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Coletâneas do Nosso Tempo
v. 7 n. 07 (7)Editorial
No ano de 1997, o Departamento de História da UFMT-Rondonópolis
efetivou a publicação do primeiro número da Revista Coletâneas do
Nosso Tempo, com o objetivo torná-la espaço para divulgação da produção
científica relativa a Mato Grosso e, também, de trabalhos produzidos
pelo seu corpo docente e de outros departamentos do então Centro
Universitário de Rondonópolis. Deste ano em diante foram editados
cinco volumes da revista, totalizando quarenta e nove artigos divulgados.
Porém, a partir de 2003, dadas as dificuldade de financiamento para a
continuidade de suas edições, não foi possível lançar novos números.
Em abril de 2007 foram retomados os trabalhos para o relançamento
de Coletâneas do Nosso Tempo, com a formação de um novo Conselho
Editorial e a busca de apoios para viabilizar financeiramente as edições.
E isto foi conseguido por meio do Edital de Publicações da Fundação
de Amparo a Pesquisa do Mato Grosso (FAPEMAT).
Com a obtenção dos recursos, tornou-se viável uma opção editorial
importante: publicar Coletâneas do Nosso Tempo em versão impressa e
eletrônica, seguindo experiências bem sucedidas de outros periódicos
científicos da instituição, a exemplo da Revista de Educação Pública
(Departamento de Educação – UFMT/Cuiabá). Assim, a partir deste
número os textos estão disponíveis também no endereço www.ufmt.
br/coletaneas, facilitando a divulgação e o acesso dos interessados ao
conteúdo da revista. Para esta tarefa foi importante a colaboração dos
alunos do Curso de Informática do Campus de Rondonópolis, que
forneceram suporte técnico para a implementação do site.
Outras contribuições importantes foram dadas pelo Curso de Letras.
O Prof. Agameton Ramsés Justino fez a revisão ortográfica dos textos e
a aluna Nathaly Araújo Alves fez tradução dos resumos para o inglês.
Nesta edição apresentamos onze artigos, oportunizando que alunos e
professores apresentem resultados de pesquisas cujos variados enfoques
são indicativos das múltiplas abordagens que a História e as Ciências
Humanas desenvolvem contemporaneamente.
Mas a diversidade converge para uma preocupação que também
marca a contemporaneidade: os grupos e práticas culturais. Apreender
em múltiplos espaços e formas como os sujeitos históricos constroem
práticas e interpretações do mundo no qual são atuantes são as marcas
dos trabalhos que abrem este volume. Agenor Sarraf Pacheco, Thaís Leão
Vieira e Fernanda Martins da Silva nos mostram que, por meio de sujeitos
e espaços aparentemente distintos, mas imbricados por estarem vinculados
a uma perspectiva de modernidade, os indivíduos e grupos tecem suas
urdiduras de sentindo fazendo escolhas a partir das múltiplas referências
a que são postos em contato.
Sem desconsiderar estes aspectos, mas convidando nosso olhar a
privilegiar outro ponto, Odemar Leotti e Marta Maria Lopes, ao tratarem
das políticas do Estado brasileiro para com os grupos indígenas no século
XIX, nos mostram algumas ações da dinâmica dos contatos culturais,
que requerem de nós a percepção de que o fato desta dinâmica não ser
alheia a relações de poder, não deve significar que os contatos culturais
tenham sempre os mesmos desdobramentos no que diz respeito às
relações de dominação.
Perceber esta dinâmica nos ajuda a melhor compreender o porque
indivíduos e grupos por vezes promovem reordenações identitárias
conjugando elementos eventualmente conflitantes. É o que nos propõe
Adilson José Francisco ao apresentar características do processo
de conversão de fiéis ao neopentecostalismo, sem incorrer em uma
interpretação que nos faça ver este processo de maneira pejorativa, na
medida em que destaca a importância das práticas religiosas para que
os indivíduos tenham referências em um tempo e espaço de signos
cada vez mais efêmeros. Na mesma linha de destacar a importância das
organizações religiosas, no caso mais especificamente suas contribuição
para a garantia dos direitos civis, é a contribuição de Ivanildo José
Ferreira em seu relato sobre as ações do Centro de Defesa dos Direitos
Humanos em Rondonópolis.
O volume também apresenta um conjunto de textos que propõem
reflexões metodológicas sobre o fazer historiográfico e o ensino. Tais
reflexões, embasadas por experiências de pesquisa, contribuem na medida
em que sinalizam caminhos para aqueles que fazem do saber seu ofício.
Ao expor sua reflexão sobre sua pesquisa que enfocou os trabalhadores
em luta pela terra, Maria Elsa Markus nos dá importantes referências
do lugar que dever ter nas trajetórias de pesquisa o uso adequado das
ferramentas teóricas e metodológicas, a fim de que um olhar apaixonado
(e em vários casos também, desencantado) sobre os processos históricos
não façam com que pesquisador (e também o professor) utilize-se dos
acontecimentos apenas para afirmar uma verdade prévia.
