A criatura política d’O homem duplicado
Resumo
Propomos uma leitura do personagem central do filme O homem duplicado (2014), de Denis Velleneuve, uma adaptação do livro homônimo de José Saramago (2002). Embora exista um câmbio dramático do filme para o livro, tanto um quanto o outro recusam o esquema cronológico e o final explicativo/condensador das contradições que apresentam. Enquanto processo de adaptação (HUTCHEON, 2013), a obra fílmica se rearticula, tomando do livro apenas a questão da duplicidade como artifício narrativo para a questão da experiência temporal. A hipótese conclusiva é que o resultado estético pode ser capitalizado para a discussão da politização do espectador. Para vencer a impressão de alheamento causado pela trama, o artigo se vale dos trabalhos de Jacques Rancière (2005) para a relação da arte com a política e de Gilles Deleuze (2013) e Rodrigo Guéron (2011) para as questões especificamente cinematográficas.
Palavras-chave: Literatura, Cinema, O homem duplicado.
Referências
BERGSON, H. Matéria e memória. Trad. Paulo Neves. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
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GUÉRON, R. Da imagem ao clichê, do clichê à imagem – Deleuze, cinema e pensamento. Rio de Janeiro: NAU Editora, 2011.
O HOMEM duplicado. Direção: Denis Villeneuve. Intérpretes: Jake Gyllenhaal, Mélanie Laurent, Isabella Rossellini, Sarah Gadon, Stephen R. Hart, Jane Moffat, Joshua Peace, Tim Post. Roteiro: Javier Guillon. Produção: Rhombus media e Roxbury pictures. Canadá e Espanha. 2014. 90 min. Son, NTSC, colorido.
HUTCHEON, L. Uma teoria da adaptação. Tradução André Cechinel. 2. ed. Florianópolis: UFSC, 2013.
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SARAMAGO, J. O homem duplicado. Companhia das Letras, 2002.