v. 8 n. 08 (7): Coletâneas do Nosso Tempo

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Editorial


Produção acadêmica em nosso país é um desafio. E, da
mesma forma, tornar público seus resultados. A divulgação
das reflexões e idéias construídas com esta produção deve
ser um compromisso das instituições de ensino brasileiras.
Embora não se negue a importância disto, as dificuldades
para que os periódicos científicos sejam viabilizados são
muito grandes. Daí porque a cada número publicado a
enorme satisfação de todos os envolvidos na empreitada.
Coletânea do Nosso Tempo é a contribuição do Departamento de História
da UFMT - Campus Rondonópolis para que o desafio da divulgação
do conhecimento seja vencido na região sul de Mato Grosso. Este oitavo
número é mais um passo em direção ao objetivo de consolidar o
periódico como referência na área de ciências humanas na região e no
estado, apresentando textos de professores e alunos da UFMT em conjunto
aos de membros de outras instituições, ampliando a abrangência
do debate acadêmico.
Em oito artigos e três resenhas, temos um painel no qual os assuntos
relativos à História são destaque, sem, no entanto, abrir mão das
temáticas interdisciplinares, uma premissa da revista. A começar pela
educação, tema de João Edson de Arruda Fanaia em “História, Saber
Acadêmico e Saber Escolar: Um Diálogo Possível?”. Ao responder a
questão que propõe, Fanaia nos ajuda a pensar como enfrentar o desafio
de fazer chegar às nossas escolas o conhecimento presente nas universidades,
diminuindo a distância lacunar existente entre o conhecimento
acadêmico e a educação básica.
Outra preocupação comum aos autores é a relação entre indivíduos
e sua coletividade. Em quatro textos, são privilegiadas as ações de algum
personagem em seu respectivo momento histórico, singularizando-os.
No primeiro deles, um artista plástico cuiabano é escolhido por Laudenir
Antonio Gonçalves em “Jonas Barros: O Olhar Perspicaz de Um
Sertanejo” para comentar o caráter experimental que a produção estética
assume em um contexto no qual a inventividade torna-se elemento
privilegiado de expressão, dada a saturação imagética da contemporaneidade.
O tempo presente é o momento pensado também por Mariano David
Fabris ao tratar das relações entre a Igreja Católica e o Estado quando se
dedica a analisar a legislação sobre o divórcio em “La Iglesia Católica y
el Retorno Democrático. Un Análisis del Conflicto Político-Eclesiástico
en Relación a la Sanción del Divorcio Vincular en Argentina”. Fabris
mostra que a separação entre poder clerical e poder político ainda hoje
não significa que a Igreja tenha perdido a capacidade de influenciar os
atos legislativos.
Voltando alguns séculos, Celso Silva Fonseca nos convida em “D.
João II (1481-1495): A Construção da Autoridade Jurídica do Monarca”
a conhecer as estratégias de D. João II em finais do século XV para
consolidar seu poder, por meio de mudanças nas ordenações jurídicas
portuguesas que lhe permitiram maior força decisória enquanto limitava
ação dos nobres sobre seu governo. Um aumento da autoridade real que
já sinalizava a centralidade monárquica que marcará os reinos europeus
entre os séculos XVI e XVIII.
É a este século XVIII, mas no contexto brasileiro e mato-grossense,
que nos conduz Loiva Canova em “Antônio Rolim de Moura: um
ilustrado na capitania de Mato Grosso” para tratar de sua missão em
ajudar à Coroa Portuguesa no alargamento das fronteiras de sua colônia
americana. Recompondo aspectos do cotidiano deste homem culto,
além de oferecer mostras das dificuldades enfrentadas pelos europeus
permite-nos perceber o quão frágil era a presença do poder régio nas
distantes terras do Mato Grosso naquele momento.
O cotidiano, desta vez da luta nas regiões ervateiras do sul do Brasil,
volta à cena com Cristiano Luis Christillino no artigo “O Mato Rebelde:
A Resistência do Homem Livre e Pobre Frente ao Avanço da Colonização
no Rio Grande do Sul”. Em um momento, segunda metade do
século XIX, no qual a dinâmica de colonização passava por mudanças,
trabalhadores das plantações de erva-mate resistiram às tentativas de
expulsá-los para novas regiões de colonização.
Os ventos da modernidade que se insinuavam em terras gaúchas
provinham da Europa. Paris era um dos centros a partir do qual novos
modos de viver e ordenar o mundo eram definidos. Charles Baudelaire
não seguiu o coro dos entusiastas de então e expressou isto em sua
poesia. Seu incomodo com a França da segunda metade do século XIX
é o que nos apresenta Marcos Antonio de Menezes.
Baudelaire com suas críticas ao modelo de cidade e sociedade que
eram forjadas na França problematizava algo que torna-se patente no
século XX: a demarcação das fronteiras no espaço urbano, cada vez
mais racionalizado para que possa dar maior fluidez para a circulação
de pessoas e mercadorias. Em “Segregação Sócio-Espacial: Alguns
Conceitos e Análises” Silvo Negri nos apresenta um panorama das
perspectivas teóricas que pensaram as formas assumidas pela exclusão
no ordenamento das cidades.
Além dos artigos, Coletâneas do Nosso Tempo neste número retoma
a publicação de resenhas. Na primeira, escrita por Natália da Costa
Amedi e Renilson Rosa Ribeiro, a obra em destaque é História. a arte de
inventar o passado, de Durval Muniz de Albuquerque, na qual estão reunidos
ensaios sobre a Teoria da História, particularmente as diferentes
maneiras de se construir as interpretações sobre o passado, e a obra de
Michel Foucault.
A arte de encenar histórias é o objeto da coletânea A História Invade a
Cena de Alcides Freire Ramos, Rosangela Patriota e Fernando Peixoto.
Renan Fernandes, em seu comentário, indica como os textos, a partir do
teatro, discutem a relação arte e sociedade rompendo com a perspectiva
tradicional que vê as práticas culturais como “reflexo” das conjunturas
política e econômica.
Fechando este volume, Adilson José Francisco nos apresenta Movimentos
Sociais em Mato Grosso: Desafios e Conquistas (1974-1989) de Laci
Maria Araújo Alves. Versão em livro da tese de doutoramento da autora,
o que somos convidados a conhecer são traços da memória de pessoas
que se organizaram em clubes de mães, associações de moradores e
comunidades eclesiais de base para fazerem valer seus direitos e projetos
em meio ao rápido processo de modernização do Mato Grosso, marcado
pelo privilégio às elites.
Todos estes textos podem ser agora tornados públicos em função
do trabalho de muitas pessoas e dos apoios oferecidos pela Editora da
UFMT e da FAPEMAT (Fundação de Amparo à Pesquisa de Mato Grosso),
responsáveis pelos recursos financeiros para a edição da revista.
Devemos também um agradecimento especial ao artista rondonopolitano
Zé Côca, que prontamente nos emprestou sua obra “Palhaço
Mato-Grossense” para a capa da revista. O contraste entre as cores e
a expressão triste da imagem é um instigante contra-discurso à festiva
visão sobre o desenvolvimento em Mato Grosso.
Uma boa leitura a todos!!!!


Os Editores

Publicado: 2010-10-20

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