De forma semelhante, refletindo sobre a sua experiência enquanto
professora dos mais diversos níveis de ensino, Laci Maria Araújo Alves
nos auxilia pelas trilhas da educação, repletas de desafios metodológicos.
Sem desejar ser o roteiro de ninguém, oferta-nos todavia um precioso
conselho: o ensino requer entusiasmo.
Com igual preocupação metodológica, Amanda Jacinto Mendes e
Marta Maria Lopes nos apresentam os resultados preliminares de seu
estudo sobre as propostas metodológicas em livros didáticos de História
e Geografia, tratadas em geral como a solução para uma prática de
ensino mais atraente só que, infelizmente, nem sempre colocadas em
práticas por profissionais que compreendem os significados de suas
etapas e objetivos.
Encerrando o volume, Luciano Carneiro Alves apresenta o debate
sobre um conceito, o de Pós-Modernidade, delineando as bases das
várias definições deste tema controverso.
Coletâneas do Nosso Tempo propõe-se divulgar, a partir desta edição,
a produção artística regional, apresentando em sua capa a obra de um
artista convidado. Brinda-nos nesta oportunidade, o artista plástico
rondonopolitano Wander Melo, com sua tela Pedágio dos Terenas. A obra
escolhida de Melo é um nítido exemplo de como a arte, quando o artista
se propõe a pensar, pode traduzir sob outra perspectiva o movimento
histórico vivido.
Durante o período de preparação deste volume, ocorreu o falecimento
da Profª. Drª. Déa Ribeiro Fenelon, da PUC-SP. Pelas suas muitas
contribuições ao fazer histórico enquanto docente, orientadora de pesquisas
e intelectual preocupada com uma postura crítica permanente,
decidimos prestar-lhe uma homenagem, dedicando-lhe esta edição.
Sua dedicação continua a ser exemplo de que as inúmeras dificuldades
inerentes a um momento histórico em que aparências valem mais do
que essências não significam que as possibilidades de atuação e transformação
estão inviabilizadas.
E, para lembrar E. P. Thompson, autor tornado conhecido entre
nós, com significativa contribuição da Profª. Déa, é em suas atuações
no cotidiano que os sujeitos vão encontrando as formas que permitemlhes
experiências transformadoras, enfrentando desafios e construindo
perspectivas.
Prof. Dr. Adilson José Francisco
Prof. Ms. Luciano Carneiro Alves
Comissão Editorial -
Coletâneas do Nosso Tempo
v. 8 n. 08 (7)Editorial
Produção acadêmica em nosso país é um desafio. E, da
mesma forma, tornar público seus resultados. A divulgação
das reflexões e idéias construídas com esta produção deve
ser um compromisso das instituições de ensino brasileiras.
Embora não se negue a importância disto, as dificuldades
para que os periódicos científicos sejam viabilizados são
muito grandes. Daí porque a cada número publicado a
enorme satisfação de todos os envolvidos na empreitada.
Coletânea do Nosso Tempo é a contribuição do Departamento de História
da UFMT - Campus Rondonópolis para que o desafio da divulgação
do conhecimento seja vencido na região sul de Mato Grosso. Este oitavo
número é mais um passo em direção ao objetivo de consolidar o
periódico como referência na área de ciências humanas na região e no
estado, apresentando textos de professores e alunos da UFMT em conjunto
aos de membros de outras instituições, ampliando a abrangência
do debate acadêmico.
Em oito artigos e três resenhas, temos um painel no qual os assuntos
relativos à História são destaque, sem, no entanto, abrir mão das
temáticas interdisciplinares, uma premissa da revista. A começar pela
educação, tema de João Edson de Arruda Fanaia em “História, Saber
Acadêmico e Saber Escolar: Um Diálogo Possível?”. Ao responder a
questão que propõe, Fanaia nos ajuda a pensar como enfrentar o desafio
de fazer chegar às nossas escolas o conhecimento presente nas universidades,
diminuindo a distância lacunar existente entre o conhecimento
acadêmico e a educação básica.
Outra preocupação comum aos autores é a relação entre indivíduos
e sua coletividade. Em quatro textos, são privilegiadas as ações de algum
personagem em seu respectivo momento histórico, singularizando-os.
No primeiro deles, um artista plástico cuiabano é escolhido por Laudenir
Antonio Gonçalves em “Jonas Barros: O Olhar Perspicaz de Um
Sertanejo” para comentar o caráter experimental que a produção estética
assume em um contexto no qual a inventividade torna-se elemento
privilegiado de expressão, dada a saturação imagética da contemporaneidade.
