência de plântulas
foram encontradas para diferentes procedências de sementes
de B. gaudichaudii do cerrado do Mato Grosso por Faria et al.
(2009). As sementes coletadas em Cabeceira, Mata Cavalo e
Cuiabá apresentaram 91, 81 e 83% de emergência,
respectivamente. Estes mesmos autores encontraram tempo
0
2
4
6
30 60 120
Biomassa seca (g)
Folha
Caule
Raiz
0
5
10
15
20
25
30 60 120
Área foliar total (cm2)
0,0
0,1
0,2
0,3
0,4
30 60 120
MFE (g cm-2)
Dias após a emergência (DAE)
Efeito do tamanho das sementes sobre a emergência e morfofisiologia de mudas de mama-cadela
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médio de emergência de B. gaudichaudii variando de 19,4 a
23,54 dias. Tais valores foram similares aos encontrados
neste estudo. A porcentagem e velocidade de emergência das
plântulas também podem ser influenciadas pelo tamanho das
sementes, como pôde ser observado neste estudo, onde as
sementes pequenas tiveram porcentagem de emergência
inferior às médias e grandes (FARIA et al. 2013). Isto ocorre
devido às sementes de maior tamanho terem sido melhores
nutridas durante seu desenvolvimento e que normalmente,
possuem embriões bem formados e com maiores
quantidades de reservas sendo, potencialmente, as mais
vigorosas, bem como, possuem maior potencial de
sobrevivência.
Faria et al. (2017) encontraram 36,2% de emergência nas
sementes com endocarpo e 71,2 % nas sementes sem
endocarpo, valores inferiores aos encontrados neste estudo.
As sementes com endocarpo apresentaram tempo médio de
germinação de 25,8 dias (FARIA et al., 2017). O IVG de B.
gaudichaudii não variou em função dos diferentes tamanhos
das sementes. O tempo médio encontrado neste estudo foi
superior, mas dentro do esperado, como o verificado por
Faria et al. (2009), que encontrou o tempo médio de
germinação de B. gaudichaudii variando de 19,4 a 23,78 dias,
com média de 19,8 dias.
Sementes de diferentes tamanhos de B. gaudichaudii
originam mudas com variados padrões de altura, assim como
verificado neste estudo e por Faria et al. (2013). As sementes
da menor classe de tamanho de B. gaudichaudii foram as que
apresentaram menor altura das mudas (FARIA et al., 2013).
Diferente dos resultados encontrados por Faria et al.
(2013), analisando a mama-cadela, não encontramos maiores
valores de diâmetro do colo para a classe de sementes
grandes. Entretanto as classes de sementes estudadas pelos
mesmos apresentaram comprimentos inferiores as estudadas
neste trabalho. Comparando os valores médios de diâmetro
do colo aos 30 e 60 dias após a emergência, ambos deste
estudo (2,03 e 2,53 mm, respectivamente) foram maiores que
os encontrados por Faria et al. (2013) nesta mesma idade.
Esta diferença pode ser devido a diferença do próprio
tamanho das sementes estudadas em ambos os trabalhos.
Para B. gaudichaudii, Faria et al. (2013) encontraram
valores da relação H/D similares ao deste estudo, quando
submetidas a 30% de sombreamento. Essa variável
demonstra a qualidade fisiológica das mudas oriundas das
sementes de todos os tamanhos. Entretanto, com o passar
dos dias após a semeadura, a relação H/D apresentou
tendência de redução. Segundo Delarmelina et al. (2014),
valores baixos garantem resistência e maior sobrevivência em
campo, de tal forma que quanto menor a relação, mais
substâncias de reserva foram produzidas durante o
desenvolvimento da plântula.
Durante o período analisado, a espessura das folhas das
mudas de B. gaudichaudii não variou e também não foi
influenciada pelo tamanho das sementes. Isto pode ser
explicado pela uniformidade das condições ambientais
durante todo o período de avaliação das mudas. Ou ainda,
devido ao fato da folha de B. gaudichaudii ser mais espessa
estar ligada ao processo adaptativo da espécie, conferindo à
folha uma maior sustentação e plasticidade (FIDELIS et al.,
2010).
Por outro lado, o teor de clorofila das folhas tende a
aumentar ao longo do crescimento inicial de mudas, assim
como observado por Marenco et al. (2019). Pois, segundo os
referidos autores, como a assimilação de carbono depende da
quantidade de energia capturada, o aumento do teor de
clorofila levaria ao aumento da fotossíntese. Geralmente as
folhas produzidas em ambientes ensolarados produzem mais
clorofila a, em relação à clorofila b. Neste estudo, a clorofila
a contribuíram com mais de 75% da clorofila total, conforme
esperado. A relação clorofila a/b tem sido considerada um
indicador de estresse em plantas, porém, neste estudo, os
valores encontrados não indicam estresse.
A biomassa seca e a área foliar total das mudas tende a
aumentar ao longo do crescimento das mudas, como
esperado. Essas variáveis apresentam relação positiva com a
taxa fotossintética e crescimento de plantas (MARENCO et
al., 2019). Isso porque plantas decíduas, como B. gaudichaudii,
apresentam valores de MFE inferiores aos de espécies
sempre verdes (DE LA RIVA et al., 2016). Quanto maior a
MFE, maior o investimento da espécie na conservação de
nutrientes, assim como economizam água (LI et al, 2015).
5. CONCLUSÕES
O tamanho das sementes de mama-cadela (B. gaudichaudii)
influencia a emergência de plântulas, assim como a altura das
mudas nos primeiros 30 dias após a emergência. Por outro
lado, o tamanho das sementes não afeta as características
morfofisiológicas das mudas de mama-cadela.
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