O tempo presente é o momento pensado também por Mariano David
Fabris ao tratar das relações entre a Igreja Católica e o Estado quando se
dedica a analisar a legislação sobre o divórcio em “La Iglesia Católica y
el Retorno Democrático. Un Análisis del Conflicto Político-Eclesiástico
en Relación a la Sanción del Divorcio Vincular en Argentina”. Fabris
mostra que a separação entre poder clerical e poder político ainda hoje
não significa que a Igreja tenha perdido a capacidade de influenciar os
atos legislativos.
Voltando alguns séculos, Celso Silva Fonseca nos convida em “D.
João II (1481-1495): A Construção da Autoridade Jurídica do Monarca”
a conhecer as estratégias de D. João II em finais do século XV para
consolidar seu poder, por meio de mudanças nas ordenações jurídicas
portuguesas que lhe permitiram maior força decisória enquanto limitava
ação dos nobres sobre seu governo. Um aumento da autoridade real que
já sinalizava a centralidade monárquica que marcará os reinos europeus
entre os séculos XVI e XVIII.
É a este século XVIII, mas no contexto brasileiro e mato-grossense,
que nos conduz Loiva Canova em “Antônio Rolim de Moura: um
ilustrado na capitania de Mato Grosso” para tratar de sua missão em
ajudar à Coroa Portuguesa no alargamento das fronteiras de sua colônia
americana. Recompondo aspectos do cotidiano deste homem culto,
além de oferecer mostras das dificuldades enfrentadas pelos europeus
permite-nos perceber o quão frágil era a presença do poder régio nas
distantes terras do Mato Grosso naquele momento.
O cotidiano, desta vez da luta nas regiões ervateiras do sul do Brasil,
volta à cena com Cristiano Luis Christillino no artigo “O Mato Rebelde:
A Resistência do Homem Livre e Pobre Frente ao Avanço da Colonização
no Rio Grande do Sul”. Em um momento, segunda metade do
século XIX, no qual a dinâmica de colonização passava por mudanças,
trabalhadores das plantações de erva-mate resistiram às tentativas de
expulsá-los para novas regiões de colonização.
Os ventos da modernidade que se insinuavam em terras gaúchas
provinham da Europa. Paris era um dos centros a partir do qual novos
modos de viver e ordenar o mundo eram definidos. Charles Baudelaire
não seguiu o coro dos entusiastas de então e expressou isto em sua
poesia. Seu incomodo com a França da segunda metade do século XIX
é o que nos apresenta Marcos Antonio de Menezes.
Baudelaire com suas críticas ao modelo de cidade e sociedade que
eram forjadas na França problematizava algo que torna-se patente no
século XX: a demarcação das fronteiras no espaço urbano, cada vez
mais racionalizado para que possa dar maior fluidez para a circulação
de pessoas e mercadorias. Em “Segregação Sócio-Espacial: Alguns
Conceitos e Análises” Silvo Negri nos apresenta um panorama das
perspectivas teóricas que pensaram as formas assumidas pela exclusão
no ordenamento das cidades.
Além dos artigos, Coletâneas do Nosso Tempo neste número retoma
a publicação de resenhas. Na primeira, escrita por Natália da Costa
Amedi e Renilson Rosa Ribeiro, a obra em destaque é História. a arte de
inventar o passado, de Durval Muniz de Albuquerque, na qual estão reunidos
ensaios sobre a Teoria da História, particularmente as diferentes
maneiras de se construir as interpretações sobre o passado, e a obra de
Michel Foucault.
A arte de encenar histórias é o objeto da coletânea A História Invade a
Cena de Alcides Freire Ramos, Rosangela Patriota e Fernando Peixoto.
Renan Fernandes, em seu comentário, indica como os textos, a partir do
teatro, discutem a relação arte e sociedade rompendo com a perspectiva
tradicional que vê as práticas culturais como “reflexo” das conjunturas
política e econômica.
Fechando este volume, Adilson José Francisco nos apresenta Movimentos
Sociais em Mato Grosso: Desafios e Conquistas (1974-1989) de Laci
Maria Araújo Alves. Versão em livro da tese de doutoramento da autora,
o que somos convidados a conhecer são traços da memória de pessoas
que se organizaram em clubes de mães, associações de moradores e
comunidades eclesiais de base para fazerem valer seus direitos e projetos
em meio ao rápido processo de modernização do Mato Grosso, marcado
pelo privilégio às elites.
Todos estes textos podem ser agora tornados públicos em função
do trabalho de muitas pessoas e dos apoios oferecidos pela Editora da
UFMT e da FAPEMAT (Fundação de Amparo à Pesquisa de Mato Grosso),
responsáveis pelos recursos financeiros para a edição da revista.
Devemos também um agradecimento especial ao artista rondonopolitano
Zé Côca, que prontamente nos emprestou sua obra “Palhaço
Mato-Grossense” para a capa da revista. O contraste entre as cores e
a expressão triste da imagem é um instigante contra-discurso à festiva
visão sobre o desenvolvimento em Mato Grosso.
Uma boa leitura a todos!!!!
Os Editores